Artigo. O Jornal da Cidade BH preparou lançamentos, periódicos, de artigos do escritor, expositor e articulista José Martins Peralva Sobrinho, ou simplesmente Martins Peralva, como era conhecido. Ele, que foi um dos grandes representantes do movimento espírita no Brasil, escreveu os seguintes livros: “Estudando a mediunidade”, “Estudando o Evangelho”, “O Pensamento de Emmanuel”, “Mediunidade e evolução”, editados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), e “Mensageiros do bem”, editado pela UEM.
Os artigos que publicados no JCBH, fazem parte do livro “Evangelho puro, puro Evangelho – Na direção do Infinito”. Trata-se uma coletânea de textos disponibilizados nos jornais “O Luzeiro”, periódico de sua terra natal, Sergipe, “Síntese” e “Estado de Minas”, ambos de Minas Gerais, e na revista “Reformador” da FEB. Geraldo Lemos Neto, responsável pelo Vinha de Luz — Serviço Editorial, foi quem coletou o material com a família Peralva, para que a comunidade espírita tivesse a oportunidade de conhecer mais de perto Martins Peralva.
Missionários
Setembro| 1957
A advertência do doutor de Tarso sugeriu-nos o presente comentário em torno da nossa inclinação à idolatria e atribuição de exageradas virtudes a companheiros que palmilham, conosco, a mesma trilha evolutiva. Isso porque se nota, na hora que passa, acentuada tendência a dar a designação de “missionários” a irmãos que apenas se esforçam no sentido de, pelo trabalho, superar as próprias imperfeições.
“Messianato” e “apostolado” como que se acham na ordem do dia, convocando-nos à vigilância e ao cuidado. A palavra “missionário” não deve perder o sentido realmente elevado que possui. Devemos estar cautelosos para não identificarmos, nesse vocábulo tão sublime, apenas o seu sentido etimológico, segundo o qual assim se designa todo aquele que se faz, ou dele fazem, realizador de uma tarefa qualquer, de expressão restrita, de nenhum ou quase nenhum reflexo na obra geral de benefício à humanidade.
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“Missionário”, segundo o nosso parecer, tem um significado mais amplo, mais elevado, mais completo, mais universal, embora nos cumpra ressaltar o respeito que devemos aos que estão vulgarizando a palavra. O nosso conceito sobre “missão” é tão profundo e respeitoso que nos soa muito bem a afirmativa de que raras vezes dois ou três missionários respiram o oxigênio do mesmo século. Infelizmente, em setores menos cuidadosos do nosso movimento, onde se verifica a ausência de estudo sério, a tendência é vulgarizar os termos “missão” e “missionário”.
Basta que uma criatura necessitada de resgatar, no trabalho, as próprias dívidas, abrace, com fervor e devotamento, uma sementeira de atividade mais nobre, na qual coloque o próprio sentimento, com o desejo de soerguer-se, renovada, para que a auréola de “missionário” comece a lhe cobrir, erroneamente, a fronte, por ela ou por outrem colocada. O amigo do bem, o esforçado realizador de uma obra social, o médium dedicado, o escritor cheio de boa vontade, o pregador abnegado, etc., são, de modo geral, almas profundamente endividadas, portadoras de imperfeições. Assim sendo, precisam de ser olhadas com simpatia, sem que lhes atribuamos, porém, insensata e perigosamente, virtudes ou títulos indevidos.
Não é assim que se ajuda o companheiro de jornada. Chamemos, a essas criaturas abnegadas, tarefeiros, obreiros ou servidores do bem, se ao nosso hiperbolismo não bastar o magnífico título de “irmão”. Muitos companheiros invigilantes — doutrinadores e médiuns, em particular — têm fracassado, lastimavelmente, pelo simples fato de, numa hora infeliz, ter acreditado e cultivado, eles próprios, a ideia de que eram, efetivamente, missionários. O elogio foi-lhes direto ao coração. O narcisismo espiritual irradiou-se pela alma invigilante. A idolatria acordou neles o monstro da vaidade, que dormitava, em processo de desaparecimento.
Há de haver, através das tribunas e dos jornais, companheiros que se esforcem no sentido de conter a “onda messiânica” que se alastra, sugerindo menos entusiasmo e mais sensatez, menos presunção e mais juízo.
Ajudemos os que estão à frente de empreendimentos com a prece sincera e o incentivo amigo, a fim de que não contraiamos, perante as forças da vida, mais este grande débito, qual seja o de concorrermos para o fracasso de almas bondosas, mas imperfeitas, que estão no cenário terrestre renovando-se pelo trabalho e pela dedicação.