Psicopictografia pela médium Cleide, espírito Antônio Lisboa - Fraternidade Cristã Francisco de Assis (Fecfas)
Os conselhos de um antigo pescador
Todos, na Casa do Caminho em Antioquia, estavam vivendo um clima espiritual todo especial. Os dias haviam se tornado repletos de sublime alegria e contentamento. O motivo era a visita do apóstolo Pedro. A sua presença iluminou a mente e o coração dos que ali trabalhavam.
O apóstolo era muito querido e respeitado. Podia-se afirmar, sem medo de errar, que foi ele quem contribuiu para o fortalecimento da comunidade na cidade, como ela era conhecida.
Pedro os apoiara desde os seus primeiros tempos e fora o responsável por enviar Barnabé para estruturar as tarefas e dar forma à instituição, para que ela surgisse nas mesmas bases de simplicidade, caridade e auxílio ao próximo, implementadas na Casa do Caminho, de Jerusalém.
O discípulo de Jesus era recebido como um pai, que espalhava bondade e carinho, deixando, em torno de si, o amor incondicional.
A energia do seu olhar contrastava com as suas atitudes calmas e bem pensadas.
Ao chegar, ofereceu-se de imediato para ajudar, buscando entender o que se passava com a comunidade.
No ambiente, ficou patente a ansiedade muito grande por receber esclarecimentos e orientações de um discípulo direto do Mestre.
Barnabé irradiava felicidade, porque identificava em Pedro a autoridade moral de quem vivia os ensinamentos do Senhor. Reconhecia a luta em que ele se debatia na fornalha das batalhas humanas, enfrentando a perseguição, incompreensão, descontentamento, calúnias de toda a ordem e as dissensões internas.
O velho pescador aprendera como tratar as questões mais intricadas, vislumbrando as necessidades da propagação da boa nova.
Ao chegar em Antioquia, desvinculando-se temporariamente das obrigações em Jerusalém, sentou-se à mesa simples de refeições, não permitindo qualquer distinção.
Com a orientação e incentivo de Barnabé, os colaboradores da casa foram tomando coragem para fazer perguntas e receber esclarecimentos.
O primeiro a se manifestar foi Ágabo. Ele se sentia opresso pelas manifestações que ocorriam através dele, pois tinha dúvidas sobre a aprovação de Pedro. Temia que a palavra do Espírito Santo, que vinha por seu intermédio, fosse deturpada e alterada, de alguma forma, pelos seus pensamentos.
Chegando ao lado de Pedro, Ágabo perguntou:
-Irmão Pedro, é muita a minha admiração e consideração por sua pessoa, e não me sinto digno de o importunar com as minhas questões pessoais. Peço desculpas, mas gostaria de saber se o irmão pensa ser possível que o Espírito Santo se manifeste por alguém, além dos apóstolos de nosso Senhor e Mestre?
Simão Pedro olhou para Ágabo, com uma expressão que juntava paciência e carinho, e respondeu sem hesitação:
-Meu caro irmão Ágabo, pode o sol pertencer a alguém? Podemos escolher para quem ele aparece ou não? Seriam as luminosas estrelas que tanto nos encantam, cativas das ordens de alguém para aparecerem no céu? O nosso querido Mestre sempre nos ensinou que somos todos filhos de Deus e que a palavra do Senhor chega a todos que têm ouvidos para ouvir. Se houvesse uma seleção que não fosse a do cultivo da bondade no coração e a disposição sincera de servir, o que seria de nós?
O irmão sabe que, mesmo convivendo com o Senhor diretamente, o neguei na hora do testemunho. Diante disto, que credenciais tenho? Mesmo assim, o Mestre não desistiu de mim.
Continue, meu irmão, com as suas tarefas e não se deixe abater pelas críticas infundadas. Nem se deixe levar pelos interesses materiais de qualquer ordem.
Dai de graça o que de graça recebestes, entendeu?
Pedro parou por uns instantes, como se estivesse refletindo sobre as lições do passado, e continuou comentando:
-O Senhor distribui os dons por toda a parte e espera que lhe retornemos com resultados que multipliquem a grandeza de Suas dádivas. Aquele que recebe um dom e o esconde, sem dar frutos e sem multiplicá-lo, será chamado a dar contas. Necessitamos de valorizar os dons, fazê-los prosperar. Continue com a sua tarefa e tenha fé em Deus.
-Entendi, irmão. E se o que disser venha afetar a vida de alguém, ou mesmo o rumo futuro das nossas atividades?
Pedro refletiu por um pouco e retornou:
-Sempre o nosso Mestre nos recomendava iniciar as nossas tarefas e terminá-las com uma oração ao Pai. Ele mesmo assim o fazia em muitas ocasiões, para nos ensinar como agir, pois, Ele estava em perfeita e direta sintonia com o Pai, em todos os momentos de sua passagem aqui conosco.
Não foi fácil para mim entender isto. Sempre fui muito impulsivo e queria resolver as questões com o olhar do mundo, mas Jesus me alertava para seguir o caminho do respeito e do amor ao próximo. Assim, Ele afirmava que deveríamos amar aos nossos irmãos, e repetidamente dizia a nós, que o seguíamos diariamente, sem profundamente entendê-Lo: “Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.”
Ágabo se afastou agradecido e pensativo.
Barnabé aproveitou o momento para apresentar Diana. Ela era de descendência grega, com domínio do aramaico. Aproximara-se da Casa, muito desejosa de entender as lições do Cristo, mas tinha um drama familiar.
Ao chegar perto de Pedro, Diana ajoelhou-se diante dele, mas ele imediatamente a levantou dizendo:
-Minha irmã, levanta-te, não sou merecedor de quaisquer homenagens ou reverência, em que posso ajudar?
Assentando-se ao lado de Pedro e com o apoio de Barnabé, Diana perguntou:
-Irmão, estou muito emocionada com a sua presença e a minha voz falha. Eu tenho pais que me amam muito, mas são muito idosos e não estão satisfeitos de me ver aqui nesta casa do Cristo. Da minha parte, encontrei aqui a felicidade de estar com aqueles que me fazem esquecer os problemas do mundo e ser útil ao próximo. Aqui, sinto-me em paz comigo mesma e sou respeitada como uma trabalhadora. Estou em conflito com a minha família. O que devo fazer? Ficar presa na família, nas concepções ultrapassadas que não me felicitam mais, ou me dedicar com mais afinco às tarefas nesta casa de amor ao próximo?
Pedro olhou com profunda consideração por aquela alma sensível e, entendendo o seu dilema, lembrou-se das palavras do Senhor. Deveríamos cumprir os mandamentos divinos e, entre eles, estava o de honrar pai e mãe.
Aquela senhora, possivelmente, não tivera a oportunidade de estudar profundamente o assunto. Não podia, por outro lado, deixar sem alimento e fortalecimento aquela fé nascente, e pediu auxílio mental a Jesus para que sua palavra a assistisse como a todos os presentes, e respondeu:
-Irmã Diana, nosso Mestre nos ensinou que não veio derrogar a lei, mas sim dar cumprimento a ela. Na lei, um dos mandamentos é o de honrar ao nosso pai e à nossa mãe. Se assim o fizermos, estaremos aptos a seguir para um segundo ensinamento que é o de amarmos ao próximo como a nós mesmos.
Não serão os nossos parentes os próximos mais próximos de nós? Temos a obrigação de amá-los e respeitá-los. No entanto, com o mínimo de atrito, sempre podemos levar adiante as tarefas que traduzem os nossos ideais mais profundos. O Pai nos dá sempre obrigações que podemos cumprir. Jesus nos consolou mostrando que o Seu jugo é suave e Seu fardo é leve. (1) Siga adiante a tarefa de amparo ao próximo o quanto puder, mas não abandone ou relegue o seu pai e a sua mãe, pois a nossa dívida para com nossos pais é muito grande.
Diana saiu pensativa, mas com o semblante transparecendo paz e compreensão.
Barnabé, notando que o momento necessitava de uma pausa nas conversações, pediu a compreensão de todos e dando o braço a Pedro o levou para o cómodo mais reservado, desejando oferecer-lhe descanso e leve refeição.
Enquanto isto, as atividades da casa continuaram, e os trabalhadores comentavam com alegria os ensinamentos recebidos, desejando, em breve, ouvir novamente o antigo pescador, que deixava muito viva a presença de Jesus entre eles.
(1) Mateus 11:30
Confira os textos da coluna sobre Barnabé assinada por Carlos Malab (aqui)