Jáder Sampaio — Qual foi a trajetória de Peralva no movimento espírita mineiro?
Geraldo Lemos Neto — Peralva transferiu residência de Aracaju para Belo Horizonte em 1949, sendo recebido de braços abertos por Virgílio Pedro de Almeida e Chico Xavier, em Pedro Leopoldo. Inicialmente, se juntou a Chico Xavier, Neném Aluotto, Arnaldo Rocha e Zeca Machado, num grupo de estudos e reuniões mediúnicas chamado Nina Arueira. No mesmo período, passou a participar de reuniões de estudo do Evangelho e da mediunidade no Centro Espírita Célia Xavier. Quanto podia, visitava o médium Chico Xavier em suas reuniões costumeiras no Centro Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo, de quem se tornou profundo admirador e amigo pessoal. Foi a partir daí que passou a visitar a Colônia Santa Isabel, de irmãos hansenianos, onde levava calor humano, assistência espiritual e material. Fundou, à essa mesma época, a Cantina Espírita Francisco de Assis, que distribuía semanalmente mantimentos para famílias carentes, previamente cadastradas. Essa atividade cresceu até ser construído um galpão na Vila dos Marmiteiros, onde passou a oferecer suculenta sopa aos mais necessitados. Desapropriados pela Prefeitura de Belo Horizonte, a atividade foi então transferida à União Espírita Mineira, com a instalação da tarefa assistencial às mães desvalidas, aos sábados pela manhã. A Cantina Francisco de Assis era também a responsável pela distribuição natalina de cerca de 1.000 cestas básicas para as famílias carentes. Durante esse período, escreveu o hino do Colégio O Precursor, educandário da UEM. A partir daí, foi membro do Conselho Geral e secretário do Abrigo Jesus, sócio efetivo do Hospital André Luiz e segundo secretário do Centro Espírita Luz, Amor e Caridade, aproveitando ainda as horas vagas para abastecer a imprensa espírita e a leiga com seus artigos evangélico-doutrinários. Participou por 15 anos ininterruptos das atividades do Centro Espírita Célia Xavier para, então, fixar-se, em 1964, na UEM, onde permaneceu ao longo do tempo exercendo diversos encargos como primeiro secretário, diretor do Departamento de Doutrina e Divulgação, vice-presidente e presidente interino. Lá dirigia as atividades de estudos, realizadas aos sábados, e também responsabilizou-se como jornalista e editor- chefe do periódico da casa, O Espírita Mineiro. Foi também mentor das atividades da Mocidade Espírita O Precursor por largos anos. Aproveitando as suas qualidades de oratória, sempre colaborou com alegria na difusão dos ensinos espíritas pelo interior de Minas Gerais, levando a sua palavra inspirada também a outros estados. Foi o secretário executivo do Conselho Federativo Espírita de Minas Gerais - Cofemg - e representante da UEM junto ao Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira. Escreveu artigos espíritas para a Revista O Reformador, da FEB, bem como manteve uma coluna quinzenal no jornal Estado de Minas. Pela FEB, lançou os livros Estudando o Evangelho, Estudando a mediunidade, Mediunidade e evolução e O pensamento de Emmanuel. Pela UEM, lançou o livro Mensageiros do bem, que estuda o livro de André Luiz | Chico Xavier Os mensageiros, e agora, postumamente, está lançando pelo Vinha de Luz o livro Evangelho Puro, Puro Evangelho — Na direção do Infinito.
Jáder Sampaio — Peralva tinha uma amizade e uma parceria de trabalho com a única presidenta da UEM, D.Maria Philomena Aluotto Berutto. Você poderia explicar essa afinidade espiritual entre os dois?
Geraldo Lemos Neto — A afinidade entre ambos sempre foi a afinidade das almas irmanadas no ideal de servir à causa do Evangelho de Jesus, redivivo agora pelas bênçãos do Consolador prometido pelo Cristo, que é a Doutrina dos Espíritos. Por quase um quarto de século, tive a alegria e a honra de conviver com essa "dupla dinâmica" — como costumava brincar com eles —, aprendendo a reconhecer, em cada qual, a medida exata da ponderação e do equilíbrio, do comedimento e da perseverança, da tenacidade e da esperança, na certeza de que Jesus, nosso divino Mestre, é que está no leme de nosso barco planetário.
Jáder Sampaio — Peralva foi uma pessoa muito próxima de Chico Xavier. Há uma influência da obra psicografada pelo médium mineiro em seus escritos? Que outros autores influenciaram o seu texto?
Geraldo Lemos Neto — Sem dúvida alguma que sim. A obra psicográfica de Chico Xavier, notadamente os escritos de Emmanuel e de André Luiz, foram a fonte cristalina e pura de onde Martins Peralva se nutria espiritualmente para escrever os seus artigos, textos e livros de elevada inspiração. Não somente a obra psicográfica de Chico Xavier, contudo, foi sua fonte, mas também, e principalmente, os exemplos de amor e de renúncia que o medianeiro de Pedro Leopoldo lhe oferecia à observação percuciente e lúcida. Chico Xavier, para Martins Peralva, sempre foi um apóstolo de Jesus, exemplo de dedicação à causa espírita, que haveria de ser seguido séculos afora. Obviamente que Peralva também se nutria das obras básicas da codificação espírita, pelos escritos iluminados de Allan Kardec e pelas comoventes narrativas dos Evangelhos. De modo que podemos dizer que a obra de Peralva se baseia neste tripé: Jesus, Kardec e Emmanuel (compreendendo-se Emmanuel como o representante da pleiade de espíritos do Senhor, que se manifestou pelas mãos de Chico Xavier).
Jáder Sampaio — Como surgiu a ideia de lançar um novo livro de Martins Peralva?
Geraldo Lemos Neto — Desde os últimos anos de vida terrestre de Martins Peralva conversava com ele e com seus filhos sobre a possibilidade de editarmos um livro que contivesse os artigos escritos por ele e ainda inéditos, em termos editoriais. Ficou o meu compromisso com ele nesse sentido, e após a sua desencarnação os filhos de Peralva, Iêda, Basílio e Alcione, me procuraram, oferecendo-me o material para compor o livro em questão.
Jáder Sampaio — Os livros anteriores de Peralva, publicados pela FEB, remetem o leitor à análise da obra de André Luiz e de Emmanuel, especialmente Estudando a mediunidade e Estudando o Evangelho. Qual é a proposta desse novo livro?
Geraldo Lemos Neto — Nossa proposta é oferecer esse rico manancial de inspiração evangélica e doutrinária para reflexão de nosso movimento espírita. Além disso, o livro, por suas próprias características, é um exemplar imprescindível para ser utilizado no culto do Evangelho no lar dos espíritas, ou mesmo como roteiro seguro à proposição de um ciclo de estudos doutrinários em nossas casas espíritas.
Jáder Sampaio — Qual é a contribuição do livro Evangelho puro, puro Evangelho — Na direção do Infinito para o movimento espírita?
Geraldo Lemos Neto — Contribuir para que nos amemos mais uns aos outros. Fornecer inspiração para que não nos desviemos em contendas inúteis e nos fixemos no que é realmente essencial. Oferecer um roteiro de equilibrada inspiração superior, vacinando-nos contra os pruridos de vaidade e ilusão que andam permeando as atividades de nosso movimento organizado.
Jáder Sampaio — Há alguma curiosidade digna de nota sobre a edição do livro?
Geraldo Lemos Neto — Sim. Recentemente, a família de Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, nos entregou um vasto material de propriedade do querido médium e amigo, e lá encontramos o esquema de estudos que Martins Peralva preparou para as reuniões do Centro Espírita Célia Xavier, em torno do livro Mecanismos da mediunidade, de André Luiz | Chico Xavier. Naturalmente que Peralva ofereceu-o ao Chico e este, com todo o carinho, cuidado e atenção guardou-o para a posteridade, de modo que hoje pudemos oferecê-lo ao público espírita. Há também algumas fotografias de Peralva com Chico Xavier e Dona Neném Aluotto, como também a foto de sua velha máquina de escrever. Terminamos o livro com algumas mensagens psicografadas, demonstrando a continuidade da vida além-túmulo. A primeira delas, do pai de Peralva, Basílio Martins Peralva, que a grafou aos familiares queridos uma hora antes da partida de Peralva para a vida espiritual. E as demais do próprio Peralva, consolando os familiares e dedicando-lhes textos em louvor a Jesus e a Kardec.
Jáder Sampaio — Que contribuição Peralva deixou, através de suas ações, aos espíritas de Minas Gerais e do Brasil?
Geraldo Lemos Neto — A contribuição de um verdadeiro espírita e homem de bem. Uma vez, conversando animadamente com o médium Chico Xavier em Uberaba, Chico nos revelava algumas curiosidades do passado espiritual de Martins Peralva e, rindo-se muito, concluiu: "Geraldinho, se existe um homem santo na face da Terra, esse homem é Peralva!" Certamente que Chico fazia uma curiosa brincadeira, ao mesmo tempo se referindo a uma anterior encarnação de Martins Peralva, em que ele fora considerado "santo" da Igreja Católica, e também se referindo à ética e à correção com que o nosso estimado Peralva sempre pautou a própria vida, deixando para todos nós um exemplo de dedicação à causa do Evangelho de Jesus e da Doutrina dos Espíritos. Um exemplo de homem de bem, a ser seguido por todos os adeptos da Terceira Revelação.