Por Elcio Braga
A trajetória do médium Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, um dos mais importantes símbolos do espiritismo no Brasil, ganhou repercussão nacional depois de uma série de reportagens publicadas pelo GLOBO, a partir de 1935. Foi a primeira vez que isso aconteceu: até então, o médium, de 25 anos, era um fenômeno local. O autor da série foi o repórter Clementino de Alencar, que passou dias em Pedro Leopoldo, a pequena cidade natal do médium, a 46 quilômetros de Belo Horizonte, para documentar a vida do rapaz.
Na ocasião, o enviado especial do jornal destacou que Chico Xavier tinha pouco acesso a livros e revistas, já que era bastante humilde (filho de um operário e uma lavadeira) e vivia no interior. Aos 5 anos, ele ficou órfão de mãe e passou a morar com a madrinha. Intitulada “Mensagens do além túmulo”, a série revelou trabalhos que teriam sido “ditados” ao médium mineiro por diversos escritores, incluindo Humberto de Campos, Augusto dos Anjos e Olavo Bilac. Nascido em 2 de abril de 1910, Chico naquela época já havia psicografado o primeiro livro ("Parnaso de além túmulo"), de 1932, atribuído por ele a vários espíritos. A coletânea apresentava 59 poemas assinados por poetas ilustres mortos.
Na década seguinte, em 1944, nova reportagem do jornal contou a história da sua conversão ao espiritismo e descreveu as sensações que experimentava quando psicografava. Numa das fotos publicadas, aparece o prefeito de Pedro Leopoldo, dr. Cristiano Otoni, rubricando as mensagens de “Emmanuel” psicografadas pelo médium mineiro. Em 1959, Chico mudou-se para Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde passou a peregrinar por bairros da cidade, visitando lares carentes acompanhado por grande número de pessoas. Com os seus direitos autorais cedidos a editoras espíritas e a outras entidades, ele vivia do salário de datilógrafo do Ministério da Agricultura.
Em 1981, o deputado Freitas Nobre entregou 110 quilos de documentos ao Instituto Nobel, na Suécia, que justificavam a indicação de Chico Xavier ao Prêmio Nobel da Paz. Os papéis resumiam a sua trajetória: quase 2 mil entidades giravam em torno da renda gerada por suas campanhas beneficentes. Cerca de 10 milhões de brasileiros assinaram manifestos para que ele recebesse o Nobel. Escritor de mais de 400 livros psicografados que venderam milhões de exemplares, Chico Xavier morreu de parada cardíaca em 30 de junho de 2002, aos 92 anos, em sua casa em Uberaba.
Quase 13 anos após sua morte — curiosamente, ocorreu no mesmo dia em que o Brasil conquistou o penta na Copa do Mundo de futebol —, Chico Xavier agora poderá ser visto como se estivesse vivo no memorial que leva o seu nome, em Uberaba. Em tamanho natural, o médium, sentado, abaixa a cabeça, coloca a mão esquerda na testa e começa a psicografar mensagem do além. Não é fantasma ou reencarnação do famoso médium. Chico voltará graças à holografia, a técnica que usa a profundidade e o relevo para retratar uma imagem. O Memorial Chico Xavier terá investimento de R$ 6,780 milhões, com participações da Prefeitura de Uberaba, do Ministério do Turismo e do Instituto Chico Xavier. O prédio, de 2.700 metros quadrados, inclui auditório com 240 lugares. O Memorial também aceita doações de fotos, vídeos e documentos sobre o médium, que faria 105 anos nesta quinta-feira.
Médium. Em foto de 1935, Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier (à esquerda), durante a entrevista
(Agência O Globo)