Chico Xavier foi declarado Cidadão Bauruense em 76 |
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Adilson Camargo |
Câmara
Municipal de Bauru, por intermédio do vereador Moisés Rossi (PPS), fará
a entrega do título de Cidadão Bauruense em memória a Chico Xavier, no
dia 9 de abril. O título foi aprovado em 1976 e aguardava a presença do
homenageado para ser entregue. Como Chico morreu antes de vir para
Bauru, a homenagem será entregue ao presidente da União das Sociedades
Espíritas (USE) de Bauru, Edgar Miguel, para que o mesmo encaminhe o
título ao museu de Chico Xavier, em Uberaba (MG).
O ex-vereador José Humberto Santana se esforçou, mas não conseguiu
homenagear o amigo e ex-companheiro Chico Xavier à altura de sua
importância para a doutrina espírita em Bauru e no Brasil. O único
espaço público que leva o nome do famoso médium brasileiro em Bauru é
uma rua de terra de apenas uma quadra na Vila Industrial.
Não bastasse ser apenas uma, a quadra nada tem construído nela. Não tem
placa indicativa de que ali é a alameda Francisco Cândido Xavier, nem
uma casa para que seja mandada para lá uma correspondência fazendo
referência ao endereço.
Nem mesmo os moradores das ruas vizinhas sabem da existência da alameda
Francisco Cândido Xavier no bairro. A rua tem apenas três quadras e
antigamente era conhecida como alameda Araçatuba. Em 2002, pouco depois
da morte de Chico Xavier, o então vereador José Humberto Santana propôs
um projeto mudando o nome da via em homenagem ao médium mineiro.
O projeto foi aprovado, mas o nome foi grafado em apenas uma das três
quadras que formam a rua de terra. As outras duas, onde existem casas
dos dois lados, recebeu o nome de alameda Arlindo José da Silva.
O que existe na quadra que leva o nome de Chico Xavier é um terreno
baldio onde foi improvisado um campinho de futebol de terra cercado com
pneus usados. É sabido que Chico Xavier nunca foi chegado à badalação.
Ele era adepto do quanto mais discreto melhor, mas a homenagem foi
tímida demais para o homenageado.
Santana argumentou que não sabia que o nome seria dado a apenas uma
quadra da antiga alameda Araçatuba. Ele também acha que o amigo merecia
mais.
Lembranças e saudades
Contatada pelo Jornal da Cidade, em sua casa, na pacata cidade de Pedro
Leopoldo, no interior de Minas Gerais, Cidália Xavier de Carvalho, 86
anos, irmã de Chico Xavier, expressou, por e-mail, seus sentimentos a
respeito do irmão, das lembranças e saudades que sente de seu antigo
“companheiro”.
Ela contou ao JC que Chico foi mais que um simples irmão. “Para mim,
ele foi um pai, uma mãe, um amigo, um irmão. Ele foi meu companheiro de
me buscar na fábrica de tecidos onde eu trabalhava, todos os dias à
meia-noite”, relata. “Chico Xavier, para mim, foi tudo”, enaltece.
Questionada sobre as homenagens que estão sendo feitas ao irmão,
especialmente por ocasião do centenário do nascimento dele, Cidália diz
que ele merece todas as homenagens porque “Chico foi e é um homem bom”.
“Ele foi para nós uma pessoa muito especial e, ao mesmo tempo, tão
diferente de todos”, compara. “Eu me lembro quando estudava no Grupo
Escola São José e o Chico trabalhava na venda do José Felizardo
Sobrinho (mais conhecido como Juca Bicheiro). Eu passava lá e quase
sempre ele me arrumava uns trocadinhos para comprar uma “cangalha”, que
era um pão doce muito gostoso vendido pela Chicoca”, conta ela.
No fim do e-mail, Cidália deixa transparecer a falta que sente do irmão. “Quantas lembranças e quantas saudades”, diz.
‘Sem amor, nada vale a pena’
O escritor Richard Simonetti, um dos diretores do Centro Espírita Amor
e Caridade em Bauru, esteve algumas vezes em Uberaba (MG), com o
propósito de participar de reuniões informais com Chico Xavier. A
sabedoria e o bom humor com que Chico tratava dos assuntos sempre
impressionou Simonetti.
Ele conta que uma certa vez um jovem se aproximou e perguntou: “Chico,
sexo antes do casamento é proibido?” E Chico, com seu jeito mineiro de
ser, respondeu: “Meu filho, nada é proibido. No entanto, sem amor, nada
vale a pena, nem o sexo, nem o casamento”.
Na opinião de Simonetti, a importância de Chico Xavier para o
espiritismo no Brasil é semelhante à importância de Einstein para a
física ou de Galileu Galilei para a astronomia ou de Sócrates para a
filosofia. Segundo o escritor, são figuras que dividiram as respectivas
áreas de atuação em antes e depois deles.
Filho de pais espíritas, o primeiro contato de Simonetti com a obra de
Chico Xavier ocorreu em 1944, no lançamento do livro “Nosso Lar”, um
marco na literatura mediúnica. Pela primeira vez, um espírito, André
Luiz, trazia revelações detalhadas sobre a vida no mundo espiritual.
“Eu tinha 9 anos e acompanhei a leitura feita por um primo, o
radialista Ermeti Simonetti, para minha avó Helena, imigrante italiana
que não lia em português”, relata.
Ele conta que muitas famílias bauruenses enlutadas encontraram consolo
em mensagens que Chico psicografou, assinadas pelos parentes que
partiram. E muitos seguidores procuram até hoje seguir seu exemplo.
Simonetti fala que o Centro Espírita Amor e Caridade (Ceac) de Bauru é
uma das maiores instituições espíritas do Brasil, com grande trabalho
no campo filantrópico e doutrinário, graças, em grande parte, aos
estímulos contidos nas obras de Chico Xavier.
“Um empresário rico e bem sucedido reclamava com Chico que, apesar de
seu sucesso financeiro, sua riqueza, sentia-se triste, insatisfeito.
Chico lhe disse: ‘Falta-lhe a alegria dos outros’. O médium estava
dizendo que a verdadeira alegria é aquela que se espelha no sorriso que
colocamos em lábios alheios, quando nos empenhamos no esforço do bem.
Novecentos voluntários do Ceac estão procurando fazer isso”, diz.
| Fonte: Jornal da Cidade | Bauru, SP | 21/03/10 | Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz - Serviço Editorial | Leopoldo Zanardi | Bauru, SP
22/03/2010
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