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Notícia

Homenagem ao filho ilustre


Impressiona a semelhança do ator Nelson Xavier, que interpreta Chico Xavier na fase adulta

Depois de concorrida pré-estreia em Uberaba, na sexta-feira, sábado à noite, no auditório completamente lotado da Fazenda Modelo Lanagro, foi a vez de o povo de Pedro Leopoldo, na Grande Belo Horizonte, ver e aplaudir Chico Xavier, filme de Daniel Filho. O longa narra a vida e a obra do filho mais ilustre da cidade, que nasceu em 1910 e se tornou um dos homens mais amados do Brasil. Baseada no livro As vidas de Chico Xavier (Editora Planeta), do jornalista Marcel Souto Maior, a obra, com duração de duas horas, tem no elenco time de primeira encabeçado por Nelson Xavier, que interpreta o médium em sua fase adulta, e Ângelo Antônio, que mostra Chico quando jovem. O ator Matheus Costa, selecionado entre mais de 300 candidatos, é o Chico menino. Ainda na tela, Tony Ramos, Christiani Torloni, Giulia Gam e Letícia Sabatella. São nada menos que 135 atores, que se dividiram em cerca de 90 locações (a maioria em Tiradentes). A trilha sonora tem a assinatura de Egberto Gismont e o diretor de teatro Carlos Alberto Ratton colaborou no roteiro, reescrevendo os diálogos da fase mineira. Fez trabalho primoroso, na avaliação de Daniel Filho. A estreia, em 2 de abril, marca o centenário de nascimento do médium.

Antes do início da sessão, que começou com os atrasos de praxe, Daniel Filho, Ângelo Antônio, Nelson Xavier e Marcel Souto Maior receberam, em meio a um calor intenso e muitos aplausos, títulos de cidadãos honorários de Pedro Leopoldo. Dizendo-se honrado com a homenagem entregue pelo prefeito da cidade, Marcelo Gonçalves, o diretor Daniel Filho confessou, depois de chamar os presentes de “meus conterrâneos”, que a convivência, durante meses, com a vida de Chico Xavier mudou seu jeito de ser e de ver o mundo. “Ele foi um homem que não só pensou, como muitos fazem. Agiu, amou o ser humano e ajudou seus semelhantes. Foi uma pessoa fantástica, que teve uma vida muito rica. Espero que o filme contribua para que os telespectadores saibam um pouco mais sobre esse homem”, disse.

Já Nelson Xavier, cuja semelhança com Chico Xavier no filme impressiona, disse, depois de receber a honraria, que sentiu uma alegria muito grande quando convidado a integrar o elenco. “Espero que tenha correspondido. E se fui muito bem recebido em Uberaba, confesso a vocês que Pedro Leopoldo tocou profundamente meu coração e estou me sentindo muito bem aqui”. Ângelo Antônio, por sua vez, contou que, durante o tempo em que ficou pesquisando sobre a vida de Chico Xavier foi se tornando uma pessoa mais humilde e passou a ver o mundo de maneira diferente, com mais clareza. “Com certeza, alguma coisa mudou dentro de mim depois de fazer esse filme e estou muito contente com tudo isso”, afirmou o ator, mineiro de Curvelo.

Para Marcel Souto Maior, que acaba de lançar Chico Xavier, a história do filme de Daniel Filho (Editora Leya), o médium foi o personagem da sua infância, passada em Araxá: “O fato de ele falar com os mortos me intrigava e ao escrever As vidas de Chico Xavier,o que queria era tentar decifrar esse enigma dos meus tempos de menino”. O lançamento dos livros, que deveria ocorrer depois da exibição do filme, não aconteceu em decorrência do atraso do início das solenidades.

Sorriso aberto

Entre os presentes, com um sorriso aberto, uma pessoa chamava a atenção e todos queriam cumprimentá-la. Era Cidália Xavier, irmã de Chico Xavier. Ao ser perguntada sobre quantos anos tinha, respondeu, com muito bom humor, que eram tantos que até ela mesma já havia se esquecido. “Tenho uma lembrança eterna do Chico. Foi ele quem nos criou. Foi nosso pai, nossa mãe e o que fez por nossa família nunca poderemos pagar. Ele foi uma pessoa especial”, disse Cidália, que, na companhia de um neto e de muitos amigos, permaneceu no local até o fim da exibição do filme.

Para Célia Diniz, diretora do Centro Espírita Luiz Gonzaga, criado por Chico Xavier na década de 1930, em Pedro Leopoldo, com certeza o longa será um divisor de águas na historiografia do médium. “Todos os holofotes do Brasil se viraram para a nossa cidade, redescobrindo que ele nasceu aqui e viveu conosco mais da metade de sua vida, até ir para Uberaba. Todos nós, espíritas e pedroleopoldenses, estamos muito felizes”, afirma Célia, que conviveu com Chico Xavier desde a infância, e hoje é sua fiel seguidora. Ruth Perácio, que também foi prestigiar o lançamento do filme, contou ter sido na fazenda de seu pai, José Hermínio Perácio, em Curvelo, que Chico Xavier descobriu sua mediunidade, na década de 1920, depois de ter tido contato com o médium Pascoal Camanducci. “Ele estava cuidando de uma irmã de Chico, que tinha problemas emocionais, e ele foi lá com o pai, João Cândido. Nossa amizade, durante toda a vida, foi muito grande. Tenho mais de 140 cartas dele. Nunca vi Chico Xavier de mau humor”, disse.

Imagem resgatada

Poucos minutos depois do início da exibição do filme, um silêncio intenso, quebrado apenas por alguma tosse ou ruído das cadeiras, foi tomando conta do auditório da Fazenda Lanagro. Muitos dos que se encontravam na plateia, como Cidália Xavier, Ruth Perácio e Célia Diniz, além das amigas Dorinha Cardoso e Auxiliadora Bahia, haviam convivido com Chico Xavier. Cada uma dessas pessoas, a seu modo, guardava lembranças do médium, que deixou mais de 400 livros psicografados, com milhões de exemplares vendidos. Para elas, pode ser que o filme de Daniel Filho não tenha trazido muitas novidades. Mas para os jovens que pouco sabem sobre o médium, as duas horas do longa, com momentos emocionantes, certamente vão esclarecer muitas coisas.

A obra começa com Chico tendo suas primeiras manifestações. Em seguida, mostra sua ida para Uberaba, onde abre a Casa da Prece. Tudo isso é entremeado por sua participação num programa de TV, o Pinga-fogo. A psicóloga Rafaela Dias, neta de Ruth Perácio, mostrou-se encantada: “Infelizmente, não conheci Chico Xavier e com certeza o filme foi muito fiel ao retratar a sua vida”. Já para Mércia Duarte, terapeuta ocupacional, o longa foi muito esclarecedor. “Chico era uma pessoa muito próxima de todos nós em Pedro Leopoldo. Mas o conhecíamos pouco. Só depois que ele se mudou para Uberaba passou a ser valorizado aqui. Acho que o longa resgata a sua imagem”, diz. Para seu pai, Edson Jorge, de 81 anos, o médium tornou-se alguém especial. “Gostei muito da história, que retrata direitinho quem ele foi. Chico era meu amigo. Sou dono do Cine Marajá, que será reaberto em breve e era muito frequentado por ele. E o mais incrível de tudo isso foi que, tantos anos depois, sua própria vida acabaria sendo transformada em um filme”, disse.

Estado de Minas | Caderno EM CULTURA | 15-03-10 | Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz - Serviço Editorial
15/03/2010
 


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