“A verdade que fere é pior do que a mentira que consola” - Chico Xavier
Por Heitor Vilela | Diário da Manhã | 1 de abril de 2015
No começo do século passado, no dia 2 de abril de 1910, nascia na
pequena cidade de Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais, em meio
às serras e cachoeiras que embelezam a região, o garoto Francisco. Não
por acaso, foi gerado no seio de uma família pobre, que, com muita luta e
dificuldade, batalhava para manter os dez filhos do casal, um vendedor e
uma lavadeira, ambos católicos e analfabetos.
Em meio à dificuldade e hostilidade familiar, Chico, desde os quatro
anos, manifestava o conhecimento proveniente do universo não material.
Ainda criança, sem frequentar a escola, conversava corretamente sobre
medicina, ciências da natureza e literatura, sabendo declamar poesias
clássicas inteiras. O jovem garoto, ainda analfabeto na época, nunca
disse que eram dele tais conhecimentos, mais ainda, não sabia explicar.
Como toda criança católica, temia a Deus e acreditava em assombrações.
O garoto Chico tinha contato direto com os espíritos desde muito
jovem. Como a família era grande, a fome apertou, por isso o menino foi
morar primeiramente com uma madrinha, que o tratava extremamente mal,
com humilhações e espancamentos. Depois o jovem Francisco voltou para a
casa dos pais, onde foi morar com a madrasta e os demais irmãos, todos
eram tratados com muito carinho.
Sua escolaridade vai até o curso primário, como se dizia antigamente.
Trabalhou a partir dos oito anos de idade, de 15h às 2 da madrugada, em
uma fábrica de tecidos. Dos quatro empregos que teve, por 32 anos
trabalhou na Fazenda Modelo do Ministério da Agricultura, em Pedro
Leopoldo e Uberaba, nesta última cidade, a partir de 1959, quando para
lá se transferiu.
Era extremamente religioso e procurou, dentro de suas crenças, o
padre da paróquia que frequentava com sua família. O padre, no entanto,
negou ao garoto as respostas sobre aquele fenômeno estranho, se limitou a
dizer que eram “obras de Satanás ou que eram apenas fantasias de
menino”. Mas essa explicação não foi suficiente para o jovem Chico.
Vida devota
Em 1927, então com dezessete anos de idade, Francisco perdeu a
madrasta Cidália e se viu diante da insanidade de uma irmã, que
descobriu ser causada por um processo de obsessão espiritual. Por
orientação de um amigo, Francisco iniciou-se no estudo do Espiritismo.
Logo deixou de ser católico e se tornou espírita convicto nos
ensinamentos publicados por Kardec.
No ano de 1927, funda em Pedro Leopoldo, junto com outras pessoas, o
Centro Espírita Luiz Gonzaga, onde trabalhava quase sem descanso no
atendimento ao público. Filas quilométricas se formavam com pessoas de
todas as partes do mundo e condições econômicas para ter uma consulta
com o médium.
Chico sempre se sustentou com o salário do próprio emprego, não
onerando a ninguém. Aposentou-se como datilógrafo subordinado ao
Ministério da Agricultura. Jamais lucrou como médium. Onde passava e
atendia pessoas, ganhava dos mais simples aos mais caros tipos de
presentes (canetas, fazendas, carros), mas de tudo se desfazia
educadamente.
Dos quatrocentos e doze livros psicografados, os quais pela lei dos
homens lhe pertenciam os direitos autorais, de todos se desfez doando o
lucro para centros espíritas e instituições beneficentes, num verdadeiro
exemplo vivo de cidadania e amor ao próximo. Ao todo, Chico Xavier
vendeu mais de 50 milhões de livros ao redor do mundo, se tornando o
escritor brasileiro de maior sucesso da história.
O médium morreu aos 92 anos de idade, em decorrência de parada
cardiorrespiratória, no dia 30 de junho do ano de 2002. Chico dizia que
iria desencarnar em um dia em que os brasileiros estivessem muito
felizes e em que o país estivesse em festa, para assim a morte dele não
causar tristeza. O país festejava a conquista do penta na Copa do Mundo
de futebol daquele ano, no dia de seu falecimento (Chico morreu cerca de
nove horas depois da partida Brasil x Alemanha).