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Notícia

Chico Xavier visto pelo historiador Geraldo Leão


FEComo conheceu e como avalia a importância de Chico Xavier para Pedro Leopoldo?


Leão - O meu primeiro contato com o Chico se deu quando eu contava aproximadamente 20 anos. Eu estava naquela efervescência da juventude e namorando, circunstâncias que, de certa forma, não me faziam perceber sua importância. Ele frequentava muito a casa de meu pai, que era motorista de praça, e o levava para viajar ou visitar a periferia. Inclusive, meu pai fez várias fotos de Chico Xavier, que fazem parte do acervo. Passado algum tempo é que fui entendendo quem era realmente Chico Xavier e o que ele representava para Pedro Leopoldo. Descobri, como muitos, que ele era uma pessoa fora do comum.



FE - Em janeiro, completaram-se 50 anos da ida de Chico de Pedro Leopoldo para a Uberaba. Como era a cidade com Chico e depois, sem ele?


Leão - Só para você ter uma ideia, na época do Chico em Pedro Leopoldo, ou seja, há 50 anos, a cidade contava, entre pousadas, pensões e hotéis, com aproximadamente oito unidades. Hoje conta com apenas dois hotéis. Pedro Leopoldo com o Chico Xavier era outra. Às segundas e sextas-feiras, a cidade ficava tomada por centenas de visitantes, que vinham assistir às sessões no Centro Espírita Luiz Gonzaga, para receber uma mensagem, um conforto ou apenas conhecer o Chico. Pela Rua São Sebastião toda se via automóveis vindos de todos os cantos do país. E, também do exterior, Chico Xavier recebia visitantes. Um deles foi o famoso professor Pietro Ubaldi, em 1951, que, na ocasião, recebeu notícias da mãe, em italiano, através do Chico. Outra visita ilustre foi a do jornalista Clementino de Alencar, de O Globo, no primeiro semestre de 1935. Na companhia de um fotografo, ele assistia às reuniões, fazia entrevistas, fotografava e enviava quase diariamente as matérias para a sede do jornal, no Rio de Janeiro. Esse valioso material com ilustrações interessantes foi inserido no livro "Notáveis reportagens com Chico Xavier", editado pelo IDE, de Araras, SP.



FE - D. Cidália nos disse que o Sr. fazia gravações para o Chico. Quais?


Leão - Eu fiz, ao longo do tempo, muitas gravações para o Chico, sobretudo de músicas, que D. Cidália, sua irmã, enviava para Uberaba. Em compensação, ganhei um grande presente dele. Quando Chico esteve na casa dela, acho que em janeiro de 1982, pedi à Cidália que intercedesse junto a ele para gravar para mim a poesia "Alma Gêmea", que está no livro "Há 2.000 anos". Ele disse para a irmã: “Perfeitamente”. E fez a gravação pausadamente. Essa relíquia foi remasterizada em CD pelo amigo Oceano Vieira de Melo, da Versátil Home Video, a quem reitero agradecimentos.



FE - A música era o prazer predileto de Chico?


Leão - Ele era apaixonado por música. Lembro-me que o Chico sempre passava na hora do almoço em uma loja de eletrodomésticos daqui de Pedro Leopoldo, a “Radiolândia”, onde sempre havia uma radiola funcionando. Quando ele aparecia por lá para ouvir músicas, eu aproveitava e ia ouvir também. Um dia ele chegou para o dono da loja, Antonio Rafael, que faleceu em janeiro deste ano, e lhe disse: “Oi, Nonô Rafael, coloque para mim os "Prelúdios" de Liszt que eu estou doido para ouvir isso hoje”. E nós ouvimos com ele. Era costume o Chico e alguns amigos, após o término das reuniões, irem para a casa de André Luiz, seu irmão, para tomar um lanche. Isso acontecia lá pela uma, duas da madrugada. Como eu morava em frente à casa do André, na Rua Benedito Valadares, tinha a oportunidade de ouvir as músicas e as deliciosas gargalhadas do Chico. Sempre que ia fazer suas psicografias Chico pedia música, como se pode comprovar no DVD do programa Pinga Fogo, da TV Tupi, do qual ele participou. 



FE - O Sr. acha que Chico Xavier sofreu alguma pressão do Clero para deixar Pedro Leopoldo?


Leão - Corre a lenda aqui que o Padre Sinfrônio Torres de Freitas, que ficou na cidade por mais de 40 anos, teria sido um dos responsáveis pela saída de Chico de Pedro Leopoldo. Não creio, e explico: no dia da inauguração da Praça Chico Xavier, em 15 de novembro de 1980, Chico fez um discurso extraordinário, que eu tive a felicidade de gravar na integra, com meus equipamentos. Gravei os discursos de todos os oradores. O Chico, na sua fala, nos deu uma lição de vida, contando toda a sua trajetória por Pedro Leopoldo. Num dos trechos de seu discurso, falou: “Agradeço a presença do Padre Sinfrônio Torres de Freitas, pastor das almas de Pedro Leopoldo”. Quando ele disse isso, uma estrondosa salva de palmas ocorreu. Logo depois dos discursos, Chico foi para a casa de sua irmã, Luiza Xavier, a mais velha, e num dos quartos recebia os visitantes que o vinham cumprimentar. Formou-se uma grande fila e nela pude divisar, meio espantado, a presença de três irmãs de caridade de Pedro Leopoldo, com seus hábitos, para cumprimentá-lo. Pode ser que alguns não gostassem do trabalho do Chico, mas posso afiançar que ele tinha amigos e simpatizantes em todos os redutos religiosos.



FE - Além de fotos, quais os materiais do Chico o Sr. tem para expor?


Leão - Temos bastante coisa. Em 1998, aqui, em Pedro Leopoldo, com patrocínio da prefeitura, foi realizada uma exposição em seis grandes salas, na Escola São José, retratando a cidade desde o seu inicio até aquele ano de 1998. Uma das salas foi exclusivamente para Chico Xavier. Nela colocamos a máquina de escrever, que ele usava na Fazenda Modelo, pertencente ao meu acervo, a cadeira na qual ele se sentava para psicografar no Centro Espírita Luiz Gonzaga, hoje exposta no Memorial, o livro de ponto da Fazenda Modelo, em que Chico assinava entrada e saída ao serviço, lápis que usou nas psicografias, óculos, a xícara de chá de seu uso, dentre outros. A particularidade da sala é que fizemos também um serviço de som com gravador autorreverse, que reproduzia mensagens na voz do Chico. Então, as pessoas viam os objetos que pertenceram ao Chico e ouviam a sua voz. Como já frisei, parte desse acervo se encontra exposto no Memorial Chico Xavier, instalado na sede da Unimed de Pedro Leopoldo. Precisamos de um espaço maior, se possível exclusivo, para darmos mais destaque a tudo aquilo que temos do inesquecível Francisco Cândido Xavier.
(...) Neste recanto das Minas Gerais nasceu e viveu por meio século a figura mais expressiva que conheci e que o Brasil inteiro reconhece como um dos mais belos modelos de conduta cristã a ser seguido por todos nós. Falo de Chico Xavier, uma figura ímpar, inesquecível, um orgulho para o Estado e o Brasil. (...) Chico gostava de cinema. Certo dia dos anos 50, fui assistir ao filme Carrossel e lá estavam Chico Xavier, o irmão André Luiz e o Nelson Spampato, colega de trabalho de Chico na Fazenda Modelo. Ao final do filme, Chico disse: “Isso não é um filme, é uma poesia”. (...) 
Chico Xavier dizia que ao contemplar Pedro Leopoldo enxergava a Roma Imperial com suas obras gigantescas e os habitantes com seus usos e costumes. (...)


Folha Espírita | 2009 | Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz - Serviço Editorial | Ismael Gobbo
02/04/2010
 


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