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Notícia

A ponte de luz




Maria Dolores
 
Terminara Jesus a prédica no monte.
Nisso, o apóstolo Pedro se aproxima
E diz-lhe: - Senhor, existe alguma ponte
Que nos conduza ao Alto, ao céu que brilha muito acima?

Conforme ouvi de tua própria voz,
Sei que o Reino do Amor está dentro de nós!...
Mas deve haver, no Além, o País da Beleza,
Mais sublime que o Sol, em fulgor e grandeza!...

Onde essa ligação, Senhor, esse divino acesso?
Jesus silenciou, como entrando em recesso
Da palavra de luz que lhe fluía a jorro.
Circunvagou o olhar pelas pedras do morro

E, depois de comprida reflexão,
Falou ao companheiro: - Ouve, Simão,
Em verdade, essa ponte que imaginas
Existe para a vida soberana,

Mas temos de atingi-la por estrada
Que não é bem a antiga estrada humana.
- Como será, Senhor, esse caminho?
- tornou Simão a perguntar.

E Jesus respondeu, sem hesitar:
- Coração que a escolha, às vezes, vai sozinho,
E quase que não tem
Senão renúncia e dor, solidão e amargura.

E conquanto pratique e viva a lei do bem
Sofre o assédio do mal que o vergasta e procura
Reduzi-lo à penúria e ao desfalecimento.
Quem busca, nesta vida transitória,

Essa ponte de luz para a eterna vitória
Conhecerá, de perto, o sofrimento
E há de saber amar aos próprios inimigos,
Não contará percalços nem perigos

Para servir aos semelhantes,
Viverá para o bem a todos os instantes.
E mesmo quando o mal pareça o vencedor
Confiando-se a Deus doará mais amor.

E ainda que a morte, Pedro, se lhe imponha
Na injustiça, ferindo-lhe a vergonha,
Aceitará pedradas sem ferir,
Desculpará injúria e humilhação
Se deseja elevar o coração
À ponte para o Reino do Porvir!...
 
Alguns dias depois, o Cristo flagelado,
Entregue à própria sorte,
Encontrava na cruz o impacto da morte,
Silencioso, sozinho, desprezado.
 
Terminada que foi a gritaria
Da multidão feroz, naquele dia,
Ante o céu anunciando aguaceiro violento,
Pedro foi ao Calvário, aflito e atento,
Envergando disfarce.

Queria ver o Mestre, aproximou-se
Para sentir-lhe o extremo desconforto.
Simão chorou ao ver o Amigo morto.
 
E ao fitá-lo, magoado, longamente,
Ele ouviu, de repente,
Uma voz a falar-lhe das Alturas:
- Pedro, segue, não temas, crê somente!...

Recorda os pensamentos teus e meus!...
Esta cruz que me arrasa e me flagela
É a ponte que sonhavas, alta e bela,
Para o reino de Deus.

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Do livro "A vida conta" | CEU | 1980 | p. 34







Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Antonio Sávio de Resende | Imagem in: http://www.ceakitajuba.org.br/informe-se/personalidades/dolores
30/03/2016
 


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