Geraldo Lemos Neto. médium, orador e escritor espírita
Como é feito o casamento entre pessoas espíritas?
No Espiritismo, não há previsão de rituais de qualquer espécie. Por essa razão, os espíritas não celebram cerimônias de casamento. Isso não impede, contudo, que os noivos e suas respectivas famílias possam fazer em suas residências um culto ao Evangelho de Jesus para orar em família e junto aos amigos mais próximos, rogando a bênção celeste em favor dos nubentes.
A Doutrina Espírita considera que devemos perdoar qualquer tipo de traição?
A Doutrina Espírita, sendo o Consolador prometido pelo Cristo, segue, naturalmente, em seu entendimento, o pensamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por essa razão, não podemos nos esquecer de que a mensagem de Jesus, consignada a quase dois mil anos através dos evangelistas, registrou, para toda a humanidade, as inesquecíveis advertências amorosas e compassivas: “Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque obterão misericórdia!” (Mateus, 5: 7); “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas setenta vezes sete vezes!” (Mateus, 18: 22). Essas frases luminares do Cristianismo nos indicam o dever de nos reconciliar com os adversários ou faltosos conosco, o dever de não julgarmos e ser indulgentes para com as faltas alheias, para que, por nossa vez, recebamos misericórdia diante dos nossos próprios erros. Por fim, vamos nos lembrar da frase de Jesus diante daqueles que acusavam a mulher adúltera pretendendo apedrejá-la em praça pública: “Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado!” E ninguém ousou levantar a mão contra ela.
O que acontece com o meu espírito, caso eu faça algo que afete as leis morais?
Recebe as consequências naturais de seu ato. Existem, pela compreensão espírita-cristã, duas leis divinas que fazem parte das leis morais e que se associam perfeitamente e concorrem para a evolução das criaturas humanas e suas sociedades. A primeira é a lei do livre-arbítrio, pela qual todos nós, seres humanos em evolução na Terra, temos total liberdade de escolha sobre o nosso próprio caminho. Nem Deus, o Criador, nem os nossos benfeitores da Vida Maior, nossos guias e anjos de guarda, interferem em nossas decisões. Elas são soberanas na escolha, pelo que exercemos o nosso direito de ser criaturas livres para escolher. No entanto, outra lei divina se associa, invariavelmente, à lei do livre-arbítrio, e é justamente aquela enunciada na frase em que o próprio Cristo nos advertiu: “A cada um será dado segundo as próprias obras!”. É a lei de causa e efeito, ação e reação tão bem estudada por Allan Kardec, pela qual cada um de nós receberá sempre o resultado das próprias obras. Então, assim compreendendo, saberemos que todo pensamento, toda decisão, toda ação que decidamos tomar em nossas vidas receberá de retorno a consequência imediata ou futura correspondente, dentro da mesma proporção de bem ou de mal que viermos a causar aos semelhantes.
Por que algumas pessoas nascem na miséria, enquanto outras vivem com tanto luxo?
Porque vivemos num mundo considerado ainda de expiações e de provas. Expiações de um passado enganoso, quando, provavelmente, nos desviamos da reta conduta, inflingindo aos semelhantes miséria e fome, e também provas para nos testar as resistências morais, tanto na pobreza quanto na abastança. Todas as posições sociais na face da Terra são testes de nosso valor moral. É como se estivéssemos, provisoriamente, presos aos liames do corpo físico justamente para aferir o nosso desenvolvimento moral e espiritual, sendo, portanto, submetidos a tais testes de resistência ou valor. Invariavelmente, em algum tempo futuro, seremos chamados a prestar contas dos bens e das oportunidades recebidas.
Por que algumas pessoas nunca conseguem concretizar seus planos apesar de batalharem por isso em vida?
Muito provavelmente porque no passado próximo, ou mesmo remoto de outras encarnações, a pessoa terá falhado fragorosamente na oportunidade que lhe fora concedida, exatamente, talvez, no campo de desejos e realizações que almeja ardentemente hoje alcançar, mas do qual colhe apenas insucessos e decepções. Tudo isso se insere também na lei de causa e efeito, ação e reação, pela qual, dentro do Instituto da Justiça Divina, recebemos todos, de retorno, exatamente o que merecemos receber.
Como podemos colocar em prática o princípio “amai os vossos inimigos” na vida terrena?
Segundo a lúcida orientação de Allan Kardec a esse respeito, inserida no capítulo 12 de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", não pretendeu Jesus que cada um de nós tenha para com um inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou a um amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam as mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo. Assim, segundo Allan Kardec, amar os inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede, segundo a Doutrina Espírita, preenche as condições do mandamento de Jesus: "Amai os vossos inimigos".