Brasil: coração do mundo, pátria do Evangelho? |
A situação social e política na qual o país se encontra tem suscitado questionamentos sobre o fato de o Brasil efetivamente consistir no coração do mundo e na pátria do Evangelho. Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Marco Paulo D. Di SpiritoO vídeo a seguir veicula tentativas de respostas à questão: https://www.facebook.com/clovisnoronha.ferreirajunior/videos/946825095385585/ De fato, não há como negar o acerto de muitos dos apontamentos realizados por aqueles que se manifestaram no referido vídeo. Todavia, é necessário destacar que em meio às respostas há uma ênfase no ponto do comprometimento das almas encarnadas no país. Cuida-se de uma afirmativa correta e que encontra amparo na obra de Humberto de Campos. Por outro lado, tal ênfase pode ofuscar outros fatores que apontam para a missão em análise. O que queremos destacar aqui é que não há um fator único, mas sim uma conjugação de fatores que conduzem à missão do Brasil como coração do mundo e pátria do Evangelho. Dessa forma, não cabe uma resposta reducionista à questão, muito menos sob o rótulo de descoberta de um tópico fulcral por meio de pressuposta leitura adequada da obra de Humberto de Campos, quando o próprio livro aponta para vários elementos em torno da missão de nosso país. Em verdade, frisar o comprometimento dos brasileiros pode apresentar-se apenas como uma resposta estratégica para responder imediatamente à indignação em torno da situação atual do Brasil, em meio à qual muitos espíritas acabam se apresentando descrentes sobre a incorporação do Evangelho na cultura geral. Uma questão que parece essencial, nesse ponto, radica na compreensão de que a cultura profunda de um povo não pode ser confundida com situações conjunturais. Esse problema será melhor compreendido pelo contexto alinhado abaixo. Nosso convencimento em torno das presentes considerações firmou-se solidamente não apenas por meio de uma nova consulta à obra "Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho", como também em virtude de excelente resposta de Chico Xavier a respeito do tema, contida no vídeo a seguir: Como no meio espírita está se tornando prática o estudo pela apresentação de terceiros, sem o necessário recurso às fontes, vamos destacar alguns tópicos que justificam a missão do Brasil em análise, seguidos de alguns trechos da citada obra. Na sequência, vamos alinhar os vários elementos apresentados por Chico Xavier no vídeo, que permitem concluir no sentido do título da obra de Humberto de Campos. I) Existe uma proteção, por parte do Cristo, para o desempenho da missão. "As potências imperialistas da Terra esbarrarão sempre nas suas claridades divinas e nas suas ciclópicas realizações. Antes de o estar ao dos homens, é ao meu coração que ela se encontra ligada para sempre." (Op. cit.) Chico Xavier também aponta nesse sentido, logo no início do vídeo. II) A base cultural do Brasil é propícia à missão. Esse fato é explicado na obra a partir do relato da angústia de Afonso Ribeiro, quando Humberto de Campos apresenta o tom em que se forjou a alma coletiva brasileira, a caracterizar a raiz profunda de sua cultura. "Primeiramente, surgiram os índios, que eram os simples de coração; em segundo lugar, chegavam os sedentos da justiça divina e, mais tarde, viriam os escravos, como a expressão dos humildes e dos aflitos, para a formação da alma coletiva de um povo bem-aventurado por sua mansidão e fraternidade. Naqueles dias longínquos de 1500, já se ouviam no Brasil os ecos acariciadores do Sermão da Montanha." (Op. cit.) Bem se vê que a "diretriz cultural" do país, concretizada histórica e faticamente, é o Sermão da Montanha. Por isso: "As injunções políticas terão nela atividades secundárias, porque, acima de todas as coisas, em seu solo santificado e exuberante estará o sinal da fraternidade universal, unindo todos os espíritos." III) A regeneração por meio de expiações e provas. O citado trecho do livro em que menciona a vinda de inúmeros espíritos infelizes e endividados também elucida que estes chegariam ao país para aprender por meio de provas e expiações. "— Ismael, nas tuas obrigações e trabalhos, considera que a dor é a eterna lapidaria de todos os espíritos e que o nosso Pai não concede aos filhos fardo superior às suas forças, nas lutas evolutivas. Abriga aí, na sagrada extensão dos territórios do país do Evangelho, todos os infortunados e todos os infelizes. No meu coração ecoam as súplicas dolorosas de todos os seres sofredores, que se agrupam nas regiões inferiores dos espaços próximos da Terra. Agasalha-os no solo bendito que recebe as irradiações do símbolo estrelado, alimentando-os com o pão substancioso dos sofrimentos depuradores e das lágrimas que lavam todas as manchas da alma. Leva a essas coletividades espirituais, sinceramente arrependidas do seu passado obscuro e delituoso, a tua bandeira de paz e de esperança; ensina-lhes a ler os preceitos da minha doutrina, nos códigos dourados do sofrimento. Ismael sente que luzes compassivas e misericordiosas lhe visitam o coração e parte com os seus companheiros, em busca dos planos da erraticidade mais próximos da Terra. Aí se encontram antigos batalhadores das cruzadas, senhores feudais da Idade Média, padres e inquisidores, espíritos rebeldes e revoltados, perdidos nos caminhos cheios da treva das suas consciências polutas. O emissário do Senhor desdobra nessas grutas do sofrimento a sua bandeira de luz, como uma estrela d'alva, assinalando o fim de profunda noite. — Irmãos, — exorta ele comovido — até ao coração do divino Mestre chegaram os vossos apelos de socorro espiritual. Um ensejo novo de trabalho se apresenta para a redenção das vossas almas, desviadas nos desfiladeiros do remorso e do crime. Há uma terra nova, onde Jesus implantará o seu Evangelho de caridade, de perdão e de amor indefiníveis. Nos séculos futuros, essa pátria generosa será a terra da promissão para todos os infelizes. Dos seus celeiros inesgotáveis sairá o pão de luz para todas as almas; mas preciso se faz nos voltemos para o seu solo virgem e exuberante a construir-lhe as bases com os nossos sacrifícios e devotamentos. Ali encontrareis, nos carreiros aspérrimos da dor que depura e santifica, a porta estreita para o céu de que nos fala Jesus nas suas lições divinas. Aprendereis, no livro dos padecimentos salvadores, a gravar na consciência os sagrados parágrafos da virtude e do amor, na epopeia de luz da solidariedade, na expiação e no sofrimento. Sabei que todas as aquisições da filosofia e da ciência terrestres são flores sem perfume, ou luzes sem calor e sem vida, quando não se tocam das claridades do sentimento. Aqueles de vós que desejarem o supremo caminho venham para a nossa oficina de amor, de humildade e redenção." (Op. cit.) IV) O Brasil é o coração do mundo também em termos geográficos. "O coração geográfico do orbe não se podia fracionar." (Op. cit.) Por sua vez, os fatores indicados por Francisco Cândido Xavier podem ser resumidos nos seguintes: 1) o país é destinatário de proteção espiritual para cumprir a missão (obviamente, cuida-se de um auxílio e não de um determinismo); 2) ao longo de sua história, o país não tem apresentado grandes comprometimentos em comparação a outras nações; 3) Nossa abertura demonstra facilidade para assimilar as lições da vida e os ensinamentos espirituais; 4) tem preponderado na alma dos brasileiros (e não na classe política, por óbvio) a fraternidade; 5) o Brasil vai ter o ensejo de testemunhar o Evangelho perante desafios futuros, que pedirão sacrifícios do povo brasileiro. Cuidam-se de testemunhos e exemplificações nas lutas maiores que o porvir nos reserva, quando formos chamados para a hora da grande renovação. Seremos chamados, assim, à fraternidade na comunidade das nações para abraçarmos filhos de outras terras; Aqui, como é evidente, Chico demonstra a necessidade de compreendermos a missão do Brasil no tempo, sem nos apegarmos a injunções políticas pontuais. 6) O Brasil também deve ser considerado o coração do mundo em termos geográficos; 7) enquanto povo, temos sofrido as consequências perante as quais nos comprometemos, conforme nos exorta o Evangelho; 8) não nos rebelamos diante da lei de causa e efeito, mesmo perante as injustiças cometidas pelos nossos governantes. Assim, não recorremos à porta falsa da revolução. 15/10/2015 |
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