Psicopictografia pela médium Cleide, pelo espírito Yoshi – Fraternidade Cristã Francisco de Assis (Fecfas)
Cada um deve fazer a sua parte para um mundo melhor
O inverno, com o seu vento frio e cortante, chegara em Antioquia e ninguém conseguia ficar insensível ao sofrimento que ele intensificava na vida de alguns pobres moradores das redondezas.
A mudança da estação aumentava as tarefas na casa de auxílio cristão estabelecidas na cidade.
Estando Barnabé no trabalho de seleção de donativos, na companhia de Jonas, o rapaz lhe fez a seguinte pergunta:
-Irmão, fico me perguntando o porquê de as pessoas, que têm muitos recursos e posses, não se preocuparem em ajudar os que passam necessidade. Não poderiam eles amenizar o sofrimento de muitos? Porque Deus, que tudo vê, permite tanta injustiça e dor? Somos oprimidos por forças do estrangeiro, homens e mulheres vivem na pobreza e muitas vezes na escravidão sem nenhuma esperança.
A questão exposta por Jonas não era uma surpresa, pois em outras ocasiões a mesma dúvida já brotara em conversas na instituição.
Barnabé olhou para Jonas demonstrando que entendia a sua questão e não tinha qualquer rejeição em tratar do assunto. Como homem experiente nas dificuldades do mundo, sabia que a resposta não era simples. Ele mesmo já despendera tempo procurando respostas para tanto sofrimento que via a sua volta. Pensou nos ensinamentos de Jesus, e decidiu que somente expondo as palavras do Mestre poderia mostrar como encarava o assunto.
-Irmão Jonas, suas reflexões são muito boas e oportunas. Ao nosso derredor, vemos sim muitas dores e sofrimento, mas também presenciamos muito amparo e ajuda. A nossa própria casa é um exemplo disso. O que seria de nós se não existissem as almas generosas que aqui aportam para nos auxiliar a fazermos algo pelo nosso semelhante? O mundo, antes da vinda de nosso Mestre, carecia da chave para a resolução dos problemas da fraternidade e a minimização da dor dos mais necessitados. Não podemos nos isentar e culpar Deus pelo que ocorre. Este é o caminho mais fácil para ficarmos perdidos em nossas lamentações. O Pai dá a todos, sem exceção, as oportunidades de crescimento espiritual. Você já nos ouviu comentar sobre o assunto. Não é nossa diretriz a necessidade de amarmos ao nosso próximo como a nós mesmos? Que esta atitude transforma todo o mundo, pois temos a certeza de que todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai?
-Sim, irmão, agradeço pela sua paciência em me explicar. O que me entristece é ver tantas pessoas, em nossa sociedade, que não conseguem ver a realidade do espírito como nós já conseguimos entender.
Enquanto Barnabé ouvia as considerações de Jonas, lhe veio à mente uma parábola que lhe havia sido transmitida, em Jerusalém, por Pedro, a qual o ajudaria a entender o que acontecia no mundo, e qual seria o desfecho para o problema.
-Irmão Jonas, nosso Mestre, quando tratava de assuntos muito complexos, que exigiam uma maior maturidade espiritual para o entendimento, utilizava uma narrativa breve, usando a comparação e a analogia, como você já conhece pelos nossos estudos. Uma, em particular, me vem à mente para trazer esclarecimento.
Barnabé parou por alguns instantes, observando a total atenção do jovem, e relatou:
-Pedro nos contou que, certo dia, Jesus começou a falar das realidades do reino de Deus, assentado em um barco, enquanto a multidão na praia, a curta distância, o ouvia. Ele disse então que o reino dos céus é semelhante a um homem que semeou a boa semente no campo. Enquanto todos repousavam, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e foi embora. Depois de algum tempo, quando o trigo começou a dar semente, os servos perceberam que havia aparecido o joio. Os servos foram procurar o proprietário para lhe relatar o ocorrido e tentar saber porque aquilo estava acontecendo, e ele lhes disse que era a obra de um inimigo. Os servos propuseram arrancar o joio, mas o senhor disse que não e recomendou que aguardassem o tempo da colheita, que o deixassem crescer, para não correr o risco de tirar o trigo e o joio juntos. Na época da colheita, então, deve colher-se o joio, separá-lo e queimá-lo e ficar com o trigo para o celeiro. (1) Percebeu irmão Jonas o que Jesus ensinou?
-Não, irmão, estou confuso.
-Vejamos, o Mestre comparou o mundo com um campo semeado, nele aparecem pessoas que ainda não despertaram para dar o bom fruto, só pensam na sua satisfação pessoal. Estão doentes do espírito. Cada um deve fazer a sua parte para um mundo melhor. Se assim não o fizermos, seremos como o joio que terá de ser retirado, pois não tem proveito. Por outro lado, se estamos de acordo com a prática das recomendações do Senhor, vamos seguir o bom caminho na direção da casa do Pai. A nossa renovação interior é sempre possível, mas passa pela disciplina, fé, instrução, pelo trabalho e amor. Não nos cabe julgar os outros e exigir mudanças neles.
Percebendo que o jovem precisava visualizar casos práticos, para entender melhor o ensinamento, Barnabé decidiu lembrá-lo de algumas experiências ocorridas ali mesmo e perguntou:
-Você se lembra do caso de Josué?
-Aquele que andava com muletas e foi curado?
-Ele mesmo. Quando ele chegou na nossa instituição só reclamava. Praguejava por causa da ferida em sua perna e da sua infelicidade. Começou o tratamento com o irmão Demétrius, sem ter fé na melhora. Aos poucos, porém, vendo a atitude dos que o cercavam, foi compreendendo que precisava mudar de comportamento. Notou a aceitação da dor demonstrada por Hildeu, que havia perdido parcialmente os movimentos de um lado do corpo, mas mesmo assim se locomovia sem praguejar contra o seu destino e sem desânimo. Hildeu, com dificuldade, mas sem se sentir inválido, auxiliava os que chegavam pela primeira vez ao recinto dos doentes, com gentileza e bom humor. Viu como Clélia, mesmo com o filho acamado, distribuía a água da oração e a alimentação. Constatou que o irmão Demétrius trabalhava sem descanso, só parando quando o último do recinto fosse atendido. Percebeu que aqui ninguém esperava pelos mais favorecidos da vida para buscarem a sua melhora e aceitavam todos os que apareciam sem pré-julgamento. Vendo tudo isto, Josué mudou sua atitude, e hoje anda sem as antigas muletas ajudando onde pode.
O jovem Jonas começou a entender a necessidade da transformação íntima na forma de visualizar e agir na vida. Desejando absorver mais do ensinamento perguntou:
-Irmão, neste caso onde está o joio e o trigo?
-Não é difícil de identificar, falou Barnabé, todo aquele que dá bons frutos pela sua dedicação e trabalho à família e ao próximo é representado pelo trigo. Aqueles que usufruem os bens da terra, sem darem resultados para o semelhante e vivem exclusivamente pensando e agindo no beneficio próprio, representam o joio.
Parou por alguns instantes, como se estivesse com o pensamento distante e continuou:
-Veja que Jesus não condenou a riqueza e nem exaltou a pobreza, mas explicou que aqueles que não dão bons frutos, onde estiverem, estão atados ao destino que criaram para si mesmos, e que promoverá a transformação do ser pelas necessidades e pela dor. Como vimos, pelos pequenos exemplos que citei, é preciso ainda deixar crescer junto o joio e o trigo na nossa sociedade para que, através do contraste, se identifique quem realmente está de cada lado, e aqueles que estejam do lado das atitudes imprestáveis possam ter a oportunidade da redenção.
-Que beleza de ensinamento, irmão, vou guardá-lo por toda a minha vida.
-Sim, irmão Jonas, das palavras do Divino Mestre nada se perde, tudo é essencial.
Enquanto travavam o diálogo, não pararam de trabalhar na separação das doações.
Aproximou-se deles uma distinta senhora acompanhada de duas mulheres que tinham atitude de suas servas. Uma delas, dirigindo-se aos dois, falou agindo como uma intérprete:
-Senhores, minha patroa é estrangeira e seu marido está doente, impossibilitado de viajar. Eles estão residindo, transitoriamente, no porto de Selêucia, onde a sua embarcação aportou. Ela tem pago a vários médicos para curarem o esposo, mas até o momento não tem tido sucesso. Soubemos que nesta casa fazem-se maravilhas e decidiu vir aqui pedir-lhes atendimento. Ela vai remunerar muito bem a ajuda e deseja antecipar este alforje de moedas.
Barnabé, com o conhecimento das dores do mundo que se abatem sobre todos os níveis sociais, respondeu com o costumeiro carinho e solicitude:
-Minha irmã, transmita a sua patroa que ela é bem-vinda aqui e que teremos o prazer em ajudá-la. Peça que ela não considere uma ofensa, mas não podemos aceitar assim a generosa oferta amoedada. Aqui, nos reunimos para seguir os ensinos de nosso Senhor e Mestre Jesus, que nos ensina a tratar a todos como irmãos e a fazer isso de forma desinteressada sem recompensas materiais. Deixe-nos a informação de como podemos encontrá-los. No prazo mais curto possível, estaremos lá para fazer o que estiver ao nosso alcance.
Após insistir sem sucesso na entrega do pagamento antecipado, a senhora retirou-se, espantada com a atitude da casa, mas confiante no recebimento da ajuda que precisava.
Barnabé e Jonas se dirigiram ao interior da instituição, em busca de Demétrius, visando programar uma visita ao doente em Selêucia, na certeza que agindo desta forma seguiam os ensinos do Senhor.
- Mateus 13:24-30
Confira os textos da coluna sobre Barnabé assinada por Carlos Malab aqui.