"Em nossa peregrinação de Natal, na companhia de Chico [Xavier], visitávamos cerca de dez, quinze casas nos diferentes bairros de Uberaba. Seguindo à frente, com Eurípedes Higino, os demais carros iam acompanhando o carro que transportava Chico pelas ruas escuras e esburacadas, vencendo, não raro, fortes enxurradas e lamaçal.
Numa das casas que, anualmente, visitávamos, nos deparávamos com um jovem, com os seus quase trinta de idade, em cima de uma cama. A situação dele era precária. Forte, pesado, não caminhava e vivia deitado, alheio ao que se passava à sua volta.
Enquanto alguém deixava uma cesta básica na cozinha da família, bolos de Natal, pães e doces, Chico se encaminhava para o quarto estreito e, compadecido, ficava observando o rapaz em rude provação. O doente exibia calos nos punhos de ambas as mãos e na cabeça, principalmente na região da fronte. É que ele vivia esmurrando a si mesmo, ou batendo com a cabeça na parede!
Em uma de nossas visitas, quando saímos, Chico elucidou o quadro:
- Ele foi um estrategista militar durante a guerra... Era muito inteligente e articulava planos de execução em massa dos inimigos. Como caiu pela inteligência, vive se recriminando, através dos murros que desfere na própria cabeça.
- Não seria, então, o caso, Chico, - alguém perguntou – de promover-se uma reunião de desobsessão para auxiliá-lo? Ele deve viver atormentado por muitos espíritos obsessores... Talvez uma equipe de médiuns, se revezando em visitas a ele?...
Chico escutou a argumentação e respondeu baixinho:
- Não, meu filho. Por enquanto, eu acho que ele está mais necessitado mesmo é de alguns lençóis...
É que a família pobre não conseguia ter lençóis em número suficiente para que o leito do rapaz se mantivesse sempre limpo – era ali que ele fazia todas as suas necessidades fisiológicas, porque ninguém tinha força para levá-lo ao banheiro, que ficava lá fora, no quintal!
E Chico acrescentou:
- Como ele se encontra, já está no caminho da cura... A doença é o remédio de que ele precisa. Os espíritos obsessores, depois de terem feito o que queriam, já o largaram. Agora a tarefa é de Jesus, através de algum de nós que se disponha a ajudar...
Embora bem intencionado, vejamos o olhar do moralista espírita sobre a questão, que, naquele momento, era muito mais de caridade a ser posta em prática que de doutrinação espiritual. Muitos de nós, infelizmente, somos assim: vemos obsessão onde o problema, às vezes, é de extrema carência material!"
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Do livro "Chico Xavier - O médium dos pés descalços" | Carlos A. Baccelli | Vinha de Luz Editora | 2011
Enviado por Antônio Fontana | Fernando Peron | Projeto Saber e Mudar | 1 de janeiro de 2013
07/01/2013
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