Chico
Xavier, quem é você?
“(...) sendo eu um cidadão como qualquer outro,
pertenço ao gênero humano e não me consta seja de praxe que esta ou aquela
pessoa deva explicar quem venha ser, desde que esteja sempre circulando, qual
me acontece, no relacionamento comum.
(...) sou uma pessoa como tantas outras, com
muitos erros na vida e alguns poucos acertos, sempre alimentando o sincero
desejo de cumprir as minhas obrigações.
Não tenho qualquer privilégio material ou
espiritual. No setor da profissão, trabalhei 4 anos numa fábrica de tecidos,
outros 4 anos num pequeno armazém, com setores anexos de cozinha e
horticultura, e outros 32 anos consecutivos no Ministério da Agricultura, no
qual me aposentei na condição de escriturário, somando, ao todo, 40 anos de
trabalho profissional.
Materialmente, tenho atravessado longos
períodos de moléstia física. Sou portador de luxação no olho esquerdo desde
muitos anos e, em verdade, tenho recebido muito auxílio dos amigos espirituais
nos tratamentos de saúde a que tenho me submetido, mas já passei por cinco
cirurgias de grande porte, sempre pelas mãos de médicos cirurgiões humanos e
amigos, submetendo-me a instruções médicas e a regimes hospitalares, como
sucede a qualquer doente comum. A mediunidade não me deu imunidades contra
doenças e tentações naturais na existência humana, porque ainda agora, numa
ocorrência muito natural a qualquer pessoa com 67 janeiros de idade física, sou
portador de um processo de angina, que me obriga a tratamento diário muito
complexo.
(...) sou uma pessoa demasiadamente comum, sem
pretensões a qualquer destaque,
que nada fiz por merecer.
(...) não tenho o privilégio de viver o tempo
ao meu dispor...
(...) O relógio tem muita importância em minha
vida, conquanto me sinta muito feliz quando possa sustentar essa ou aquela
conversação com amigos, o que para mim não é um prazer muito acessível, em
virtude das muitas tarefas a que estou vinculado.
(...) em matéria de estudos tive apenas o curso
primário, na cidade de Pedro Leopoldo, onde nasci. Mas, naturalmente, ouvindo
instruções e escrevendo instruções com o espírito de Emmanuel e outros espíritos amigos, desde 1927, é impossível que a minha inteligência, mesmo estreita
quanto é, não obtivesse alguma evolução e algum aprimoramento em meio século de
trabalho espiritual incessante.
(...)
pertenço, morfologicamente, ao sexo masculino, e qual ocorre com as pessoas que
sentem e pensam muito sobre as próprias responsabilidades, psicologicamente
tenho os conflitos naturais, inerentes a essas mesmas pessoas, conflitos esses
que procuro asserenar, tanto quanto possível, com o apoio da religião, pois não
creio que possamos vencer as nossas tendências inferiores ou animalizantes sem
fé em Deus, sem a prática de uma religião que nos controle os impulsos e nos
eduque os sentimentos.
Passei por muitas lutas espirituais, desde
tenra idade, em matéria de faculdades mediúnicas. Mas, com a Doutrina Espírita,
em que Allan Kardec explica os ensinamentos de Jesus, há precisamente meio
século, encontrei nas tarefas espíritas o equilíbrio possível de que eu
necessitava, para viver e conviver com os meus irmãos em humanidade e para
trabalhar como qualquer cidadão que deseja ser útil à sua família e ao seu
grupo social.
Informo ainda a você que o trabalho mediúnico
foi sempre muito intenso em minha vida, e que continuo solteiro, sentindo-me
feliz nessa condição.
(...) se algum apontamento elogioso aparece
aqui e ali, esse apontamento pertence ao espírito de Emmanuel, e a outros benfeitores espirituais que se comunicam por meu intermédio, em minha condição
simples de medianeiro espírita, e que de mim mesmo não passo de um médium muito
falho em tudo, precisando sempre das preces e das vibrações de apoio das
pessoas amigas, espíritas ou não espíritas, que possam fazer a caridade de orar
em meu favor, para que eu possa cumprir o meu dever.”
ENTENDER CONVERSANDO –
IDE, cap. 4, 44.
Títulos
de cidadania
Numa
ocasião, em um local no centro da nossa cidade de Uberaba, encontrei com o
Chico às vésperas dele viajar para receber um título de cidadão honorário de
uma cidade.
Eufórico,
disse-lhe:
─ Chico, que bom! Você, neste fim de semana, irá receber
o título de cidadão...
Ele
me interrompeu a fala e pude notar que estava contrariado e triste. Disse-me que
não gostava de tais homenagens e que deveriam ser outros amigos espíritas ou instituições a recebê-las e não Chico Xavier.
─ Mas, Chico, acho que é muito bom para divulgar
o Espiritismo.
─ Mas não
deveria ser eu.
Na
minha ingenuidade, perguntei:
─ Você, desde quando começou sua tarefa, não
sabia que isso estava incluído em seu trabalho espírita?
De
pronto e rapidamente respondeu:
─ Conquanto me reconheça sem qualquer
merecimento, seria uma descortesia de minha parte à amizade sincera dos amigos
generosos que na verdade querem homenagear a Doutrina Espírita ligada ao
Evangelho de Jesus, e não a mim.
Todas as vezes que ele recebeu tais
homenagens as transferia para os trabalhadores espíritas e instituições ativas
do movimento espírita.
De volta à minha oficina de ourives, pensei:
─ É... O
Chico é um espírito diferente!... A distância que me separa dele é muito
grande! Agradeço a Jesus por tê-lo como amigo.
Concluindo o nosso estudo a respeito das
homenagens, vejamos as sábias respostas de Francisco Cândido Xavier:
“P – O Nobel da Paz mudaria o seu ritmo de
trabalho?
R – Há
várias décadas, encontrei tanta alegria e tantas bênçãos de paz nos serviços de
médium, entre os benfeitores espirituais e os amigos do plano físico, ou
melhor, entre os bons espíritos e os homens, nossos irmãos e irmãs da humanidade, que, a meu ver, conquanto respeito profundamente as homenagens e
honrarias propriamente da Terra, nenhuma premiação especial do mundo seria para
mim maior que esta: a de prosseguir cumprindo os meus deveres mediúnicos,
tanto quanto isso se me faça possível.
E peço
licença para dizer que penso desse modo porque os amigos da vida comunitária
poderão, por bondade, homenagear o trabalho dos bons espíritos em mim, que me
reconheço claramente sem méritos para isso; e os bons espíritos, embora
conhecendo os meus defeitos e imperfeições de criatura humana que sou, há mais
de meio século têm me aceitado em serviço deles, com tolerância e
benevolência.
Se pudesse, a quem você outorgaria semelhante
honra?
(...) imagino que se a uma formiga fossem concedidos os precisos
recursos para indicar quem seria o seu maior benfeitor, e aquele a quem se deveria conferir o maior prêmio do
mundo, a formiga, certamente, votaria no Sol que lhe garante a vida. Eu, na
condição de inseto humano, se fosse convidado a me pronunciar sobre o mais alto
vulto da humanidade, digno de receber o Prêmio Nobel da Paz, votaria em Jesus
Cristo, entregando-se os benefícios de semelhante premiação aos nossos irmãos
internados nas instituições de assistência social, das quais Jesus é sempre a
inspiração, a força, a bênção e o alicerce de origem.”
ENTENDER CONVERSANDO – IDE, Cap. 9, p. 110 e 112.
Cezar Carneiro
Uberaba, janeiro de
2014.