Artigo. O Cidade Conecta preparou lançamentos, periódicos, de artigos do escritor, expositor e articulista José Martins Peralva Sobrinho, ou simplesmente Martins Peralva, como era conhecido. Ele, que foi um dos grandes representantes do movimento espírita no Brasil, escreveu os seguintes livros: “Estudando a mediunidade”, “Estudando o Evangelho”, “O Pensamento de Emmanuel”, “Mediunidade e evolução”, editados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), e “Mensageiros do bem”, editado pela UEM.
Os artigos publicados fazem parte do livro “Evangelho puro, puro Evangelho – Na direção do Infinito”. Trata-se uma coletânea de textos disponibilizados nos jornais “O Luzeiro”, periódico de sua terra natal, Sergipe, “Síntese” e “Estado de Minas”, ambos de Minas Gerais, e na revista “Reformador” da FEB. Geraldo Lemos Neto, responsável pelo Vinha de Luz — Serviço Editorial, foi quem coletou o material com a família Peralva, para que a comunidade espírita tivesse a oportunidade de conhecer mais de perto Martins Peralva.
Analisar e julgar
Março | 1958
"Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo.” — O Livro dos Espíritos, Parte 3, Cap. XII.
“Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.” — Jesus. João, 8: 15
De modo geral não se distingue bem o que seja análise e o que seja julgamento, nos círculos de nossas cogitações espirituais ou religiosas. Tal especificação, entretanto, nos parece de importância, uma vez que, no contraditório e confuso mundo em que vivemos, a análise serena e justa torna-se um imperativo a que não podemos fugir.
A análise cristã tem a virtude de conduzir à observação, a observação leva ao discernimento, o discernimento, por sua vez, é meio caminho andado para o acerto, razão por que devemos tê-la sempre por companheira, a fim de que, bem orientados, possamos escolher o melhor dentre os melhores caminhos.
Todavia, no que diz respeito a tão complexo problema, o de analisar e julgar, todo cuidado é pouco, eis que, ainda insuficientemente esclarecidos, poderemos, sem o desejar, converter a análise em julgamento ou condenação comum.
“O Livro dos Espíritos” adverte-nos: “Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo”. E o Mestre afirma: “Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo”.
Analisar e julgar são, pois, coisas diferentes. E bem diferentes. O que analisa cristãmente guarda para si mesmo, em silêncio fraterno, o fruto de suas observações. Compara-se ao viandante cauteloso, que examina o caminho com a finalidade preservativa de remover obstáculos, superar perturbações, evitar surpresas.
O que julga pelo simples prazer de censurar é um doente. Infringe, frontalmente, o Evangelho. Foge aos princípios da caridade. Simboliza o viajor imprevidente, precipitado, leviano, que amontoará na própria consciência, mais cedo ou mais tarde, as pedras da condenação injusta que atirara no companheiro de jornada.
A advertência de Jesus, que o evangelista anotou, é digna de meditação. Compele-nos sobretudo à vigilância, porque, realmente, não é fácil demarcar a linha divisória que separa a análise do julgamento. Em suma: o único julgamento que assenta bem no aprendiz de boa vontade — tão bem como se fossem luvas previamente encomendadas —, é o da própria realidade interior, carecente de reajuste, necessitada de retificação.
Os que abraçam o Espiritismo, identificando nele um ideal de elevação espiritual, encontram na Doutrina e no Evangelho do Senhor — duas forças vivas, atuantes, eternamente renovadoras — os recursos capazes de assegurar um mínimo de enganos neste máximo de possibilidades negativas com que o homem se depara, dia a dia. Isso porque Evangelho e Espiritismo traduzem, no campo do coração humano, a semente da fraternidade e a gota de luz da compreensão.