Por Patrícia Bueno
A rosa vermelha foi a primeira visão que tive ao abrir os olhos naquela manhã de inverno. Sobre a estante de madeira, e com seus contornos divinos, ela parecia ilustrar a oração que sempre faço ao acordar. Que nossos dias guardem o perfume da tarde-noite em que a referida rosa chegou às minhas mãos: momentos de homenagem a Chico Xavier. A rosa trouxe recordações do evento. No teatro, de luzes apagadas, somente o clarão no fundo do palco, onde eram projetadas imagens de crianças dando seus depoimentos singelos sobre o maior médium que este país já conheceu. Com seus rostinhos inocentes, ora tímidos, ora espontâneos, os pequenos demonstravam, em frases curtas, todo o respeito e amor pelo missionário mineiro.
Música, teatro, poesia, coreografias... as artes uniram-se como pétalas para formar uma flor chamada gratidão. Gratidão pelos ensinamentos de Chico, por seu exemplo de humildade e devoção ao Criador.
Na Escola Jesus Cristo, fundada em Campos há 75 anos, Chico é figura respeitada, amada mesmo, tanto pelos adultos, quanto pelas crianças. E todo esse amor exalou como perfume de rosas naquele domingo, seja no coro de crianças e suas doces canções com letras de paz e fraternidade, seja nos belos solos que ecoavam no Teatro Casimiro Cunha, arrancando aplausos. Absorvi toda a energia positiva daqueles momentos. Sensação de pés descalços na areia, paz de sinfonia de passarinhos em mansa alvorada. Chico tem esse poder. O poder de transformar em jardins os desertos de nossas almas, de exaltar a beleza das coisas mais simples, tão ao nosso alcance e, ao mesmo tempo, tão solenemente ignoradas.
Naquele dia, no teatro, ficaram lá fora todos os sentimentos menos nobres, aqueles que ainda fazem do mundo um lugar tão cheio de desencantos. Na manhã de segunda-feira, depois da prece de rotina, contemplei novamente a rosa que ganhei de uma jovem ao final da apresentação: linda, vermelha, aveludada. Entristeceu-me saber que em poucos dias ela não teria o mesmo viço.
Ora, Chico não está mais (fisicamente) entre nós, mas as lembranças daquele homem vestido de luz trazem o frescor de pétalas ainda molhadas de orvalho. Com seu exemplo, saberemos lidar melhor com os espinhos.
Patrícia Bueno
Jornalista