(...) À medida que Chico [Xavier] incluía poesias e novas edições de Parnaso 1 iam sendo publicadas – foram seis no total –, as semelhanças com o tipo de linguagem dos supostos autores foi ficando cada vez mais flagrante. As psicografias de Cruz e Souza, pai do simbolismo brasileiro, por exemplo, lembram a última fase do autor. Os versos musicais do poeta brasileiro são reproduzidos com exatidão por Chico Xavier, segundo o estudo feito pelo pesquisador Alexandre Caroli Rocha na Unicamp. Em Augusto dos Anjos, estão lá os versos decassílabos e a mesma rima.No jornal Correio do Povo de 1941, o poeta gaúcho Zeferino Brasil – que, depois de morto, também teria escrito poemas pela mão de Chico – concluiu: “Ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram realmente transmitidas do Além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar assombrosamente os maiores gênios da poesia universal”. O psiquiatra e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Melo Teixeira, que conhecia Chico pessoalmente, achava quase impossível a explicação do pastiche. “Fazê-lo, como Chico Xavier o costuma, de improviso, numa elaboração e redação instantâneas, sem segundos sequer de meditação para coordenar ideias, passando em sucessão ininterrupta da prosa ao verso, da página de ficção para a de filosofia, (...) é alguma coisa de inexplicável, que não está ao alcance de qualquer imitador de estilos ou amadores de contrafação literária”, escreveu no Diário da Tarde, de Minas, em 1944. Segundo Teixeira, para fazer um pastiche digno, seria preciso dedicação exclusiva, edições constantes, mil e um retoques. Nas biografias de Chico – são 215 catalogadas pela Fundação Cultural Chico Xavier de Pedro Leopoldo –, não se tem notícia de que o médium mineiro conseguisse abrir um livro durante o triplo expediente. O repórter de O Globo Clementino de Alencar, que escreveu uma série de reportagens em 1935 sobre o médium, não encontrou nas prateleiras da casa em que Chico morava com os irmãos nenhum livro dos escritores e poetas ressuscitados em Parnaso. Em 1931, sequer a capital Belo Horizonte tinha biblioteca – lembra Geraldo Lemos Neto, presidente da Fundação Cultural Chico Xavier, de Pedro Leopoldo. O jornalista e escritor Mário Donato, em um artigo no Estadão de 1944, estava convencido de que não era mesmo Chico quem escrevia os poemas. E, na falta de explicações científicas sobre a psicografia, era melhor colocar tudo na conta do milagre 2. “É milagre, e o milagre, não explicando nada, explica tudo. Pois se não admitirmos que o caso é milagroso, temos que levar o Chico Xavier à Academia Brasileira de Letras e, naturalmente, estamos mais dispostos a reconhecer-lhe amizades no Céu que direitos literários ao Petit Trianon”, ironizou.Milagre ou não, o certo é que Parnaso segue na mira de pesquisadores. Mais recentemente, novos estudos sobre a antologia, que na última edição, publicada em 1955, reuniu 256 poemas atribuídos a 56 autores, usam comparações minuciosas entre os poemas escritos em vida e os psicografados por Chico. As semelhanças são espantosas. “Quem ideou os poemas mediúnicos possuía necessariamente um profundo conhecimento das obras dos poetas, além da habilidade para compor poemas inéditos”, diz o pesquisador Alexandre Caroli Rocha, da Unicamp. O resultado das comparações deixou Rocha intrigado. No seu doutorado, ele se debruçou sobre os textos em prosa atribuídos por Chico ao jornalista e escritor maranhense Humberto de Campos, morto em 1934, e que aparece em 12 obras entre 1937 e 1969. De novo, Rocha encontrou simetrias impressionantes. As semelhanças com o estilo de Campos levou a viúva do escritor a pedir na Justiça os direitos autorais pelas obras lançadas por Chico (...). Campos tinha uma linguagem coloquial e bem-humorada, características que a psicografia de Chico preservou, segundo Rocha. (...) ____________________
Fonte: Revista Superinteressante | Dossiê Superinteressante – Chico Xavier | Edição 333-A | Setembro de 2014 | Editora Abril. 1 Parnaso de Além-Túmulo, Francisco Cândido Xavier, por espíritos diversos, FEB – Federação Espírita Brasileira. Obra lançada em 1932, quando Chico Xavier estava com apenas 22 anos de idade. 2 Os fenômenos mediúnicos dispõem de ampla e farta comprovação científica, exposta em inúmeras obras de autores diferentes, à disposição de quem queira estudar. Conforme demonstra a Doutrina Espírita, não há milagres no Universo, senão leis perfeitas que precisam ser devidamente compreendidas pela ciência humana, por meio de pesquisas contínuas. (Notas de Fernando Peron, outubro de 2014.)
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Projeto Saber e Mudar | 7 de outubro de 2014
08/10/2014
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