Uberaba, 08/04/92
Prezado amigo,
Dr. Geraldo Lemos Filho,
Deus nos abençoe.
Desde a semana última venho tentando escrever-lhe, mas somente agora ouso fazer isso, pedindo-lhe me perdoe os erros que eu venha cometer.
Através de seu querido filho e da esposa dele, D. Eliana, recebi o seu expressivo cartão e o generoso donativo com que o senhor me honrou com a sua confiança.
Depois de ouvir os mensageiros referidos, fiquei a sós com as suas palavras de benfeitor e de amigo, acompanhadas de sua dádiva e fui a um pátio interior de nossa moradia, a fim de rogar ao céu estrelado da noite uma inspiração para endereçar à sua bondade o meu agradecimento, entretanto eu não descobri as palavras para escrever-lhe, porque necessitava dirigir-lhe o meu reconhecimento com o meu coração pobre e reconheci que o coração é analfabeto e não sabe articular frases escritas, embora saiba sentir e creio que por isso apenas me deu as lágrimas de alegria-gratidão-felicidade e paz que me cobriram o rosto.
Existem emoções para as quais não achamos em nós mesmos a definição certa, mas necessitando exprimir os nossos sentimentos escolhemos os vocábulos mais adequados à expressão de nossos estados de alma e com eles criamos o contexto dos sentimentos que desejamos demonstrar. Receba, pois, meu caro amigo, as lágrimas de jubilosa gratidão que chorei, rogando a Jesus o recompense e proteja, em suas tarefas de missionário do progresso e do bem ao próximo.
Acontece que os muitos anos de trabalho que me vinculam à beneficiência estabeleceram junto a este seu pequeno servidor toda uma legião de sofredores que esperam de minhas estreitas possibilidades alguma fatia de socorro de que voluntariamente não posso me distanciar. E, nos tempos atuais, em que tantos companheiros nossos se reconhecem também necessitados de auxílio, as fontes de cooperação e de apoio como que vão secando ou desaparecendo, enquanto que as necessidades de nossos irmãos carentes de amparo aumentam de modo assustador. De modo nenhum poderemos despertar neles a inconformação e a revolta, e sim auxiliá-los no cultivo do trabalho e da paciência, da esperança e de fé em Deus e no futuro. Desse modo, fui multiplicando os meus pequenos compromissos, na certeza de que a Misericórdia Divina surgiria, em nosso favor e, no momento certo, o prezado amigo me veio ao coração inquieto com o auxílio de um milhão de cruzeiros, que providencialmente me libertou das obrigações a que me prendia, sem a possibilidade de falar nisso a ninguém. O prezado amigo, desse modo, foi e é o mensageiro de Jesus, revelando-me que a nossa confiança em Deus não é em vão.
Desejo sinceramente que com a sua bondade, o senhor me proporcionou a convicção de estar penetrando numa vida nova, em que me sentirei mais encorajado para trabalhar, no desempenho de meus deveres, apesar dos meus oitenta e dois anos de idade física me levarem a considerar que o tempo não me favorecerá com longas oportunidades de serviço. De qualquer modo, não me esquecerei de que a bondade infinita de Deus me permitiu conhecê-lo em seus gestos de magnanimidade para comigo.
Perdoe-me se lhe tomo tanta atenção com esta carta, assim tão comprida. É que aspirei a dizer-lhe quanto me sinto honrado com a sua generosidade.
Deus o abençoe sempre, Dr. Geraldo!
Deus o recompense!
Que a Luz Divina o envolva sempre.
Lembranças ao Geraldinho e esposa.
Ao senhor, peço, com muito respeito, receber o coração de seu servidor reconhecido,
Chico Xavier
Geraldo Lemos Filho e Geraldo Lemos Neto, amigos de Chico Xavier