Por Julio Fernando Prieto Peres,*Alexander Moreira-Almeida, Leonardo Caixeta, Frederico Leão e Andrew Newberg
Um estudo inédito realizado por cientistas do Brasil e dos Estados
Unidos investigou o cérebro de médiuns brasileiros com prática em
psicografia (capacidade de escrever mensagens que seriam ditadas por
espíritos) durante o estado de transe e também fora dele. Os
pesquisadores usaram modernas técnicas e equipamentos de última geração
para examinar a questionável e controversa experiência de comunicação
com os mortos. A discussão indica que o cérebro dos submetidos à análise
funciona de modo diferente. O fato de que os indivíduos escreveram
conteúdos complexos, apesar de menor ativação cerebral em estado de
transe dissociativo, sugere que eles não estavam só relaxados, e o
relaxamento parece uma explicação improvável para a subativação que se
verificou em áreas cerebrais relacionadas ao processamento cognitivo.
No entanto, afirmam os pesquisadores, esses achados merecem mais
investigação, tanto em termos de replicação como de hipóteses
explicativas. Participaram da pesquisa, realizada na cidade da
Filadélfia, nos Estados Unidos, os cientistas Julio Peres, Alexander
Moreira-Almeida, Leonardo Caixeta, Frederico Leão e Andrew Newberg. O
artigo, a seguir, foi originalmente publicado na revista PLoS ONE, em 16 de novembro de 2012, que autorizou a publicação, na versão em português, em Inovação!Brasileiros. Para ler o estudo no formato original em inglês, acesse http://www.plosone.org/article/info:doi/10. 1371/journal.pone.0049360.
Neuroimagem durante estado de transe: uma contribuição ao estudo da dissociação
Resumo
Embora a dissociação patológica e não-patológica despertem interesse
crescente, poucos pesquisadores se concentram nas experiências
espirituais envolvendo estados dissociativos como a mediunidade, na qual
um indivíduo (o médium) alega se comunicar com a (ou ser controlado
pela) mente de uma pessoa morta. Investigamos a psicografia – na qual,
supostamente, “o espírito escreve pela mão do médium” – para avaliar
potenciais associações com alterações específicas na atividade cerebral.
Examinamos dez médiuns saudáveis – cinco menos experientes e cinco com
experiência substancial, que variava entre 15 e 47 anos de atividade
psicográfica e realização de duas a 18 psicografias por mês – usando
tomografia computadorizada com emissão de fóton único (SPECT) enquanto
eles escreviam, tanto em estado de transe dissociativo como fora do
transe (no estado habitual de consciência).
A complexidade do conteúdo escrito que os médiuns produziram foi
analisada para cada um deles individualmente e para a amostra como um
todo. Durante a psicografia, em comparação com a escrita em estado
habitual, os médiuns mais experientes apresentaram níveis mais baixos de
atividade no cúlmen esquerdo, hipocampo esquerdo, giro occipital
inferior esquerdo, cíngulo anterior esquerdo, giro temporal superior
direito e giro pré-central direito. A complexidade dos escritos
psicografados foi maior que a dos textos escritos no estado habitual, no
caso da amostra geral e especialmente dos médiuns mais experientes.
O fato de que os indivíduos escreveram conteúdos complexos, apesar de
menor ativação cerebral em estado de transe dissociativo, sugere que
eles não estavam só relaxados, e o relaxamento parece uma explicação
improvável para a subativação que se verificou em áreas cerebrais
relacionadas ao processamento cognitivo. Esses achados merecem mais
investigação, tanto em termos de replicação como de hipóteses
explicativas.
Introdução
A dissociação é definida como a ausência de integração de pensamentos,
sensações e experiências à consciência e à memória [1]. A ideia de que
experiências traumáticas causam sintomas dissociativos é um tema
recorrente na literatura clínica e na literatura sobre neuroimagem, e
alguns dos fenômenos cognitivos associados à dissociação parecem
depender da atenção e respectivo contexto emocional [2], [3]. Embora a
dissociação não patológica seja comum na população em geral, as
experiências dissociativas têm sido estudadas como fator de risco para
patologias [4], [5]. A espiritualidade e a religiosidade são prevalentes
em pacientes com esquizofrenia e sintomas dissociativos [6].
Entretanto, a variedade de aspectos metodológicos e as discrepâncias
entre os estudos realizados até agora tornam difícil articular uma
estrutura abrangente da atividade cerebral e dos mecanismos cognitivos
relativos à dissociação patológica e não patológica. A natureza da mente
e sua relação com o cérebro ainda estão entre as questões mais
desafiadoras para a ciência [7]-[10], e a despeito de tais perguntas não
serem até o momento conclusivamente respondidas, suposições a esse
respeito orientam intervenções terapêuticas [11]-[13]. Este estudo leva
em conta importantes teorias que examinam a criatividade e o
planejamento de conteúdos escritos, potenciais substratos neurais
envolvidos, experiências religiosas e a hipótese da comunicabilidade
espiritual. A Associação Psiquiátrica Americana [14] destacou a
necessidade de realização de mais pesquisas no âmbito da religiosidade
ao reconhecer a categoria não diagnóstica (não patológica) dos
“Problemas Espirituais e Religiosos” no DSM-IV, para que formas de
dissociação saudáveis [15], [16] possam ser diferenciadas das formas
patológicas [2], [5].
A mediunidade, fenômeno espiritual relatado com frequência em
culturas ao longo da história, é definida como experiência na qual o
médium alega manter comunicação com a mente de uma pessoa falecida [17]
ou estar sob controle da mesma. Essas experiências são em geral
dissociativas, com manifestações de automatismo motor, sensorial ou
cognitivo (exemplo: ouvir espíritos, relatar/escrever pensamentos
gerados por espíritos) e de identidade alterada ou de possessão. Assim,
não surpreende que o estudo da mediunidade tenha sido crucial para o
desenvolvimento das ideias sobre os processos inconscientes e/ou
dissociativos. O estudo clássico de Pierre Janet sobre a dissociação, de
1889, examinou vários médiuns; a tese de doutorado de Carl Jung
envolveu um estudo de caso mediúnico, e William James pesquisou a médium
Leonore Piper [18], [19]. Atualmente, a dissociação pode ser dividida
em duas categorias: separação (sentimento de desconexão do “eu” ou do
mundo) e compartimentalização (inabilidade de controlar deliberadamente
ações ou processos cognitivos que normalmente estariam sob controle)
[20]. Embora, por vezes, a mediunidade também envolva separação, em
geral está relacionada ao subtipo compartimentalização.
A psicografia é uma das muitas formas dissociativas da expressão
mediúnica [17]. “Médiuns escreventes” alegam escrever sob a influência
de espíritos e alguns escritos psicografados tiveram impacto em
comunidades em todo o mundo. O mais prolífico e importante médium
psicógrafo brasileiro, Chico Xavier, que não estudou além da escola
primária, produziu mais de 400 livros psicografados, abrangendo uma gama
de gêneros literários e amplas áreas do conhecimento, e milhões de
exemplares foram vendidos, com todos os direitos autorais doados para a
caridade [21], [22].
Um estudo sobre a saúde mental de 115 médiuns [17], [23] mostrou que
os indivíduos tinham alto nível socioeducacional, baixa prevalência de
problemas psiquiátricos e eram socialmente bem ajustados em relação à
população em geral. A experiência mediúnica se mostrou distinta do
transtorno de identidade dissociativa, também conhecido como transtorno
de personalidade múltipla. Contudo, poucos estudos investigaram os
substratos neurais subjacentes aos estados de consciência relacionados a
experiências religiosas [24]-[26]. Um estudo precedente que utilizou a
neuroimagem para estudar a glossolalia – um estado de transe em que há
vocalizações que soam como linguagem, mas não têm estrutura linguística
clara – mostrou que os indivíduos apresentavam atividade reduzida no
núcleo caudado esquerdo e no córtex pré-frontal direito, além de aumento
da atividade nos lobos parietais superiores [25]. A pesquisa
neurofuncional sobre experiências complexas como as de tipo religioso
requer métodos específicos que não afetem adversamente o desempenho dos
voluntários [27].
Portanto, tal como no estudo da glossolalia, o presente estudo
utilizou a tomografia computadorizada com emissão de fóton único (SPECT)
para medir o fluxo sanguíneo cerebral regional (FSCr), correlacionado
com a atividade encefálica. Utilizamos o método SPECT de neuroimagem por
este permitir que os sujeitos desempenhem suas tarefas complexas que
exigem silêncio e concentração num ambiente adequado e livre de efeitos
que possam distrair ou causar ansiedade. Até onde sabemos, o presente
estudo é a primeira investigação mundial sobre a associação entre
estados mediúnicos dissociativos e alterações específicas no fluxo
sanguíneo cerebral.
Com base em pesquisas sobre práticas subjetivas como meditação e
oração, concentramo-nos especialmente no córtex pré-frontal e no giro
cingulado anterior, já que ambos se relacionam com a rede atencional do
cérebro [24], [25]. Além disso, essas áreas se relacionam com a produção
da fala, assim como a Área de Broca. Também encontramos evidência de
que modificações na atividade talâmica em estruturas límbicas, como o
hipocampo e a região temporal superior, relacionam-se a vários processos
cognitivos, incluindo a compreensão da linguagem. O giro pré-central
pode estar envolvido na função motora ligada à escrita. Nossa análise de
hipóteses, assim, concentrou-se nessas regiões.
Estudamos a natureza neurofisiológica da mediunidade dissociativa em
psicografia medida por alterações no fluxo cerebral sanguíneo. Durante a
psicografia, os indivíduos escrevem narrativas estruturadas e legíveis,
mas frequentemente alegam desconhecer o conteúdo ou a estrutura
gramatical do texto escrito. O objetivo do presente estudo foi
determinar se esse tipo de estado de transe dissociativo se relaciona
com alterações específicas na atividade cerebral que sejam distintas das
verificadas quando se escreve normalmente, isto é, fora de um estado de
transe dissociativo. Como o conteúdo das psicografias apresenta
complexidade e planejamento, nossa hipótese a priori era a de que as
áreas envolvidas em processos cognitivos quando se escreve
conscientemente, tais como raciocínio e planejamento de conteúdo,
deveriam mostrar ativação semelhante durante o transe mediúnico.
Métodos
Examinamos dez médiuns brasileiros com 15 a 47 anos de experiência
mediúnica e que produziam de duas a 18 psicografias por mês (tabela 1),
que dividimos em cinco médiuns “menos experientes” e cinco com
“experiência substancial”. Todos os indivíduos eram brancos, destros,
sem transtornos mentais (tabela 2) e não utilizavam drogas
psiquiátricas/neurológicas. O critério usado para classificar os médiuns
como “experientes” foi que tivessem praticado a mediunidade há pelo
menos 20 anos e produzissem no mínimo dez psicografias por mês à época
do início do estudo.
Os dez médiuns eram bem ajustados nos pontos de vista familiar,
social e profissional e regularmente ajudavam pessoas que haviam perdido
entes queridos (tabela 1). Nenhum deles recebia pagamento pela
atividade mediúnica, que consideravam parte de sua missão de auxiliar
pessoas que sofrem. Todos relataram ter tido experiências espirituais na
infância ou adolescência. Os dois grupos apresentaram a mesma idade
média: experientes (48 - 9, 8 anos) e menos experientes (48,6 - 6, 7
anos). Os médiuns “experientes” praticavam a mediunidade havia 37,4 -
8,8 anos, com média de 15,6 - 2,2 experiências de psicografia por mês,
ante os 22,4 - 14,8 e 4,8 - 3, respectivamente, dos médiuns “menos
experientes”.
O número de participantes exigido para determinar o poder estatístico
do estudo baseou-se em pesquisa anterior sobre a glossolalia [25].
Diversas escalas de saúde mental e avaliações qualitativas de
experiências subjetivas foram aplicadas. Sintomas depressivos foram
avaliados com a Escala de Depressão de Beck (BDI) [28]; sintomas de
ansiedade, com utilização da Escala de Ansiedade de Beck (BAI) [28];
transtornos, com o Protocolo para Avaliação Clínica em Neuropsiquiatria
(SCAN) [30]; transtorno de personalidade borderline e histórico de abuso
na infância basearam-se em dados do Protocolo de Entrevista para
Transtornos Dissociativos (DDIS) [31], e patologias psiquiátricas foram
rastreadas com o uso do
Questionário Autoaplicável de Rastreio Psiquiátrico (SRQ) [32] (tabela 2).
Os comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e da
Universidade da Pensilvânia autorizaram o estudo, e todos os
participantes assinaram termos de consentimento.
Procedimentos de neuroimagem
Medimos o fluxo sanguíneo cerebral utilizando SPECT durante a
psicografia (escrita em estado de transe dissociativo) e comparamos os
dados com aqueles coletados durante a escrita em estado habitual de
consciência ou de ausência de transe (tarefa de controle). O ato de
escrever, nos dois casos, realizou-se em ambiente silencioso e com luz
suave, em uma antessala do laboratório de neuroimagem. Pediu-se aos
voluntários que fizessem a psicografia tal como em sua atividade regular
como médiuns. Todos seguiram o mesmo procedimento: sentaram-se
confortavelmente, fecharam os olhos, concentraram-se e fizeram uma
oração. De modo geral, entraram em transe em poucos minutos, pegaram um
lápis e começaram a escrever. Os médiuns relataram entrar em transe com
grande facilidade e tranquilamente. Para a escrita controle (em estado
habitual de consciência), no mesmo local, foi-lhes pedido que
escrevessem sobre seus pensamentos e sobre temas semelhantes aos que
escreviam durante as psicografias.
Depois da tarefa de psicografia, perguntou-se a todos os indivíduos
se eles haviam alcançado o estado mediúnico (contato com uma pessoa
falecida), e também foi pedido que avaliassem o nível alcançado de
vivência mediúnica durante a pesquisa, de 1 para “precariamente
alcançado” até 4 para “plenamente alcançado”. A ordem das tarefas foi
randomizada entre os indivíduos, para evitar o efeito sequência, e o
intervalo entre as tarefas monitorado para garantir a distinção entre os
estados de transe e não transe para a escrita psicografada e a escrita
de controle, respectivamente. O uso do SPECT para os fins deste estudo
permitiu avaliar o estado de transe em si, de modo que as neuroimagens
refletiram o que ocorria durante a escrita controle ou psicográfica.
Essa técnica também é utilizada clinicamente para avaliar convulsões em
pacientes durante a própria convulsão, quando a injeção é administrada
[33]. Os indivíduos são escaneados depois, mas a distribuição do
marcador não é revertida imediatamente e fica impregnado no tecido
cerebral, o que permite a captação de imagem do estado de transe em si.
Após os indivíduos terem iniciado a escrita há dez minutos receberam a
injeção, por meio de cânulas IV (inseridas em seus braços esquerdos),
de 7 mCi de 99mTc-ECD. Depois de escreverem por mais 15 minutos, um
pesquisador sinalizou para que parassem de escrever, e eles foram
levados para o scanner SPECT para uma sessão de 40 minutos de captação
das imagens.
As imagens foram adquiridas por um scanner SPECT de três cabeças
(Trionix Research Laboratory) com colimadores de alta resolução. As
imagens de projeção foram obtidas em intervalos de ângulo 3° em uma
matriz de 128 × 128 (tamanho do pixel de 3,56 × 3,56 milímetros) em
360°. As imagens SPECT foram reconstruídas, usando filtro de
correção/atenuação de Chang.
Após o scan da primeira tarefa, os indivíduos retornaram à antessala
para realizar a segunda tarefa (psicografia ou controle). Depois de
serem observados na realização da tarefa por dez minutos, receberam
igualmente a injeção com 25 mCi of 99mTc-ECD. Os indivíduos, então,
prosseguiram na segunda tarefa por mais 15 minutos, quando a sessão foi
encerrada. Cada indivíduo foi escaneado (segundo escâner de tarefa de
escrita) por 40 minutos, com uso dos mesmos parâmetros. A experiência
fenomenológica dos médiuns durante a psicografia e a tarefa de controle
foram avaliadas em uma entrevista semiestruturada logo depois da
aquisição das neuroimagens por escâner.
Análise de imagem e estatísticas
Os dados brutos de FSCr foram convertidos para formato ANALYZE e
pré-processados usando SPM5 (Wellcome Trust Center for Neuroimagem, em
Londres), implementado em Matlab 7,10. As imagens FSCr de ambas as
tarefas de escrita foram então realinhadas para correção de pequenas
alterações entre as análises, utilizando seis parâmetros de
transformação rígida com grau 4 B-spline de interpolação. As imagens
foram então normalizadas para o modelo espacial ponderado T1, fornecido
pela Montreal Neurological Institute (MNI) por meio de uma abordagem de
quadrados mínimos e 12 parâmetros de transformação espacial, seguido
pela estimativa de deformações não lineares, conforme implementado no
SPM5 e suavizado com um filtro Gaussian de 8 milímetros.
As imagens pré-processadas de fluxo sanguíneo cerebral de cada
indivíduo passaram por um primeiro nível de análise comparando os dois
grupos (experientes versus menos experientes) e as duas condições
(psicografia versus controle). As imagens de cada indivíduo passaram
então por um segundo nível de análise de grupo exploratória, com
realização de 2×2 Repeated Measures ANOVA (SPM5) para determinar os
efeitos principais para os grupos (experientes versus menos experientes)
e as condições (psicografia versus controle). As diferenças de
intensidade global foram corrigidas com o uso de escala proporcional. A
resultante SPM{F} do teste de efeito dos mapas de interação foi
estabelecido em p1,64) e uma extensão de cluster de 100 voxels
contíguos. Clusters identificados foram então divididos em regiões
anatômicas, utilizando a base de dados Daemon Talairach [34].
Finalmente, um modelo de correlação linear foi aplicado para comparar
alterações na complexidade do conteúdo escrito às alterações no fluxo
sanguíneo cerebral nas regiões com diferenças significativas entre
psicografia e estado de controle.
Análise da complexidade do conteúdo escrito
O conteúdo escrito durante os 25 minutos sem pausa foi avaliado por um
brasileiro com doutorado em literatura brasileira, com grande
experiência em corrigir redações elaboradas em vestibulares de uma das
principais universidades brasileiras. Ele realizou uma Avaliação
Analítica [35], [36], que atribui pesos a várias características ou
componentes da escrita para classificar com profundidade as habilidades
de escrita e sua qualidade. A escrita avaliada envolveu aproximadamente
350 palavras relacionadas ao período em que o cérebro esteve impregnado
com o marcador. Essa análise foi “cega”, de modo que o analista não
sabia a que grupo cada voluntário pertencia. Os seguintes critérios
foram utilizados para avaliar o conteúdo escrito: (i) pontuação, (ii)
seleção de itens do léxico e ortografia, (iii) concordância verbal e
nominal, (iv) desenvolvimento do tema, (v) estrutura das sentenças e
articulação entre as partes, e (vi) coerência. Os escores variaram de 1 a
4 para cada critério, do seguinte modo: (1) fraco, (2) regular, (3) bom
e (4) muito bom (tabela 3). Os escores para o conteúdo elaborado pelos
dois grupos foram comparadas com a utilização do Teste de Wilcoxon.
Resultados
Embora os voluntários do presente estudo tenham relatado alucinações
auditivas, alterações de personalidade e outros comportamentos
dissociativos, não apresentaram transtornos mentais e foram capazes de
utilizar suas experiências mediúnicas para ajudar outras pessoas.
Entrevistas clínicas estruturadas excluíram transtornos psiquiátricos.
Nenhum dos indivíduos, exceto um com sinais prévios de transtorno de
personalidade borderline, mostrou qualquer sinal claro de transtornos
mentais do Eixo I ou Eixo II no momento do estudo [14] (tabela 2). Todos
os indivíduos declararam se sentir confortáveis durante o estudo e
conseguiram alcançar seu usual estado de transe durante a tarefa de
psicografia (4: “plenamente alcançado”), e essa avaliação foi feita
pouco depois da tarefa de psicografia.
Todos relataram estar em estado habitual de consciência/de vigília
durante a tarefa de controle. Sete voluntários consideraram fácil
escrever durante a atividade controle, e três mencionaram alguma
dificuldade, relatando que geralmente achavam difícil elaborar textos em
suas vidas cotidianas. Durante a psicografia, todos os médiuns
relataram estados alterados de consciência, mas em diferentes graus.
Os médiuns experientes mencionaram um transe mais profundo, com
consciência turvada, frequentemente relatando estar fora do corpo e ter
pouca ou nenhuma consciência do que escreviam. Médiuns menos experientes
estavam em estado de transe menos pronunciado e geralmente relataram
escrever frases ditadas a eles por espíritos.
Os grupos foram randomizados para que não houvesse diferenças
significativas no intervalo entre os scans. Com a utilização de um teste
T, baseado na contagem de voxels, não houve diferenças significativas
quando o grupo inteiro foi analisado. O fluxo sanguíneo cerebral
significativamente maior (p<0.001 para todas as regiões) ocorreu em
várias áreas dos cérebros dos médiuns menos experientes, particularmente
no cúlmen esquerdo, hipocampo esquerdo, giro occipital inferior
esquerdo, cíngulo anterior esquerdo, giro temporal superior direito e
giro pré-central direito (figura 1, tabela 4) durante a psicografia, em
comparação com a escrita produzida em estado de vigilia (sem transe). O
foco do giro pré-central na verdade abrange o giro pré-central e o giro
medial frontal, mas descrevemos a região com base nas coordenadas MNI
(tabela 4). Os indivíduos experientes mostraram atividade
significativamente mais alta (p<0.001 para todas as regiões) que os
médiuns menos experientes.
Os médiuns experientes, ao escreverem em estado de transe,
apresentaram decréscimo de fluxo sanguíneo cerebral nas mesmas regiões
em comparação à escrita da condição controle (figura 1) – a diferença
foi significativa na comparação com os menos experientes (p<0.05). O
conteúdo escrito produzido pelos indivíduos durante os dois tipos de
tarefas – com ou sem transe mediúnico – nunca havia sido escrito
anteriormente. O nível de complexidade dos dois tipos de escrita
(psicografado e de controle) foi analisado individualmente para cada
indivíduo.
Os escores médios de complexidade para conteúdo psicografado foram
mais altos do que na escrita em vigília (tabela 3), tanto para amostra
geral [16.8 (DP 3.33) vs 14.4 (DP 2.95) - p = 0.007] como para os
médiuns mais experientes [18.4 (DP 2.30) - p = 0.041]. Para médiuns
menos experientes, a diferença foi próxima da significância estatística
[15.2 (DP 3.63) vs 13.4 (DP 2.41) – p = 0.066].
Por fim, realizamos análises de correlação linear comparando as
mudanças no escore de complexidade do conteúdo escrito a mudanças no
fluxo sanguíneo cerebral nas seis regiões identificadas como
significativamente associadas com o estado de psicografia. Houve uma
tendência de correlação inversa entre mudança na complexidade e mudança
no fluxo sanguíneo em cada região. Os coeficientes de correlação
variaram de 0.59 a 0.74 para valores p de 0.03 a 0.12. Todas as
correlações foram inversas, de modo que maiores níveis de complexidade
estiveram associados com fluxo sanguíneo cerebral progressivamente
decrescente em cada região.
Discussão
Nossa hipótese não se confirmou entre os médiuns menos experientes, já
que os resultados apresentaram significativas alterações no fluxo
sanguíneo em diversas áreas do cérebro (figura 1, tabela 4) durante a
psicografia, em comparação com a escrita fora do estado de transe. Mais
ainda, contrariando a nossa hipótese, os médiuns experientes, durante a
escrita em estado de transe dissociativo, apresentaram FSCr
significativamente mais baixo nessas regiões em comparação à escrita
habitual da condição controle (figura 1).
Em relação à sugestão hipnótica, alguns estudos mostraram ativação
pré-frontal e dos circuitos relacionados à atenção [37], mas outros [38]
em indivíduos facilmente hipnotizáveis, não; enquanto os médiuns
experientes do presente estudo apresentaram níveis mais baixos de
atividade no sistema atencional frontal. Embora tenham sido observadas
redução na conectividade frontal-parietal [39] e desativações frontais
depois de indução hipnótica em indivíduos altamente sugestionáveis [40],
a hipnose é fenomenologicamente distinta das expressões mediúnicas, e
por isso as duas condições não são diretamente comparáveis [41]. Além
disso, a ideia de que a hipnose reflita um estado dissociativo ainda é
controvertida [42].
Estudos neurofuncionais em meditação encontraram aumento de atividade
no lobo frontal e na rede atencional relacionada [24], [43], [44],
diferentemente do que encontramos no caso dos médiuns experientes.
Embora os estados meditativos não envolvam necessariamente dissociação, e
as expressões fenomenológicas sejam bastante diferentes da psicografia,
um estudo recente sugeriu que a meditação aumenta a eficiência de
atividade cerebral, de modo que os níveis de atividade dos meditadores
experientes são menores que os dos menos experientes [45], um padrão
semelhante ao relatado no presente estudo envolvido com outra tarefa
cognitiva: a escrita.
Investigações com neuroimagem mostraram que a escrita é um processo
complexo que exige sincronização de habilidades cognitivas, linguísticas
e perceptomotoras [46]. A complexidade do conteúdo escrito reflete a
criatividade e planejamento do autor, destacados na atividade no giro
pré-central, giro temporal superior direito, cingulado anterior
esquerdo, hipocampo, cúlmen e lobos occipitais. Dano ou hipoperfusão
nessas regiões têm sido relacionados a graves dificuldades para escrever
[46]-[48]. Em particular, os médiuns experientes tiveram escores mais
altos de complexidade, sugerindo que o planejamento para o conteúdo
psicografado era mais sofisticado que o do conteúdo escrito fora do
estado dissociativo de transe mediúnico. A maior complexidade do texto,
envolvendo mais criatividade e planejamento durante a psicografia,
presumivelmente exigiria maior atividade no giro pré-central direito,
giro temporal superior direito, cingulado anterior esquerdo, hipocampo
esquerdo, cúlmen esquerdo e giro occipital inferior esquerdo [46]-[48]
do que a tarefa de controle menos complexa – mas não foi o que ocorreu,
especialmente no caso dos médiuns experientes (figura 1).
Níveis mais baixos de atividade no hemisfério esquerdo e mais altos
no hemisfério direito têm sido relatados em expressões patológicas de
experiências psicóticas e dissociativas [49], [50]. Diferentemente de
nossos voluntários, pacientes com esquizofrenia apresentam níveis mais
baixos de fluxo sanguíneo nas regiões do hemisfério esquerdo, enquanto
as áreas com fluxo mais alto podem refletir uma necessidade de engajar o
hemisfério direito para compensar as deficiências nas redes do
hemisfério esquerdo [51].
Anormalidades de fluxo sanguíneo cerebral no cingulado anterior,
pré-central, temporal e cúlmen podem predizer o desenvolvimento de
psicoses em indivíduos de alto risco, com subsequente transição para
psicose [50], [52], [53]. O cingulado anterior está relacionado ao
sistema de atenção em conjunção com regulação emocional, aprendizado,
memória, detecção de erro, monitoramento de conflitos, estratégia de
planejamento e empatia [54], [55]. A atividade reduzida no cingulado
anterior, giro pré-central, giro temporal superior e hipocampo nos
médiuns experientes pode explicar em parte a ausência de foco, de
autoconsciência e de consciência sobre o conteúdo psicografado durante o
estado dissociativo. Apesar de várias similaridades com a ativação
cerebral relacionada em pacientes esquizofrênicos [50], [52], [53], os
médiuns participantes do presente estudo não sofriam de esquizofrenia ou
outros transtornos mentais (tabela 2). Esses achados reforçam a
importância de realizar mais pesquisas sobre diagnóstico diferencial
entre dissociação patológica e não patológica [5], [16], [17].
Buscamos o máximo de similaridade possível entre os grupos para melhor comparar suas atividades cerebrais.
As diferenças observadas no fluxo sanguíneo cerebral podem estar
ligadas a níveis distintos de experiência, mas também podem refletir
diferenças em graus de ansiedade/expectativa, esforço ou eficiência. Por
exemplo, estudos demonstram que a ansiedade está associada a maior
atividade na insula/putamen e no córtex pré-frontal ventral direito e
esquerdo [56]. Algumas alterações que observamos podem ter sido reflexo
de ansiedade, embora pouco provável, considerando que nenhum dos
voluntários relatou níveis particularmente elevados de
ansiedade/expectativa ou estresse de acordo com o inventário BAI e a
entrevista qualitativa pós tarefas.
Estudos sobre expertise cognitiva revelaram dois padrões gerais de
alterações na atividade cerebral. O nível de atividade na área da face
fusiforme (FFA) esteve envolvido em atividades desempenhadas por
especialistas e não especialistas [57], [58]. Outros estudos mostraram
algumas regiões cerebrais com maior atividade durante tarefas realizadas
por experts/especialistas [59]. A observação de cálculos feitos por
indivíduos especialistas mostrou aumento de atividade no giro frontal
medial, giro para-hipocampo, giro cingulado anterior e junção
occiptotemporal médio-direita, além do lóbulo paracentral anterior [60].
Voluntários com especialização em aritmética mostram aumento de
atividade em regiões mais amplas [61].
Esses resultados sugerem que os especialistas expressaram maior
atividade em rotas cerebrais diferentes ou mais extensas. Entretanto,
outros estudos sugerem que os indivíduos mais habilidosos fazem uso mais
eficiente da atividade e das regiões cerebrais. Nessas circunstâncias,
observa-se menor atividade cerebral em tarefas cognitivas. Aqueles que
se esforçam mais para realizar tarefas cognitivas frequentemente
precisam engajar mais áreas cerebrais como mecanismo de compensação
[62]. Os resultados do presente estudo sugerem que o nível de
especialização pode ter um efeito importante na atividade cerebral.
Houve uma tendência de correlação inversa entre a variação de
complexidade e a alteração no fluxo sanguíneo cerebral em cada região.
Como essas correlações foram inversas, a implicação aparente é que maior
complexidade esteve associada com fluxo sanguíneo cerebral
progressivamente atenuado em cada região. Porém, esse interessante
achado, quando se leva em conta a complexidade dos textos psicografados,
merece discussões mais aprofundadas, investigações futuras e hipóteses
elucidativas. Alguns poderiam especular que tais achados estejam
relacionadas àqueles mostrados em estudos sobre improvisação musical, em
que a diminuição da atividade em algumas áreas relacionadas a atenção
pode ter envolvido o treinamento para a inibição da atenção, favorecendo
a emergência da criatividade [63], [64]. Ainda sobre criatividade, um
estudo recente mostrou que o consumo de álcool, que reduz a atividade do
lobo frontal, parece aumentar a criatividade ou talvez, na verdade,
diminuir a crítica [65]. Contudo, os estados de improvisação musical –
com acentuada participação da memória motora – e consumo de álcool são
bastante particulares e distintos da psicografia, que envolve elaboração
de textos inteligíveis com mensagens éticas, conteúdos não improvisados
e, portanto, não podem ser comparáveis entre si. É necessário realizar
mais pesquisas para comparar minuciosamente a psicografia a outros
estados similares e elucidar com precisão as possíveis relações entre a
atividade do lobo frontal e a profundidade, intensidade e complexidade
do conteúdo escrito produzido nesse interessante estado mediúnico.
De modo geral, o fato de que médiuns experientes apresentem FSCr
menor que os médiuns menos experientes pode ser devido ao fato de que
possuem mais anos de prática e fazem mais psicografias por mês (tabela
1, figura 1). Entretanto, considerando os altos escores de complexidade
dos escritos dos mais experientes, não está claro se a atividade
cerebral reduzida está ligada ao funcionamento mais eficiente do cérebro
durante a tarefa ou à influência de outras possíveis variáveis como o
transe mediúnico em si e a comunicabilidade espiritual.
Embora cientes dos problemas de conceitualização do transe, para o
propósito deste estudo utilizamos uma definição mais conceitual e
fenomenológica de transe proposta por Cardeña [66]: uma alteração
temporária da consciência, identidade e/ou comportamento evidenciada por
no mínimo dois dos seguintes aspectos: (1) alteração marcante de
consciência; (2) reduzida consciência do ambiente ao redor do indivíduo;
(3) sensação de que os movimentos estão fora do controle do indivíduo.
Em termos qualitativos, já que não existe uma única expressão de
mediunidade, mas diferenças importantes entre pessoas e ocasiões, nossos
indivíduos relataram tipos variáveis de “contatos espirituais”. Os
médiuns menos experientes relataram se sentir como que inspirados
durante a psicografia e estar em um estado de semiconsciência – as
frases lhes vinham como se fossem ditadas – em relação ao conteúdo
escrito, enquanto os médiuns mais experientes diziam estar “fora de seus
corpos” e não ter controle do conteúdo “elaborado pelo espírito”. O
giro temporal superior, que contém o córtex auditivo, foi mais ativado
durante a psicografia no caso dos médiuns menos experientes, que ouviam
frases como se elas lhes fossem ditadas, mas menos ativado nos
indivíduos experientes, que não tinham controle consciente do conteúdo
psicografado. O giro temporal superior também está envolvido na
compreensão linguística e em uma área fundamental relacionada à
alucinação auditiva em pacientes psicóticos [49].
A redução da atividade no córtex pré-frontal, envolvido na
categorização e classificação de experiências [3], [67], pode estar em
parte relacionada à explicação subjetiva do transe dissociativo tal como
relatado pelos médiuns experientes, e é mais condizente com a noção de
escrita inconsciente do que com o conteúdo de escrita planejada. Estudos
de processamento de linguagem sistematicamente mostram o envolvimento
do córtex temporal superior e do giro pré-central como fundamental para
processar palavras, e sua hipoperfusão resulta em dificuldades seletivas
de escrita [46], [47], [48]. A ativação dessas áreas durante a escrita é
esperada em indivíduos saudáveis. Essas regiões foram menos ativadas no
cérebro dos indivíduos experientes durante a psicografia, e eles não
demonstraram a esperada dificuldade de escrever na presença de
hipoativação [46], [47], [68]. O nível reduzido de atividade no córtex
temporal, giro pré-central, hipocampo e cingulado anterior em médiuns
experientes também reforça os seus relatos subjetivos de que não tinham
consciência do conteúdo escrito durante a psicografia. Deve-se notar que
não se observaram as alterações no fluxo sanguíneo cerebral no núcleo
caudado descritas anteriormente no caso da glossolalia. Os indivíduos
também apresentaram fluxo sanguíneo cerebral reduzido no córtex
pré-frontal direito, e essas discrepâncias podem estar relacionadas às
diferentes tarefas de processamento de linguagem durante esses estados
de transe [25].
Os médiuns estudados atribuíram a autoria das psicografias aos
“espíritos” comunicantes. Na comparação com escritos em estado normal,
médiuns menos experientes apresentaram ativação maior nas mesmas áreas
de processamento cognitivo durante a psicografia, enquanto os médiuns
experientes apresentaram nível de ativação significativamente menor
(figura 1). Possivelmente, os médiuns menos experientes tiveram de
“trabalhar mais”, como mostram seus níveis relativamente mais altos de
ativação das áreas relacionadas ao processamento cognitivo durante a
psicografia. Médiuns experientes apresentaram fluxo sanguíneo cerebral
nas áreas descritas significativamente reduzido durante a psicografia, o
que condiz com a noção de escrita não consciente e suas alegações de
que uma “fonte externa” estava planejando o conteúdo escrito. Regiões do
cérebro sabidamente envolvidas no planejamento da escrita foram menos
ativadas, mesmo quando o conteúdo era mais elaborado do que a escrita em
estado normal (tabela 3). Os presentes resultados não condizem com
simulação ou fraude, que têm sido oferecidos como explicações para a
psicografia. Circuitos neurais relacionados ao planejamento
presumivelmente seriam recrutados para a composição dos textos caso os
indivíduos estivessem simulando estados de transe (figura 1, tabela 4).
Ao contrário, estudos das regiões de processamento cognitivo envolvidas
em raciocínio e planejamento de conteúdo escrito [46]-[48] mostraram
redução de atividade nos médiuns experientes, que relataram que não
tinham controle do conteúdo escrito, afirmando que “a autoria da
psicografia não pode ser atribuída ao cérebro do médium, mas ao espírito
comunicante”. Os indivíduos relataram que seu estado de transe envolvia
um “estado de relaxamento mental”.
O relaxamento mental sozinho poderia explicar a atividade geral
reduzida do cérebro, mas o fato de que os indivíduos produziram
conteúdos complexos em estado de transe dissociativo sugere que eles não
estavam meramente relaxados. Mais ainda, o relaxamento parece uma
explicação improvável para a subativação de áreas cerebrais
especificamente relacionadas ao processamento cognitivo que ocorria.
Como primeiro passo para compreender os mecanismos neurais envolvidos na
dissociação não patológica, enfatizamos que essas descobertas merecem
mais investigação em termos de replicação e hipóteses explicativas.
Em condições não patológicas, os indivíduos podem viver de maneira
saudável com manifestações dissociativas no âmbito religioso, embora tal
condição dissociativa possa ser patológica depois de acontecimentos
adversos/traumáticos [3]-[5]. A ausência de distúrbios do Eixo I ou II
[14] nos médiuns estudados está de acordo com as atuais evidências de
que as experiências dissociativas são comuns na população em geral e não
necessariamente relacionadas a transtornos mentais, especialmente em
grupos espirituais/religiosos [16]. As alterações de FSCr durante a
psicografia evidencia a diversidade do fenômeno dissociativo em
indivíduos saudáveis e sugere que futuras investigações devem precisar
critérios para distinguir expressões dissociativas saudáveis e
patológicas no escopo da mediunidade.
Uma limitação deste estudo foi o tamanho pequeno da amostra estudada,
que limitou a análise detalhada que uma amostra maior poderia suportar.
Novos estudos com maior número de voluntários permitirão análises mais
robustas corrigidas para comparações múltiplas para possivelmente
determinar outros achados e diferenças relevantes entre grupos.
Diferentes linhas de pesquisa estão se associando, o que é um
acontecimento promissor rumo a uma compreensão aprofundada da
consciência e da dissociação [7]–[9], [17], [31]. Embora o estudo de
experiências espirituais como a mediunidade tenha sido fundamental para o
desenvolvimento de nossa compreensão atual da mente, sua relevância foi
negligenciada pelos cientistas no século passado [10], [19]. O presente
estudo fornece dados preliminares e aponta a utilidade potencial de
estudos epistemologicamente bem fundamentados dos estados dissociativos
de consciência e das experiências espirituais para aprimorar nossa
compreensão da mente e de suas relações com o cérebro, assim como para
estudar e considerar intervenções terapêuticas eficazes.
Agradecimentos
Nossos agradecimentos aos doutores Alexandre Caroli Rocha pela análise
da complexidade dos textos, a Peter Fenwick e a Homero Vallada pelos
comentários úteis a uma versão preliminar deste manuscrito, e a Nancy
Wintering e Jeverson Reichow pelo valioso trabalho como assistentes.
Contribuição dos autores
Conceberam e formataram os experimentos: JFP AN. Realizaram os
experimentos: JFP AMA LC FL AN. Analisaram os dados: JFP AN.
Contribuíram com reagentes, materiais e ferramentas de análise: JFP AMA
LC FL AN. Escreveram o estudo: JFP AMA LC FL AN.
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*Julio Fernando Prieto Peres – Psicólogo clínico, doutor em
Neurociências e Comportamento – Instituto de Psicologia USP.
Pós-doutorado no Centro de Espiritualidade e Mente – Universidade
Pensilvânia, EUA. Pós-doutorado na Radiologia Clínica/Diagnóstico de
Imagem – UNIFESP. Filiações: Serviço de Medicina Nuclear do Departamento
de Radiologia da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia,
Pensilvânia, EUA, Centro de Espiritualidade e da Mente, da Universidade
da Pensilvânia, em Filadélfia, Pensilvânia, EUA, e PROSER (Instituto de
Psiquiatria, Universidade de São Paulo- USP, Brasil). Autor
correspondente: julioperes@yahoo.com
Alexander Moreira-Almeida – Residência e doutorado em Psiquiatria
pela USP, pós-doutorato pela Duke University, EUA. Professor de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF) e diretor do NUPES (Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e
Saúde da UFJF, MG, Brasil). Coordenador da pós-graduação Stricto Sensu
da UFSF. Membro do Comitê Diretor da Seção em Espiritualidade e
Psiquiatria da Associação Mundial de Psiquiatria. Filiação: NUPES.
Leonardo Caixeta – Psiquiatra, mestre e doutor em Neurologia. Escola de Medicina da Universidade Federal de Goiás, GO, Brasil.
Frederico Leão – Psiquiatra e psicoterapeuta. PROSER (Instituto de Psiquiatria, Universidade de São Paulo, USP, Brasil).
Andrew Newberg – Médico, diretor de Pesquisa do Jefferson-Myrna Brind
Centro de Medicina Integrativa e especialista em neuroimagem de
experiências religiosas, é autor de vários livros (Biologia da Crença e
Princípios de Neuroteologia). Filiações: Serviço de Medicina Nuclear do
Departamento de Radiologia da Universidade da Pensilvânia, em
Filadélfia, Pensilvânia, EUA, Centro de Espiritualidade e da Mente, da
Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, Pensilvânia, EUA, e
Centro Myrna Brind de Medicina Integrativa, Universidade Thomas
Jefferson, Filadélfia, Pensilvânia, EUA.