SEM USO DE ENERGIA ELÉTRICAInvenção mineira ilumina casas em mais de 15 países
PUBLICADO EM 30/01/15 - 16h14 | Por JULIANA BAETA
O mecânico ao lado de sua invenção, que hoje ilumina casas em mais de 15 países pelo mundo
Preocupado com o apagão do início dos anos 2000, o mecânico Alfredo
Moser, de 63 anos, inventou um sistema sustentável de iluminação que
hoje já é utilizado em mais de 15 países. Chamada “Lâmpada de Moser”, a
invenção necessita apenas de uma garrafa pet, água potável e “duas
tampinhas” de água sanitária ou cloro.
Hoje, aposentado, o inventor instala a lâmpada em casas de moradores de
Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde mora. “Eu cobro um dinheirinho, mas
tem gente que é muito carente, né, muito humilde, aí eu nem cobro nada
não”, conta.
Nascido em Santa Catarina, se mudou para Brasília entre as décadas de
70 e 80. Foi quando começou a trabalhar em três firmas na cidade, e uma
delas, em um lugar onde caía muito avião. “Aí um dia eu falei pros
meus colegas: e quando cair o avião e tiver escuro e num tiver nem um
fósforo pra iluminar? Falei com meu chefe e ele me ensinou a fazer
uma iluminação com uma lupa. Aí fiquei com isso na cabeça”, diz.
E a ideia continuou na cabeça do mecânico até ele se mudar para
Uberaba. Já no Triângulo Mineiro ele conta que o ponto de partida foi
um encontro que teve com o médium Chico Xavier. “Um dia eu estava
andando de bicicleta e vi o Chico Xavier na rua. Ele estava com uma
senhora e um senhor ao lado, e eu pensei que aquela seria a minha chance
de cumprimentar ele. Porque nunca tinha como, ele ficava escrevendo,
sempre cheio de gente em volta, nunca dava pra chegar perto. Aí fui
conversando com ele e ele me disse: "Olhe, Moser, tem uma luz na sua
vida. Mas essa luz não vai ser só sua não, vai ser de todo mundo. E não é
a luz divina, esta é só quando você morrer. Quando a pessoa faz muita
coisa boa, quando morre, ela tem essa luz também”, lembra.
Com o impacto do encontro com o médium, o mecânico continuou matutando a
ideia até a crise de energia que atingiu o país no início dos anos
2000.
FOTO: REPRODUÇÃO/ YOUTUBE |
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A invenção pode ser utilizada em diversos ambientes |
Em 2001, o assunto nos jornais e na televisão era o apagão. “Eu fiquei
preocupado, queria fazer uma luz pras pessoas. O Chico falou pra eu
fazer isso. Mas eu não sabia como começar. Até que um dia minha mãe me
chamou na casa dela e minha prima estava com uma garrafinha de Coca-cola, daquelas pequenas de plástico, meio torcida, em cima da mesa. E
quando bateu um sol clareou muito a parede. Aí eu pensei: já sei, vou
começar por aí", conta.
E foi assim que em 2002 ele pegou uma garrafa pet, colocou água,
quebrou umas telhas em sua casa, encheu a garrafa com água do
ribeirinho - potável, na época - e colocou “duas tampinhas de água
sanitária pra água não esverdear”. A partir desse momento, Moser
descobriu a luz e viu que ele poderia ter a casa iluminada durante o dia
sem precisar de energia elétrica.
A lâmpada de Moser tem em torno de 60 Watts e ilumina os ambientes
durante o dia utilizando apenas a luz do sol. É um sistema de refração
de luz solar que tem validade de pelo menos 20 anos. “Aqui em casa as
minhas lâmpadas de garrafa já tem uns 15 anos sem a gente nem precisar
mexer nelas”, diz o inventor.
“Nas Filipinas, o povo está usando mais do que aqui. Já me chamaram para
ensinar isso em alguns lugares, mas eu só fui na Coreia do Sul até
hoje, no ano passado, pra dar uma palestra na embaixada brasileira lá.
Foi muito bonito, porque eu vi umas moças chorando lá, uns rapazes
também, emocionados. A gente fica feliz, né? Eu não conversei muito com
eles não, porque eu falo uma língua e eles falam outra. Mas a gente fica
satisfeito mesmo assim, né?”, conta o mecânico.
Em 2011, a ideia foi adotada por uma ONG filipina e acabou se
transformando no projeto "Liter of Light", e se espalhou por mais de 15
países que sofrem com a falta de iluminação pública.
Segundo Moser, o retorno não é financeiro, mas é satisfatório. “Eu fico
vendo os jovens aprendendo a instalar isso aí, ganhando um dinheirinho.
Fico ensinando os meninos. Tá dando emprego pros outros e isso é muito
bom. Um amigo meu disse que já viu até os índios usando isso na oca
deles. Mas lá eles não deixam tirar foto, se tirar os índios arrancam o
filme fora”, diz.
“Parece que lá nas Filipinas o povo é muito pobre mesmo, e tem gente
que manda e-mail no computador, meu filho é que mexe com isso, e diz que
lá a luz custa o olho da cara e que as crianças não podiam nem estudar
porque a casa deles não têm janela, só porta, e é tudo escuro, né? Aí
nesse e-mail eles falaram que tem um menino lá de 12 anos que agora já
tá até estudando por causa disso”, completa.
Moser não recebe nada pelo invento, mas conta que recentemente procurou
ajuda de algumas pessoas para tentar patentear a criação junto aos
órgãos públicos. O problema é que é preciso investir um alto valor
para apresentar um protótipo e a burocracia estagnou o processo.
Ele também desenvolve um projeto no qual placas solares poderiam captar
a luz durante o dia e iluminar a noite, mas ele ainda não encontrou
alguém para bancar o projeto. Mesmo assim a cabeça não para de
funcionar. “A pessoa que inventa num ganha nada, quem ganha é os
outros, né? Igual o Santos Dumont, que inventou o avião”, diz.
“Agora tem o problema da água, né? Estou com um invento na cabeça aí,
quem sabe esse ano ou ano que vem eu consiga fazer funcionar. Mas aí
tenho que chamar o governo pra me ajudar, pra instalar. É um invento que
vai servir pra não faltar água”, completa. “Enquanto eu existir na face
da Terra eu vou inventando. Inventei outro negócio também, que são
vassouras feitas com aquelas fitas de embalar caixote, sabe? Mas essa
invenção é pra dar mais serviço pro povo”, brinca.
FOTO: REPRODUÇÃO/ YOUTUBE |
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A invenção leva o sobrenome do inventor: Lâmpada de Moser |
É necessário furar uma parte do telhado (de amianto ou de barro) para
encaixar a garrafa, que deve estar cheia de água portável. “Antes a
gente fazia com a água do ribeirinho, que era limpa, mas agora já chega
água tratada na casa de muita gente”, explica. Aí coloca-se a medida de
duas a quatro tampinhas de garrafa pet com cloro ou água sanitária para
mantê-la limpa e evitar os mosquitos da dengue.
“É porque às vezes, com o tempo, a tampa solta e fica a garrafa aberta
pra fora do telhado, né, aí pode dar dengue se não tiver cloro”, diz o
inventor.
A tampa, então, é vedada assim como a garrafa no telhado, de forma
que metade dela fique para fora do telhado, onde irá receber a luz, e a
metade de baixo dentro da casa, que irá refletir essa luz.
“Aí você pode colocar umas quatro no banheiro, que vai iluminar
bastante, mas num põe elas muito perto da parede não, põe um pouco
distante. Teve uma mulher que falou comigo que ia colocar corante pra
fazer várias luzes coloridas, e também dá certo. Pode pegar garrafinha
colorida também, fica bem bonito. Ilumina muito, até em dia de chuva.
Mas claro que não ilumina tanto igual quando faz sol. Ilumina assim como
se fosse uma claraboia, sabe?”.
E dá para adaptar a ideia a qualquer material ou a qualquer telhado,
"mesmo aqueles telhados mais inclinados igual avião subindo", como diz o
inventor.
Às pessoas leigas e sem conhecimento mínimo sobre o assunto, como a
repórter desta matéria, Moser dá a dica: “Acho melhor você pedir para
outra pessoa te ajudar, viu, vai numa marmoraria, essas lojas que
vendem tanque, pia, leva a telha se for de barro, e pede pra ele
furar e colocar a garrafa pra você. Eles fazem isso rapidinho, aí eles
vão vedar direitinho com uma massa plástica, fica certinho. Aí depois é
só você levar a telha de volta e encaixar de novo no telhado”.
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Jornal O Tempo | Cidades | 30 de janeiro de 2015
06/02/2015
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