Num sábado de 1980 Recordamo-nos bem. Foi num sábado passado. Como sempre, uma multidão aguardava-o à sombra do abacateiro. Alguns amigos estavam ocupados preparando os víveres que seriam repartidos a instantes. Ao chegar, Chico é recebido com aplausos. Desconcerta-se... A reunião tem início. Os companheiros são convidados aos comentários. Alguém, no entanto, toma a palavra e começa a falar. Identifica-se como sendo representante da Câmara Municipal de Casa Branca, Estado de São Paulo. Ali estava para entregar ao Sr. Francisco Cândido Xavier o título de cidadão daquela cidade. De fato,Casa Branca há muito conferia ao Chico o referido laurel, porém, devido a problemas de saúde, ele não fixara a data em que pudesse ir àsimpática cidade para receber, em nome dos espíritas, a homenagem. E o vereador falava, empolgado: “... como o nosso Chico não pode ir à Casa Branca vimos até ele”. Tecia elogios e mais elogios. Exaltava, diga-se de passagem com muita justiça, a figura de Chico Xavier, afirmando ter sido ele, em outras vidas, a jovem Flávia, filha do senador Públio Lentulus... Chico permanecia calado, olhos fixos no chão, movimentando a cabeça como se estivesse a dizer para si mesmo: “Não, não”. Inflamado, o vereador continuava... Colocou o Chico no mesmo nível de Emmanuel... Nesse momento, Chico cochicha algo com o Sr. Weaker e este dá um discreto sinal para que o companheiro que falava encerrasse o seu pronunciamento. Tomando, agora, a palavra, Chico começa a falar e... a chorar. Pena que, naquela oportunidade, não tivéssemos um gravador acionado. Chico fala, muito emocionado, de suas imperfeições, de seus deslizes, de suas lutas. Diz que queria deixar bem claro para a posteridade que ele não era a reencarnação de Flávia, a filha de Emmanuel em outras eras, que ele nem mesmo pertencia à faixa evolutiva de Emmanuel... Todos choram, até mesmo o bailado das folhas do abacateiro, às flautas do vento, cessa... Chico, enxugando as lágrimas, falou que Emmanuel nunca lhe permitira qualquer intimidade, que ele agradecia aos espíritos amigos por terem-no permitido servir na mediunidade, através da qual ressarcia as suas dívidas, e que se felicitava apenas dos muitos amigos que o Espiritismo lhe proporcionava. Agradecendo aos amigos de Casa Branca, pedia permissão para recusar, ali, a entrega do título, pois seria uma falta de respeito para com a comunidade daquela cidade e que quando pudesse iria pessoalmente recebê-lo, a fim de agradecer a generosidade dos corações amigos e abnegados que homenagearam a Doutrina Espírita em sua pessoa... Num clima de grande emotividade, em que cada um de nós avaliávamos melhor a grandeza de Chico Xavier, encerrou-se a reunião com uma prece. E o Chico foi distribuir com os necessitados o pão e o sorriso, a roupa e a esperança, em nome do Senhor. Ele cumprimentava, um por um, “os filhos do Calvário”, chamando-os pelo nome, perguntando-lhes pela família, beijando-lhes as mãos...
____________________ Extraído do livro “Chico Xavier à sombra do abacateiro” | Carlos A. Baccelli | Editora Ideal | São Paulo - SP | p. 8-9
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora
11/12/2012
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