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Notícia

O poeta Chico Xavier


Depois de conhecer Chico Xavier, desde Uberaba, em 1959, e seguir-lhe a vida e a fecunda obra, até seu retorno à realidade espiritual, tenho a certeza de que ali, naquele sofrido corpo, achava-se a alma de um grande poeta, transitando pela Terra, uma vez mais, e que só não foi maior porque dedicara-se com total exclusividade, de corpo e alma, por quase 75 anos, à magna missão de complementar as obras básicas do Espiritismo e de exemplificar o Evangelho do grande Mestre galileu.

Tenho em mãos o exemplar do seu belo “CHICO XAVIER – O Primeiro Livro”, organizado por Geraldo Lemos Neto, o nosso Geraldinho, impresso pela “CASA DE CHICO XAVIER – Vinha de Luz – Serviço Editorial”, de Pedro Leopoldo, em 2 de abril deste ano, em homenagem ao centenário de nascimento desse grande missionário. Lendo-o e o analisando, fiquei emocionado pela transcendente beleza dos poemas, de conteúdo e ritmo insuperáveis.

Impressionou-me deveras o fato do autor dedicar-se justamente ao gênero mais difícil da poética, o soneto, de invenção do inolvidável Petrarca, sobressaindo o alexandrino (versos de 12 sílabas), descendo, de quando em vez, para o decassílabo (de dez sílabas). Em outras produções poéticas, dedicara-se, também com esmero, à redondilha maior (versos de 7 sílabas).

Dotado de hipersensibilidade e dando preferência pela rima rica, em que os acentos rítmicos dos versos são assinalados, no final dos versos, por categorias gramaticais diferentes (conforme grifos sublinhados e em itálico nos sonetos ora transcritos), Chico Xavier, embora tenha cultivado sua musa por 3 anos e pouco apenas, de agosto de 1928 até 1931, uma vez que em julho de 1932 ocorrera a primeira edição do “Parnaso de além-túmulo”, chegou a construir um estilo próprio, de indiscutível leveza e agradabilíssima sonoridade, sem prejuízo  do teor profundamente metafísico. Usou, nos sonetos e nos versos de redondilha maior, rimas de todas as disposições: rimas cruzadas, rimas em parelha e rimas misturadas. Tudo indica que Chico Xavier, exumando seu exímio traquejo artístico-poético de experiências pretéritas, reexecutara-o como preparo da recepção dos ilustres poetas do "Parnaso".

Quanto ao gênero poético, pode-se dizer que, além de reconhecidamente lírico, tende, por seus próprios temas espiritualizantes, para o simbolismo, a exemplo de Cruz e Souza e João de Deus, vates, sucessivamente, brasileiro e português, como se verá pelas duas produções em frente, respeitando, até certo ponto, a ortografia por ele usada à época:

        
O Mar

            Ó mar, estranho mar, gigante insatisfeito,
            Tú tens o coração em múltiplas crateras.
            Que explodem sem cessar no âmago do peito,
            Do teu estranho peito, eterno de outras eras!
        
            Na tua omnipotência és único, perfeito!
            Tu tens mil mansidões e tens mil sanhas feras;
            No grito aterrador revelas o teu feito,
            As cruzadas triumphaes das títeres galesas!

            Quando surges feroz em meio das tormentas,
            Sustentas lutas mil, batalhas incruentas,
            E eu sinto-me irmanado à Tua dor sombria!

            Porque minh´alma assim é um mar todo revolto,
            Meu triste coração é um pobre batel solto,
            Sem norte a navegar, pela maré bravia!...

            
Arte        

            Entre todos os sonhos, todos elles,
            És ó Arte, o perfeito, dos humanos,
            Revela-te o pincel dos Ticianos,
            Ou o mágico buril dos Praxiteles!

            Como eu desejo pois que reveles,
            Todo o explendor de luz dos teus arcanos,
            Clarões do teus cultores soberanos,
            Paganinis, Leonardos, Boticellis...

            Ó christallisadora das idéias,
            Eternisas o sol das espopéias,
            Divinisando o humano coração!

            Arte, suavidade de harmonia,
            Brilhos e cor, cadências de poesia,
            Synthetisas a própria perfeição.


        
Goiânia, 16/05/2010.

Weimar Muniz de Oliveira é magistrado aposentado, presidente da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME) e do Lar de Jesus, diretor da Federação Espírita do Estado de Goiás (FEEGO) e membro do Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira (FEB) E-mails:  :presidência@abrame.org. br " presidência@abrame.org. br e weimar.adv@cultura.com.br" weimar.adv@cultura.com.br

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 - Francesco Petrarca (1304 – 1374), poeta italiano da Renascença, de tamanha importância na literatura mundial, que interligara a Idade Média à Moderna, e influenciara, durante os três séculos seguintes, a Garcilaso, Camões, Victor Hugo, Lamartine, Schiller e muitos outros. “Trionfo della Morte” foi sua última obra (Enciclopédia Mirador Internacional – S. Paulo, 1986 –  p. 8.848/49).
 -  “Parnaso de Além-Túmulo” – FEB – 10ª edição, 1978, p.29.
 - “Tratado de Versificação” – Olavo Bilac e Guimarães Passos – Livraria Francisco Alves, 1949, p. 79.
  - “CHICO XAVIER – O Primeiro Livro”, ob. Citada, p. 62.
  - Idem, idem, p. 72.
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz - Serviço Editorial
18/05/2010
 


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