Não deixe o medo criar ambiente no seu coração
A Lua acabara de despontar no horizonte, trazendo à agitada cidade de Antioquia um ar diferente com forte presença da natureza. Era como se o Criador estivesse colocando ao dispor de todos, sem exceção, um enorme pote luminoso que derramava refrescante balsamo invisível sobre toda a terra.
No espaço simples e acolhedor da igreja cristã, nascente na cidade, podia-se encontrar a paz tão necessária às almas sedentas de amor.
Após um exaustivo dia de trabalho, Barnabé, conhecido na comunidade também como Irmão José, estava assentado, revisando mentalmente o que vivenciara durante o dia.
Ele tinha o hábito de repassar as ocorrências e refletir nas suas atitudes.
Aprendera a avaliar, meditar sobre seus atos diários e a reação provocada no próximo. Visava com isto melhorar sua capacidade de compreender e ajudar. Não tinha a pretensão de julgar ninguém, mas sim o firme propósito de se aperfeiçoar.
No silencio do cômodo onde se encontrava, situado nos fundos da construção, ouviu passos apressados e tensos. Pode sentir que quem se aproximava o fazia em clima de aflição.
Dali a instantes uma senhora adentrou a sala que não possuía porta. Devia ter uns trinta anos, mas as preocupações e dificuldades da vida, certamente lhe sugavam a seiva vital. Parecia mais velha e alquebrada. Os olhos mostravam-se tensos e agitados. Parou, vasculhou com o olhar o local e foi logo falando:
-É o senhor o Irmão Barnabé?
-Sim em que lhe posso ser útil?
Ela assentou-se apressada, notava-se que tinha muita dificuldade em expressar seu pensamento.
-Calma minha filha, olhe para mim, você é bem vinda aqui , está na casa de Jesus onde todos somos irmãos e amigos.
Buscou um pouco de agua em um cântaro de barro próximo e lhe deu para beber.
Aos poucos ela foi se acalmando, sua mente serenando e com lágrimas na face, começou a falar:
-Irmão, sou amiga da Judith, ela me sugeriu que o procurasse para buscar uma orientação. Vivo um problema estranho e não sei o que fazer para sair dele.
-Como você se chama?
-Meu nome é Ana. Não sei o que fazer. Respondeu ela de forma repetitiva e esfregando nervosamente as mãos.
-Fale o que te atormenta irmã, estamos ao seu dispor.
-Irmão estou sofrendo horrivelmente. Sempre que chego em casa, vejo na sala uma imagem de uma cobra e ela aparece não sei de onde. Quando a vejo, fico insegura, ela parece que vai me atacar. Estou cada vez mais apavorada. Esta visão me dá profunda repulsão.
Experimentado nos casos de atendimento, diante daquela agitação e desespero, Barnabé orou em seu íntimo, pedindo para receber uma inspiração do alto na melhor forma de cooperar.
-Você mora sozinha?
-Não, moro com minha mãe e dois primos, mas eles não me querem bem.
-Entendo, porque eles não gostam de você?
-Mamãe amparou os sobrinhos ha alguns meses, após a morte de seus pais, mas até hoje eles falam pouco conosco. Estão sempre envolvidos nas jogatinas e muitas vezes querem levar pessoas estranhas em nossa casa o que não concordo e por isto discutimos.
Barnabé começou a enxergar que talvez estivesse ali, a origem dos estranhos aparecimentos. Será que os primos tinham algum envolvimento com o que estava ocorrendo? Seria providencial conhecer o local das aparições e conversar com todos os que viviam naquele lar.
-E como é esta imagem da cobra?
Perguntou, porque conhecia uma antiga artimanha das pessoas de mal proceder. Estas com o conhecimento das questões mentais e magnéticas, usam imagens como instrumento para implantar o clima de receio e terror. As imagens criam na mentes desprevenidas e enfraquecidas, o pavor. Feito isto induzem o sentimento de perigo e lentamente alienam quem cai em suas garras, procedendo então a dominação das ideias e pensamentos da infeliz vítima.
-Ela é igual uma serpente de aspecto horrível que parece preparada para me atacar.
-Entendi minha filha. Não se prenda a esta figura. Ela está te induzindo ao medo e quando deixamos campo ele nos controla. Tenha fé na proteção de Deus. Nós nunca estamos sozinhos e abandonados. Vou com você a sua residência assim que estiver melhor e for apropriado. Com coragem e determinação faremos esta estatua desaparecer de vez.
-Eu sempre a retiro e atiro no rio esta esfinge do mal, mas ela volta sempre. O que mais devo fazer?
-Joga-la fora novamente. Não deixe que o medo crie ambiente no seu coração. Ore filha e peça ao Senhor o amparo e forças. Os agentes do mal, são hábeis em criar em nossa mente ideias fixas, sabem eles muito bem que estas ideias quando canalizadas no receio, podem nos fazer escravos deles. Quando oramos e temos fé em Deus saímos desta faixa mental e somos auxiliados.
Ana começou a ficar mais calma sob o poder daquelas palavras carinhosas, vindas de alguém que transparecia paz interior e o poder das almas boas e harmonizadas. O seu coração antes palpitante, começou a bater mais brando e ela sentiu-se sem apreensão. Uma sensação de alivio a fez retornar a normalidade que a bastante tempo não experimentava.
Barnabé entendeu o momento e ofereceu a senhora mais um pouco de agua.
Viu com clareza que aquele caso era um típico exemplo de indução mental de malfeitores que queriam afasta-la do lar visando ter acesso e controle total sobre sua residência.
Após sentir que visitante melhorava e já se mostrava recomposta e calma, pegou e leu um pequeno texto das palavras de Jesus onde estava escrito:
“Não tenhais medo deles, portanto. Pois nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado”. (1)
-Veja irmã o nosso Mestre ensina-nos que tenhamos confiança e fé. Podemos ir a sua casa, conversar com seus familiares e ver o que ocorre?
-Sim irmão, será de grande ajuda, falei a minha mãe que viria aqui pedir socorro e ela espera ansiosa por uma resposta.
Barnabé sentindo a necessidade de agir de imediato, partiu com Ana, na certeza que o Pai através dos seus anjos de luz, o amparariam e orientariam na melhor forma de agir nas providencias necessárias.
Mateus 10:26