Amigos e confrades espíritas: fiquei impressionado com o conteúdo desta psicografia atribuída ao nobre ex-presidente da FEB, Juvanir Borges de Souza, no último dia 16. Pesquisei sobre o médium que a recebeu, e o que pude saber é que o senhor Arael Magnus é um discreto senhorzinho de Goiânia, GO, mas que se notabiliza por incríveis textos recebidos de literatos e poetas. Vive, entretanto, no anonimato e é pouquíssimo conhecido no movimento espírita. Bem, a nosso modesto jeito de ver, o texto abaixo, prolixo, segundo reconhece o próprio autor espiritual, deve ser conhecido de todos, principalmente dos dirigentes espíritas. Juvanir questiona o que Chico já questionava: o elitismo no movimento espírita; a burocratização; o distanciamento da caridade, e até mesmo a presunção de superioridade de muitos no movimento espírita, sempre exortando a Kardec.Como a mensagem vem de um medianeiro absolutamente discreto e não vinculado às diversas correntes de pensamento que naturalmente permeiam o movimento espírita brasileiro, e como seu teor é fortemente moral, creio mesmo ser o digno posicionamento de Juvanir Borges. Portanto, não compartilho a mensagem para "cutucar" ninguém, mas vibro para ela seja lida, relida e meditada, a fim de que corrijamos erros históricos. Juvan Neto........................................................
MENSAGEM DE JUVANIR BORGES DE SOUZA Juvanir Borges de Souza, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira Estar do lado de cá é menos surpreendente do que se pressupõe. Mas, ao mesmo tempo, é assustador quando se constata quanto descaminho se percorreu, mesmo estando preparado, avisado, alertado a todo momento, tendo à disposição uma extensa planilha de ação correta, mormente quando se é privilegiado pelo conhecimento da realidade espírita. Desde aquele instante, em 1978, quando me dirigi à Federação, em que, junto de minha amada Yola, aceitei o convite trazido pelo Agadir, sabia, intimamente, que deveria me superar e surpreender, pois em meu coração palpitava uma intensa chama de gratidão: através da Doutrina Espírita, com a atuação de perspicácia de um médium simples, fui livrado de uma cegueira, que para alguns facultativos consultados era inevitável, num pequeno centro, Olímpia Belém! Meu desidério é de que muitas pessoas tomassem conhecimento daquilo. Não do "milagre" em si, mas do extraordinário roteiro de consciência lúcida e de pleno conhecimento da função da vida que me era apresentado pela prática em mim, não apenas pela teoria a qual me acostumara desde o berço, na minha querida Cataguases. De há muito desejo essa comunicação, mas fui pego por armadilhas e bloqueios urdidos por mim ou, pelo menos, estimulados também por minha "instituída autoridade", hipotecando apoio a decisões de antecessores, ou implementando situações que reforçassem o movimento que denominamos "pureza doutrinária". Minha manifestação não foi possível, em centenas de casas, por conceitos e definições que partiram também de minha condução como presidente da entidade. Fui cerceado e impedido dentro dos centros espíritas, com argumentações infraternas, e com a recusa sistemática e repetida, em centenas (isso mesmo: centenas!) de casas, das maiores e mais conhecidas às mais simples, afastadas, iniciantes. Na grande maioria, nem mesmo tive a oportunidade de me explicar, já que, por determinação, as manifestações de espíritos estavam "proibidas". Em alguns lugares, me coloquei na fila para o trabalho doutrinário de desobsessão, mas sempre a espera é muito grande, e os trabalhos são por demais corridos, sem atender a todos, com as justificativas, em sua totalidade provindo das "proibições e impedimentos", contidos nos estatutos, nas apostilas de educação mediúnica, em um monte de "sábias e eficientes" algemas, sobremaneira. Nas reuniões da própria Federação fui barrado e, estupefato, assisti a espetáculos de mistificação grosseira com famosos personagens que agora, penalizados com a destituição da condição receptora como médiuns, encenam recepções falseadas, interpretações teatrais, caricatas, aplaudidas, naturalmente, por obsessores batinados. Mas, por Misericórdia Divina, consegui essa abertura que me é oferecida agora, e agradeço aos que me ajudaram para esse intento, como aos sergipanos Peralva e Ederlindo (sergipano da Bahia), que aqui me dão apoio e auxiliam, como presente de aniversário. Como antes, ainda permaneço nas sendas da prolixidade, e faço um esforço para sintetizar meu recado, no que conto também com a compreensão e paciência dos que o recebem. UM RETORNO AO DESERTO Há perigoso e crescente desvio no movimento espírita, e diria, sem receio de errar, que estamos indo de Damasco para Jerusalém, voltando da Rua Direita para as frias colunas das sinagogas, devolvendo aos novos sacerdotes as "cartas de punição", de repúdio, de imperiosa obstaculação à manifestação dos espíritos na religião dos espíritos! Hoje, vejo como fomos infantis, (como fomos imprudentes na jactância!), e as escamas que Ananias havia tirado dos olhos do apóstolo estão sendo recolocadas para uma cegueira e escuridão imensas, em nome da vaidade e da permanência de sentimentos "estruturais" herdados de nosso passado clerical, vaticanizado! Minha iniciativa de agora é um dever de consciência, uma tentativa de reparação, e agradeço à Providência Divina por esse ensejo. Se não almejo convencimento, satisfaz-me a exposição de uma realidade que só agora detecto, e que imagino poder servir de alerta para recondução aos trilhos corretos. Desde minha passagem estou numa região de reparação, de recomposição, destilando, gota a gota, um sentimento de decepção pelas oportunidades desperdiçadas. E vejo nesse extenso nosocômio em que me encontro milhares de figuras que admirei e segui, e surpreendentemente, aqui estão, há décadas, na busca de saídas para a sua própria redenção. São personagens que se destacam pela cultura, pelo conhecimento, pela dedicação à causa da Doutrina Espírita. Foram vinculados diretamente à Federação ou a instituições independentes, como as de São Paulo e Rio de Janeiro, Minas, Rio Grande do Sul e outras. A cobrança é intensa, vultosa, dentro da consequência do "...a quem muito for dado....". Há tristes casos de demência crônica, onde orações auxiliam muito, como sabemos. Surtos psicóticos, revoltas momentâneas, inaceitação do quadro, infelizmente, são comuns. Claro, a presença de luminosas entidades, irmãos esclarecidos, é o socorro, a presença manifesta da Misericórdia Divina, acudindo indistintamente a todos nós. Mas, como "déspotas esclarecidos", muitos dos que reverenciamos como autênticos pilares se petrificam em inamovíveis conceitos discricionários e absolutistas, e por isso sofrem, e muito! Podemos situar nos meados de 1977 o marco da construção das barreiras, da instalação dos ferrolhos, do gradeamento da Doutrina Espírita. Editorial incisivo no "Reformador" em outubro de 77, e "Declaração oficial" no mesmo órgão em fevereiro de 78 revestidos de formidáveis intenções protetivas, estabeleceram estacas delimitantes, excluindo mais que conceitos e posições filosóficas, mas comunidades inteiras, de seres humanos necessitados de esclarecimentos. Sem cerimônia e limites, estabelecia-se ali, de modo impiedoso, a cisão, a discriminação, a separação de irmãos a quem devíamos, obrigatoriamente, estender os braços e acolher, mitigando-lhes a ignorância e informando-lhes (pelo menos) da realidade espiritual. Criamos nossa "cruzada", esquecendo a verdadeira lição da conquista pelo amor, pela tolerância, pela compreensão. Abraçamos a Doutrina, criando um verdadeiro exército de proteção, e viramos as costas aos irmãos. O alvo principal? Os terreiros de Umbanda, de Camdomblé, os rituais africanos, de mediunidade primária, os adeptos do esoterismo, de crenças orientais, os místicos, os que, por não conhecerem os fundamentos da vida espiritual e da relação verdadeira do intercâmbio entre os encarnados e não, se utilizavam do epíteto de "espíritas ou espiritualistas" em suas atividades. Exatamente os que deveriam ser esclarecidos, orientados, pela proximidade, semelhança, e por possuírem algumas informações sobre a vida espiritual e contato com o invisível. Exatamente os que, em análise primeira, são nossos irmãos mais próximos. Mas e a fraternidade? E a caridade? Detentores de informações e conhecimentos muito elevados, nós, os espíritas, precisamos ser arautos dessas verdades, levando a todos, denodada e incondicionalmente, os pormenores e racionais relações entre os mundos material e espiritual. Sem necessidade de proselitismo, sem imposição de pontos de vista pessoais ou corporativos. O roteiro indicado por Kardec e por outros luminares, ancorados na verdade do Nazareno, nos compele à interrelação plena com todos os que não conhecem os caminhos da alma, ou deles tenham apenas noções incompletas, rudimentares. A partir daquele editorial se consolida a instalação do extremamente comprometedor movimento de uma hipotética profilaxia do pavilhão espiritista. Refutariam, porém, os arraigados argumentadores dessa "assepsia" que as portas das casas continuam abertas, prontas ao acolhimento. Pura citação teórica, propedêutica negada pela prática, que limita, condena, exclui, separa, cinge! Até mesmo alguns nomes, indicativos de lugares, foram proscritos. Centro espírita? Nem pensar!!! Passaram a ser "fraternidades, casas, comunhões, sociedades, etc. Qualquer um que queira resolver uma dificuldade, de indagação interior, de problemas momentâneos, de compreensão da vida, - e que procure uma casa espírita - precisa primeiro se submeter a cursos, intermináveis exposições doutrinárias, entupir-se de leituras impostas, e aí foge o Espiritismo do caminho de espiritualizar primeiro, evangelizar depois. É como se alguém, ao precisar de um analgésico para uma dor de cabeça, tivesse que fazer antes um curso de medicina!
OS ESPÍRITAS AO MUNDO Ninguém informou tanto à humanidade acerca do mundo espiritual, suas peculiaridades, feições, resultados e consequências, quanto o extraordinário e iluminado Chico Xavier, através da recepção dos artigos, livros, romances, crônicas de André Luiz, Emmanuel, e muitos outros. Milhões - mesmo sem se tornarem espíritas - acordam na vida do etéreo conscientes, e se conduzem ou são conduzidos com mais segurança, sem grandes transtornos, por se recordarem de passagens e situações como as narradas em "Nosso Lar". Linguagem simples, direta, coloquial, sem mistérios, sem preciosismo, sem restrições. As concepções e revelações do mundo espiritual penetraram em milhões de lares, dos palacetes aos casebres, dos intelectuais aos simples de entendimento. Milhões sabem disso sem ainda ser espíritas! Decepcionante foi a descoberta feita por mim de que os livros que eu escrevi foram lidos por uma meia dúzia de pessoas, que em nada ajudaram, que ocuparam tempo e espaço, tanto quanto a maior parte das quilométricas "balaustradas" insertas por mim no "Reformador". E posso afiançar que meu exemplo não é solitário. Na realidade dos centros de hoje, se um jovem de 17 anos, do interior, pouco letrado, aparecer numa casa espírita receberá uma saraivada de questionamentos, de repreensões, e sairá (se tiver dinheiro) entupido de livros e apostilas teóricas, limitantes, desanimadoras. Ou seja: fora de cogitação novos "Chico Xavier" com a atual estrutura. Agora, inesperto consciente, percebo que, fosse escrever, usaria a mesma base do Tempo de Transição, e escreveria "Tempo de Revisão". O espiristérico e fantasioso "regeneração" se converte hoje em " degeneração". Fugimos do trilho! Perdemos o fio da meada! Caímos na cilada da vaidade, da arrogância, da presunção de superioridade, da falsa concepção de que "deveríamos proteger a Doutrina". Abandonamos à ignorância os humildes, os analfabetos, os sofredores, os obsidiados, as vítimas das trevas da superstição que deveríamos orientar, conduzir, esclarecer, libertar. Batemos (com orgulho!) no peito que "somos espíritas", não para auxiliar, mas para demonstrar pretensa superioridade, numa condenável elitização de conhecimentos que guardamos na redoma de nossa vaidade e arrogância, destilando nossa falta de humildade, nosso ancestral e enquistado egoísmo, ao negarmos o necessário apoio e orientação a quem devemos, obrigatoriamente, esclarecer. Kardec, ao compilar de modo irreprochável " O Livro dos Espíritos" nos dá todas as linhas, pontos, vírgulas e intersecções do texto que deveríamos pontificar. Estabelece condições didáticas e pedagógicas sobre nossa convivência, contato e relacionamento com nossos irmãos desencarnados, tanto para recolher destes os ensinamentos e as interpretações para a melhor aplicação da virtude, quanto para aos ignorantes e desencaminhados, a revelação de suas condições de erro e de necessária recomposição e mudança de trajeto para o bem. Mas transformamos nossas reuniões espíritas em "missazinhas" enfadonhas, com pregações inócuas, com exposições repetitivas, palavrescas, exornando vaidades pueris e sem a presença ou a manifestação de espíritos desencarnados! A humanidade precisa conhecer, saber e se comunicar com o mundo além-túmulo de forma contínua, clara, evolutiva, segura, aberta, livre, e cabe ao Espiritismo a primazia e a obrigação em desvendar os véus. Ao contrário, construímos altas e vigiadas muralhas de isolamento e assistimos a chamada (erroneamente) Casa Máter se verter hoje em casamata! MEDIUNIDADE É BEM DA HUMANIDADE É indispensável, inadiável, urgente que se restabeleçam os cursos de educação mediúnica, as sessões experimentais, as reuniões de desobsessão, de doutrinação e o desenvolvimento das diversas formas de intercâmbio, seja através da psicofonia, da psicografia, da mediunidade curativa e até mesmo do estudo visando o aprimoramento dos chamados fenômenos físicos. E que isso seja feito de modo acessível ao mundo, de forma que as pessoas do vulgo possam tomar conhecimento, participar, se envolver, se beneficiar disso! Cada centro, por maior ou mais simples que possa ser, reúne, pelas bases fornecidas pela codificação, os meios, a orientação e o aparelhamento suficientes para oferecer essa atuação, com segurança, com benéfica ação, tirando a venda da descrença dos céticos e descrentes empedernidos. Se em algum tempo ou lugar houve utilização errada, corrijamos, dentro do preceito ciceriano, "abusus non tollit usum"- o abuso não impede o uso. A consciência universal que deve nortear o encaminhamento do que quer ser espírita e recebe esse maravilhoso legado o obriga a semear em todos os terrenos, a sabedoria desse insubstituível e impostergável intercâmbio. Assim o Espiritismo precisa penetrar como óleo balsâmico em todos os poros do tecido social. Nós precisamos ser o "sal da terra", e oferecer o tempero da convicção plena a todos os assuntos, pessoas, lugares, doutrinas, religiões, grupos! Precisamos dar a oportunidade aos que vieram com a missão mais dilatada do mediunato para que possam, em suas comunidades, em suas seitas e religiões, de gerar a realidade do mundo invisível, falar da perfeita justiça divina via reencarnação, revelar o inexpugnável expediente do perdão dentro da lei de causa e efeito, demonstrar, com lógica e razão, com certeza inequívoca, a eternidade do ser, em nossa caminhada evolutiva. Nós, espíritas, temos as respostas que a humanidade necessita! Só a bendita doutrina espírita pode fazer isso hoje! E não podemos nos furtar em não oferecer a essa mesma gleba o conhecimento e a consciência que recebemos, generosamente, por méritos ou por misericódia. É preciso abrir os corações, as mentes e também as portas. É preciso chamar os cultores dos credos africanos e fraternalmente mostrar-lhes a simplicidade das comunicações inter-seres encarnados e não, a fim de que, sabedores desses novelos, possam se livrar de práticas desnecessárias, ritualísticas e sem função. Precisamos agregar em torno de nós os que possuem e praticam a mediunidade de modo equivocado, comercial, mercantil, mostrando-lhes, fraternal e zelosamente, como mudar o proceder, não enxotá-los! Com o coração receptivo, necessitamos convidar os pastores, os padres, os rabinos, os ateus, os muçulmanos, os hinduístas, os orientais, os esotéricos, os chamados evangélicos, todas as vertentes da fé, não para transformá-los em prosélitos, mas para que tomem conhecimento da essência espiritual, dos itens já mencionados, trazidos a lume para a consciência de todos, na Terceira Revelação. É importante que eles saibam, conheçam, ainda que, de pronto, não creiam. Sabendo, oportunamente crerão. O tempo é o senhor da razão, e quando estes que disso tomarem ciência, retornarem ao mundo espiritual, terão dentro de si a semente da verdade já germinada, e a realidade espiritual não lhes será nem sofrida nem surpreendente, como hoje ocorre, aos borbotões, em grande parte, por nossa omissão e ausência. Cada ser humano tem aptidão e suficiência para a aquisição de conhecimentos superiores, não sendo a evolução vedada a quem quer que seja. Mas que a iniciativa seja nossa, que o movimento espírita intermedeie isso, com a intenção clara e pura de ouvir e falar, de revelar e também absorver novos conhecimentos, visto que, se o Espiritismo é o que de mais evoluído conhecemos, não é o final da linha da sabedoria, disso todos temos convicção. Quando o abençoado professor lionês judiciosamente compilou " O Evangelho segundo o Espiritismo", deixava para nós, os pósteros, a mensagem de que também é necessária a versão do "O Corão segundo o Espiritismo", " O Torah na visão espírita", "O Tao dentro da realidade espiritual", e assim por diante. Ao delinear a senda de atitude do profitente espiritista, Kardec concita e determina: "Amai-vos e instrui-vos"! Temos obrigação de seguir essa regra, na ordem proposta de amando sempre primeiro. E a prática do amor não se coaduna com a cisão, o distanciamento, a discriminação de quem quer que seja, sob quaisquer pretextos, pois estes são os irmãos que esperam de nós a orientação e o encaminhamento, como em algum tempo atrás tivemos a oportunidade de recolher também. Quando me foi ofertada a bênção da visão física, pela manifestação daquele instrumento mediúnico, naquele modesto e singelo centro, deveria ter me preocupado mais com a cegueira da alma também. A propósito, a entidade que me socorreu naquele tempo era representada por uma carinhosa e iluminada preta velha.Juvanir Borges de Souza - 16 de abril de 2015 (Mensagem recebida pelo médium Arael Magnus, em 13 de abril de 2015, no Celac, Formosa - Goiás.)
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Juvan de Souza Neto | Jornal Espaço Espírita
23/04/2015
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