Chico Xavier entre o casal Freitas e Marlene Nobre "Não sei quando o admiro mais: se como Kardec ou Chico". O colaborador da Folha Espírita, Conrado Santos, diante do impacto da mensagem de Hilário Silva, procurou ouvir-me em entrevista, uma vez que eu era editora-chefe e responsável pelo jornal há 8 anos, desde a desencarnação de meu marido, Freitas Nobre, para que eu expusesse, claramente, aos leitores, a minha opinião sobre o assunto. E o fez por que, ele mesmo, assim como toda a Redação, já a conhecia, desde longa data. Concordei em expressar-me, abertamente, tendo em vista que já tinha sido liberado pela Espiritualidade do longo silêncio de quatro décadas. Segue, na íntegra, a entrevista:
Folha Espírita: Como recebeu a mensagem de Hilário Silva sobre a volta de Allan Kardec?
Marlene Nobre: Com naturalidade e, por que não dizer, com um misto de alegria e alívio? Naturalidade, porque há cerca de 40 anos tenho certeza de que Chico Xavier é a reencarnação de Allan Kardec, o "apóstolo da revolução humana", segundo a feliz denominação de Emmanuel. Alegria e alívio pelo o fato de poder exprimir-me, abertamente, sobre o assunto, expondo, com clareza, minhas convicções íntimas. (...)
FE: Outros companheiros de Doutrina tinham, também, as suas convicções?
MN: Tenho a dizer que muitos companheiros de Uberaba e de outras regiões, que conviviam conosco, tomando parte nessas reuniões dos primeiros tempos da CEC, tinham certeza de que Chico Xavier era Allan Kardec. Cito alguns deles: Corina Novelino, Maria da Cruz e Heigorina Cunha, de Sacramento; Isabel Bueno, Dora Vilela, Lygia Alonso Andrade, Cleuza e Weimar Muniz de Oliveira, Gabriel Pális, Jarbas Leone Varanda, Eurípedes Tahan Vieira, e eu mesma, da turma de Uberaba.
FE: De onde vem a sua convicção tão firme?
MN: Vou descrever o fato que vivi e que não posso transferir a ninguém. (...). Certa vez, em uma noite de 1959, nos estávamos na sede da CEC, já construída naquela época, a fila prosseguia normalmente, quando Chico me chamou. Nesse momento, tive um "insight", algo inexplicável, pelos sentidos comuns. Voltei-me para responder-lhe e não o vi. Era Allan Kardec que eu via e, com naturalidade, respondi-lhe: "Professor, o que o senhor deseja?" Se não disse exatamente isso, foi algo assim. Em questão de segundos, o ambiente de Uberaba havia desaparecido e eu parecia reviver uma cena do século XlX. Fiquei encabulada, ao despertar daquele estado modificado de consciência, que durou alguns segundos. Chico sorriu muito, vendo meu embaraço e disse: "Uai, Marlene, você está vendo o nosso passado?!?" Lembro-me apenas de ter repetido a palavra professor, ainda um tanto aturdida com o fenômeno!
FE: Depois disso, teve outros fatos indicativos?
MN: Inúmeros outros. Certa vez, após os trabalhos da CEC, estávamos no cafezinho, com alguns companheiros de Uberaba e visitantes de outra cidade, quando Chico contou-nos detalhes acerca do período de obsessão vivido por sua irmã, Maria Xavier Pena, e que o levou ao Espiritismo, aos 17 anos. Disse o médium que o espírito obsessor afirmava categoricamente: “Eu odeio a família de Allan Kardec”, repetindo a frase muitas vezes. Ora, nesta existência, o estudo da obra de Allan Kardec nunca fez parte da vida familiar de Chico! Muito pelo contrário, todos eram muitos católicos, sendo a primeira vez que tomavam conhecimento dela. Tudo indica que esse espírito acompanhava a vida da família há muito tempo. Chamo a atenção também para dois detalhes curiosos. O primeiro deles refere-se às preces proferidas nas casas espíritas. Não tenho visto ninguém, nas inúmeras instituições que tenho visitado, fazer preces dirigindo-se diretamente a Allan Kardec, pedindo proteção a ele, como o fazem ao espírito de Bezerra de Menezes ou a outro benfeitor espiritual. Acredito que, inconscientemente, todos nós sabemos que Kardec está reencarnado. Há outro detalhe publicado na Folha Espírita de outubro de 1976 e que faz parte do livro "Lições de sabedoria" (cap. XVI). Em reportagem especial, Fernando Worm descreveu a apresentação do médium Luiz Antônio Gaspareto, em Uberaba, no Grupo da Prece, recebendo os pintores na presença de Chico Xavier. Nela, há um diálogo interessante entre o espírito Toulouse Lautrec e o médium anfitrião. Lautrec dirigiu-se a Chico, respondendo: “Merci, Allan!” (Obrigada, Allan!). Lembro-me também de um fato importante: Emmanuel, o notável espírito-guia, responsável por toda a produção mediúnica de Chico, pertence à falange do Espírito da Verdade, que atuou ao tempo da Codificação. A mensagem "O egoísmo", reproduzida em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", é de sua autoria, segundo informação do médium.
FE: Chico Xavier disse algo sobre esse assunto? Afirmou ser Allan Kardec? MN: Chico sempre foi muito discreto. Aos que lhe perguntavam sobre suas vidas anteriores, afirmava ser “cisco” e nada saber a respeito. Não é curioso que sendo a antena psíquica mais apurada do mundo Emmanuel não nos dê noticias de Allan Kardec, por seu intermédio? Em nossa convivência mais íntima, porém, no período das atividade inicias da CEC, tivemos muitas respostas veladas. Chico contou-nos, por exemplo, detalhes curiosos sobre a correspondência de Allan Kardec com a famosa escritora francesa George Sand. Ele sabia de cor períodos inteiros das cartas do codificador e as respectivas respostas. Na ocasião, perguntei ao Dr. Canuto Abreu, hoje desencarnado, o maior colecionador do acervo de Allan Kardec após as duas guerras mundiais, se tinha essas cartas e ele respondeu negativamente. Não sabia da existência delas. De onde Chico tirava tudo isso se ninguém tinha notícias dessas cartas? Ficamos sabendo, por exemplo, que em uma das correspondências George Sand disse a Allan Kardec que ela e Chopin viviam como duas freiras, e mais: que ela havia se tornado espírita, mas preferia manter-se em silêncio para não prejudicar o desenvolvimento da doutrina iniciante por reconhecer-se uma pessoa muito polêmica e mal vista pela sociedade da época. Chico contou-nos também que no dia 18 de abril de 1857 Allan Kardec saiu pelas ruas de Paris distribuindo exemplares de "O Livro dos Espíritos" e que havia dado um exemplar a George Sand.
FE: E a comemoração do centenário de "O Livro dos Espíritos"?
MN: Ah, sim, é muito interessante! Chico contou-nos que no dia 18 de abril de 1957, data comemorativa do centenário de "O Livro dos Espíritos", todos os trabalhadores do Brasil e de outros países foram festejar, em um grande encontro realizado no mundo espiritual, num local da latinidade. Chico foi com os benfeitores Emmanuel, Bezerra de Menezes, André Luiz e outros, tendo a enfermeira Scheilla ficado para tomar conta das tarefas em nosso país. O médium falou da comoção de toda a assembleia com a comemoração. Diante do relato, eu quis saber quem presidia tão importante conclave e Chico respondeu-me, simplesmente: “Leon Denis presidiu a reunião”. Mais um indicativo de que Allan Kardec está reencarnado! Se não estivesse, evidentemente, a direção do conclave seria dele!
A entrevista completa e muitas matérias e autores sobre esse assunto estão no livro imperdível (lançamento) de Marlene Nobre: “Chico Xavier – Meus pedaços do espelho" (FE Editora, p.435-453).
Enviado por Tânia Reis | Vinha de Luz Editora | Lea Caruso | Foto in: http://www.chicoxavier.me/#!slideshow/ckb
02/12/2014
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