FERNANDA MENA LAURA MATTOS DA REPORTAGEM LOCAL
O fenômeno de bilheteria do filme "Chico Xavier" e a onda de produções ligadas ao Espiritismo, que têm marcado 2010, estão ajudando espíritas brasileiros a "saírem do armário".
"O discurso de reconhecimento da Doutrina e de figuras centrais do Espiritismo vai ajudar muita gente a assumir que é espírita", avalia Célia Arribas, socióloga e pesquisadora da USP, autora do livro "Afinal, Espiritismo é Religião?" (Alameda Editorial), com lançamento previsto para maio. "Usando uma linguagem figurativa, é possível dizer que eles vão sair do armário."
Para Geraldo Campetti, diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB), a difusão da Doutrina realizada pelo filme, já visto por mais de 2 milhões de brasileiros, é um marco. "O Espiritismo era um antes de 2010, e será outro após o final deste ano", analisa. "Esse impacto fica visível na crescente demanda por informações que, desde a estreia do filme, tem ocorrido nos centros espíritas de todo o país."
Cena de "Escrito nas estrelas", novela da TV Globo
Junte-se ao sucesso do filme a novela "Escrito nas estrelas", da TV Globo, que teve audiência média, nas duas primeiras semanas, superior à de suas antecessoras no horário. Na trama, o protagonista morre e segue o enredo como espírito.
Além disso, até o final do ano, devem ser lançadas uma minissérie na Globo e três filmes em que a vida após a morte ou a mediunidade tem papel principal. Entre eles, chega aos cinemas em setembro o filme "Nosso Lar", baseado em livro homônimo de Chico Xavier, que já vendeu cerca de 2 milhões de exemplares desde sua primeira edição, em 1944.
Ser ou não ser
O sucesso de obras de temática espírita, no entanto, não pode ser explicado apenas com dados de pesquisas demográficas, que apontam existir no país cerca de 4 milhões de espíritas declarados.
Segundo estimativa da FEB, somados praticantes e simpatizantes, esse número deve chegar a 23 milhões de brasileiros. Isso porque Espiritismo não é uma religião proselitista. Logo, frequentar um centro espírita é diferente de ser espírita.
"Vou a um centro, mas também sou judia", diz Sandra Becher, 30, na saída de uma sessão do filme de Daniel Filho.
Hoje, há cerca de 12 mil centros espíritas no país - número que dobrou na última década. Ainda assim, Luís Eduardo Girão, 38, produtor associado de "Chico Xavier", conta que o filme enfrentou dificuldades de financiamento "porque ainda existe a discriminação". Herança dos tempos em que praticar Espiritismo era crime, como rezava o primeiro Código Penal do Brasil República, de 1890 -c ujos efeitos práticos se estenderam até 1945.
A saída encontrada pela elite brasileira, que traduziu a obra de Allan Kardec do francês para o português, foi a produção de uma literatura que introduzisse princípios espíritas numa linguagem romanceada, de maior penetração. Afinal, quem é que não quer saber como é a vida após a morte?
Foi a popularização da chamada literatura espírita, estandarte das listas de mais vendidos, que abriu caminho para a boa performance do Espiritismo no cinema e na TV.
"Este é um mercado que se tornou promissor economicamente", explica Sandra Stoll, autora do livro "Espiritismo à Brasileira" (Edusp). "As produções cinematográficas têm apenas capitalizado um público simpatizante e predisposto, que é enorme."
In: FOLHA ONLINE www.folha.com.br/1011324
Enviado por Alexandre Caroli Rocha
28/04/2010
|