Chico
Xavier faria dia dois de abril, 103 anos. Morreu aos 92 anos, em 30 de
junho de 2002, mas o seu legado e sua lembrança permanecem muito vivos.
Tanto
é que amigos e conterrâneos de Pedro Leopoldo começam a divulgar o
roteiro Caminhos de Luz Chico Xavier, que percorre sete locais que
fizeram parte da vida do médium na cidade mineira.
A ideia não é
mitificar ou divinizar a figura humana de Chico Xavier, mas divulgar
seus exemplos de solidariedade, compaixão e respeito pelas diferenças,
seu maior legado. Percorrer lugares onde o médium Chico Xavier nasceu,
viveu, trabalhou e psicografou os primeiros livros em Pedro Leopoldo.
O
objetivo é refazer uma trajetória de simplicidade onde o homem
Francisco viveu sua infância, criou sólidos laços de amizade, despertou
para a doutrina espírita e iniciou uma jornada de serviço e amor ao
próximo que só terminaria com sua morte.
O mérito dessa
iniciativa cabe à Fundação Cultural Chico Xavier. "O trajeto é
relativamente curto e pode ser feito a pé ou de carro. Contempla os
pontos fundamentais de sua jornada em Pedro Leopoldo", explica John
Harley Marques, colaborador no Grupo Espírita Scheilla e na Casa de
Chico Xavier, atuante no movimento espírita de Pedro Leopoldo desde 1980
e presidente do Conselho Curador da Fundação Cultural Chico Xavier.
Marques
ressalta que o trabalho da fundação tem sido o de divulgar a vida e
obra de Chico Xavier pelo viés da cultura. "Entendemos que o homenageado
não pertence somente ao movimento espírita. Basta observar que em um
país de formação historicamente católica, Chico foi eleito o mineiro do
século e o maior brasileiro da história. Falar em Chico Xavier é falar em ética, solidariedade, compaixão e respeito pelas diferenças", afirma o curador.
Eugênio
Eustáquio dos Santos, presidente do Centro Espírita Meimei, segunda
instituição criada por Chico em Pedro Leopoldo, acredita que o roteiro
"vem avivar, na memória de todos nós, a vida de Chico Xavier na cidade. Ele mostra o seu trabalho basilar na doutrina espírita, sua vida
em família, o trabalho na Fábrica de Tecidos e na Fazenda Modelo, além
de duas casas espíritas fundadas por ele", diz.
Santos lembra que
nos últimos anos de vida de Chico todos procuravam pelo médium em
Uberaba. "Poucos conheciam a sua cidade natal e a sua vida aqui. Depois
do seu desencarne, em 2002, muitos voltaram suas atenções para Pedro
Leopoldo para conhecer um pouco mais a obra do homem Chico Xavier",
afirma.
Em Pedro Leopoldo, os visitantes podem encontrar um vasto
acervo histórico, fotografias, construções, histórias e livros. "Além
disso, vão contar sempre com essa hospitalidade mineira e a nossa
alegria de poder levar ao mundo um pouco mais da vida desse filho mais
ilustre, o mineiro do século XX, o maior brasileiro de todos os tempos,
Francisco Cândido Xavier", ressalta Santos.
A mudança de Chico
para Uberaba é relembrada por Célia Diniz Rodrigues, filha do falecido
Manoel Diniz, mais conhecido como Lico, amigo dileto do médium. "Chico
foi em busca de um clima mais ameno, devido aos problemas respiratórios,
e pesou também o fato de seu amigo e médico Waldo Vieira morar em
Uberaba. Lá também tinha um posto do Ministério da Agricultura, onde
trabalhava e para onde poderia ser transferido. Chico também se sentia
incomodado com a falta de privacidade de sua família, queria
preservá-la", diz ela.
Célia lembra que Chico havia prometido à
sua mãe, Cidália, cuidar de todos os irmãos. "De fato, ele só se mudou
para Uberaba quando a última irmã se casou", relembra.
Geraldo
Lemos Neto, presidente da Casa de Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, diz
que a importância do médium extrapolou o movimento espírita-cristão
"justamente por ter vivido em sua plenitude, o amor sem fronteiras de
dogmatismo religioso, sem preconceitos de classe, sem muros de
incompreensões de castas, e sem disputas inglórias no campo da vaidade
intelectual. Chico Xavier abriu os braços ao sofrimento, à dor, aos
desesperados, aos tristes, aos sobrecarregados e aos aflitos, sem exigir
taxas de reconhecimento ou qualquer pedigree de profissão de fé",
afirma.
Lemos diz que "à semelhança de seu mestre, Jesus de
Nazaré, Chico abraçou a todos os infelizes sem distinção, consolando-os e
esclarecendo-os para o bem. Inspirou e sustentou a fé de muitos, ao
escrever e publicar em 75 anos de dedicação à mediunidade, 467 livros da
mais alta espiritualidade".
Depoimento
O homem que ficou eterno no imaginário do povo
Geraldo Lemos Neto - presidente da Casa de Chico Xavier
Chico
Xavier tem uma importância ímpar no imaginário da população brasileira
que o transformou, por suas características de bondade cristã,
desprendimento dos bens terrenos, solidariedade manifesta e fé
contagiante, em um herói popular no seio da sociedade de nossa nação.
Por
tão exemplarmente agir em coerência com o que acreditava, acabou por se
transformar, sem o querer, em uma figura símbolo do amor, retrato fiel
da persona religiosa cristã da alma brasileira, e foi por essa razão
eleito em diversos certames espontâneos o "mineiro do século", o "homem
símbolo da comenda da paz do Estado de Minas Gerais" e, mais
recentemente, o "brasileiro mais importante da história".
É
dentro desse contexto histórico-cultural que se insere o roteiro
"Caminhos de Luz Chico Xavier", registrando para a posteridade os pontos
onde esse homem símbolo da fraternidade viveu, trabalhou e confortou as
necessidades de seus coirmãos. A Fundação Cultural Chico Xavier de
Pedro Leopoldo, entidade civil sociocultural que presido, se orgulha de
ter instituído esse roteiro e colaborar para manter viva a memória de
Chico Xavier em sua cidade natal.
Matéria: “ O Tempo”