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Notícia

Focalizando o trabalhador espírita – Cintia Alves da Silva


Nossa entrevista deste sábado focaliza a professora e pesquisadora Cintia Alves da Silva, doutoranda em Linguística e  Língua  Portuguesa  pela  Unesp de Araraquara, SP. No mês de março de 2012, Cintia defendeu sua dissertação de mestrado intitulada “As cartas de Chico Xavier: uma análise semiótica” no Anfiteatro C da Unesp/FCLAr. É espírita desde os 14 anos e está vinculada presentemente à Casa do Caminho, na cidade de São Carlos, SP.
 
Cintia pode nos fazer sua autoapresentação?
 
Nasci em São Carlos, SP, no ano de 1982. Tenho dois irmãos, Bruna (25) e Salvatore (11). Minha família é católica, por tradição, embora, atualmente, boa parte seja constituída de não praticantes. Sou casada há quase dois anos com Rodrigo Cabrera, que é jornalista e também trabalhador espírita.
 
Qual a sua formação acadêmica e profissional?
 
Sou doutoranda e mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus de Araraquara, SP. Licenciei-me em Letras/Inglês pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 2006. Minhas pesquisas se inserem na área de Semiótica e incluem temas como práticas semióticas, psicografia (escrita mediúnica), éthos, gênero epistolar. Atualmente, sou membro de dois grupos de pesquisa: o Grupo CASA - Cadernos de Semiótica Aplicada (FCLAr/Unesp) e o Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação (FAAC/Unesp). Antes de me dedicar à pesquisa acadêmica, trabalhei no ensino de língua inglesa durante seis anos.
 
Como você conheceu o Espiritismo e desde quando é espírita?
 
Conheci o Espiritismo por meio de uma amiga do colégio Jesuíno de Arruda, Giseli de Paula, quando eu ainda tinha 14 anos. Foi ela quem me emprestou um exemplar de "Violetas na janela". Depois disso, sua mãe, Aparecida de Fátima, presenteou-me com o meu primeiro "O Evangelho segundo o Espiritismo". Serei eternamente grata a elas por me apresentarem a Doutrina Espírita!
 
Qual casa espírita você frequenta presentemente?
 
Frequento a Casa do Caminho Instituição Espírita Cristão, de São Carlos, SP.
 
Pode nos fazer uma súmula de sua trajetória pelo movimento espírita durante esses anos? (tudo: na Evangelização, Mocidade, na tribuna, nos trabalhos de assistência e promoção, etc.)
 
Desde a minha adolescência, lia muitos livros espíritas. No entanto, só me vinculei a um centro espírita no final de 2007. Em 2008, iniciei o COEM (Curso de Orientação e Educação Mediúnica) na Casa do Caminho, passando a participar também das promoções da instituição, com a produção e venda de feijoadas, pizzas, etc., em benefício da Creche Meimei. Fiz muitos amigos lá e peguei gosto pelas atividades da casa. Foi em outubro de 2008, aliás, que iniciei, informalmente, a minha pesquisa sobre as cartas de Chico Xavier. Ao terminar o COEM, em 2009, tornei-me voluntária no curso, auxiliando o Sr. Roque Rodrigues, dirigente do grupo, na preparação das aulas e, posteriormente, como assistente de doutrinação. Em janeiro desse mesmo ano, meu marido e eu criamos o site Casa do Caminho Online (www.casadocaminhosc.org), que atualizamos semanalmente. O site tem como objetivo a divulgação de artigos e livros espíritas, além de mensagens psicografadas e notícias do movimento espírita de São Carlos e região. Atualmente, participo também do GEAM – Grupo de Estudos Avançados da Mediunidade (www.geamcasa.blogspot.com.br), que iniciou suas atividades em junho de 2011 e tem o objetivo de abrir espaço para o estudo de obras espíritas e pesquisas científicas sobre a mediunidade.
 
Cintia, acompanhamos os preparativos de sua defesa de mestrado defendida no último dia 8 de março. No que ela consistiu?
 
A minha pesquisa de mestrado é intitulada "As cartas de Chico Xavier: uma análise semiótica". Seu objetivo principal foi o de compreender como se dá o processo de construção das autorias espirituais (ou “imagens” de enunciador) nas cartas “familiares” ou “consoladoras” de Chico Xavier. O estudo também pretendeu demonstrar como é possível caracterizar as cartas psicográficas enquanto um tipo de texto em particular, diferente dos textos epistolares “típicos”. Além de se configurar como um gênero, tais cartas traçam um percurso editorial bastante peculiar, que possibilita que elas sejam compreendidas em outros contextos além do centro espírita, onde é produzida. O córpus analisado foi composto de dez cartas psicografadas, publicadas entre os anos de 1974 e 1980, e atribuídas a três autores: Augusto César Netto, Jair Presente e Laurinho Basile. Nelas, buscamos observar as recorrências presentes nos textos atribuídos a cada autor: o vocabulário empregado, os temas abordados, suas buscas e paixões, a coerência narrativa estabelecida ao longo de uma sequência de cartas, etc. Esse estudo nos permitiu observar diferenças discretas, mas significativas, entre os autores espirituais e, sobretudo, similaridades bastante marcantes entre eles. Ao fim da pesquisa, pudemos constatar que, nas cartas psicográficas, delineia-se uma imagem (éthos) dual, ambígua, de enunciador: o éthos doutrinário (vinculado à imagem do médium) em articulação com o éthos do jovem, como duas identidades que se revezam na tarefa de comunicar, ora alternando-se, ora sobrepondo-se uma à outra.
 
O porquê da escolha desse tema.
 
A psicografia como processo de escrita sempre me intrigou muito. Mas só a partir de 2008, quando tive contato com um recorte de jornal que comentava sobre a existência da AJE-SP (Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo) e sobre a possibilidade do uso de cartas psicografadas na justiça, passei a buscar informações sobre os casos que envolviam a escrita mediúnica de Chico Xavier. O que era somente um hobby, inicialmente, tornou-se tema da minha pesquisa de mestrado entre os anos de 2009 e 2010.
 
Como foi e quanto tempo demandou a preparação do seu trabalho?
 
Meu trabalho teve início em outubro de 2008 e, informalmente, foi sendo desenvolvido enquanto eu cursava disciplinas como aluna especial, na Unesp, no ano de 2009. Quando ingressei como aluna regular do programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa, em 2010, eu já tinha um projeto mais ou menos bem definido, mas que se apurou e tomou proporções bem maiores sob a orientação do prof. Dr. Jean Cristtus Portela. Em um período de 4 anos, o trabalho passou de “vaga ideia” a uma dissertação de mestrado estruturada, que deu origem à minha pesquisa de doutorado, sobre a escrita psicográfica, a ser abordada de modo mais amplo (sem se restringir a um gênero textual/discursivo específico).
 
Você encontrou resistência para tratar desse assunto?
 
Por mais incrível que possa parecer, não. Pelo contrário, desde o primeiro contato com os professores da Unesp, foi-me dito que o tema era interessante e relevante academicamente pela importância editorial e cultural da escrita psicográfica no Brasil.
 
O seu orientador era espírita?
 
Não, o meu professor orientador é agnóstico.
 
O que diria para alguém que pretenda desenvolver teses com temática espírita, seja em mestrado, doutorado ou especialização?
 
Creio que o mais importante quando se decide realizar uma pesquisa acadêmica de temática espírita é manter em mente que só se pode contribuir com a ciência e com o Espiritismo a partir de um posicionamento racional e não proselitista. O fazer científico exige rigor, método e uma necessária isenção. É essencial, portanto, que se faça um exercício de distanciamento, sem o qual se pode pôr a perder, por vezes, uma excelente pesquisa. Como dizia Richet, “É necessário ser tão audacioso na hipótese como rigoroso na experimentação”. E que os dados falem por si.
 
A sua dissertação já está disponível em algum link? Qual?
 
Por enquanto ainda não está disponível para download, mas o arquivo poderá ser acessado no banco de teses da Unesp em, aproximadamente, dois meses.
 
Algo mais que queira acrescentar?
 
Como a defesa pública foi filmada, os interessados poderão assistir o vídeo no link que disponibilizarei, no meu blog (www.cartasdechicoxavier.blogspot.com).
 
As suas despedidas dos nossos leitores.
 
Bem, espero que o meu trabalho possa contribuir, de alguma forma, para os estudos linguísticos e semióticos dos textos psicografados, e, ainda, para o Espiritismo, na apresentação de um panorama sobre a psicografia de cartas familiares no Brasil. Agradeço aos leitores pela atenção e me despeço desejando muita paz e luz a todos!



Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Ismael Gobbo | SP
14/05/2012
 


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