Artigo. O Cidade Conecta preparou lançamentos, periódicos, de artigos do escritor, expositor e articulista José Martins Peralva Sobrinho, ou simplesmente Martins Peralva, como era conhecido. Ele, que foi um dos grandes representantes do movimento espírita no Brasil, escreveu os seguintes livros: “Estudando a mediunidade”, “Estudando o Evangelho”, “O Pensamento de Emmanuel”, “Mediunidade e evolução”, editados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), e “Mensageiros do bem”, editado pela UEM.
Os artigos publicados fazem parte do livro “Evangelho puro, puro Evangelho – Na direção do Infinito”. Trata-se uma coletânea de textos disponibilizados nos jornais “O Luzeiro”, periódico de sua terra natal, Sergipe, “Síntese” e “Estado de Minas”, ambos de Minas Gerais, e na revista “Reformador” da FEB. Geraldo Lemos Neto, responsável pelo Vinha de Luz — Serviço Editorial, foi quem coletou o material com a família Peralva, para que a comunidade espírita tivesse a oportunidade de conhecer mais de perto Martins Peralva.
A estranha discussão
Julho | 1958
Surpreendera-se, certo dia, Jesus com insólito acontecimento no sempre fraterno ambiente dos discípulos.
Consagrados inteiramente às tarefas do bem, acompanhando o Senhor, diariamente, nas longas caminhadas através de aldeias, campos e praias, nas quais assinalavam, lentamente, os ideais renovadores da Boa Nova, aqueles rústicos galileus formavam uma comunidade pacífica e ordeira.
Adotando por lema o “um por todos e todos por um”, a existência dos apóstolos transcorria em clima de perfeito entendimento, aquecida por aquele sol, atuante e amoroso, que lhes vivificava as experiências — nosso Senhor Jesus Cristo.
União e amizade, concórdia e paz, respeito e harmonia eram as benéficas forças e superiores aspirações que estreitavam e unificavam os fervorosos servos do Evangelho. O cansaço e a luta, a dificuldade e a pobreza, a perseguição e as lágrimas pareciam uni-los cada vez mais.
Pouco a pouco, suas vozes começaram a elevar-se, como se desviassem eles para estranha discussão. Jesus, alheado do círculo dos companheiros, permanecia silencioso. O grande Espírito parecia ter-se ausentado para bem longe, para junto do amantíssimo Pai, em cujo seio estaria haurindo energias para as vicissitudes dos dias tormentosos que se avizinhavam.
O vozerio dos discípulos, normalmente moderados e respeitosos, terminou por chamá-lo à realidade. O Mestre levantou a formosa cabeça, concentrou a atenção no pequeno grupo — sim, eram apenas doze homens! — percebendo, então, que discutiam.
“Que estaria ocorrendo?” — pensou Jesus.
“Que estaria levando os bem-amados companheiros, sempre tão unidos, àquela estranha contenda de palavras, onde não faltavam, inclusive, referências menos fraternas? Estariam, porventura, em desacordo exegético, relativamente a alguma das parábolas que ele, o divino Redentor, enunciara no transcurso daquele dia?”
Ergueu-se sereno, majestosamente sereno, dirigiu-se para o grupo que se exaltava e disse alguma coisa.
***
Prolongado silêncio envolveu, daí por diante, a pequena comunidade. E as doze cabeças, que já se tornavam altivas e arrogantes, foram-se curvando, uma a uma. Só a fronte do Mestre permaneceu erguida, formosa, sublime, irradiando maravilhosa claridade, embora em seus olhos se pudessem ver, rolando vagarosamente, como pérolas de alto valor, duas lágrimas de amargura.
***
Longos anos se passaram sem que a humanidade soubesse por que discutiam os apóstolos e o que falara Jesus. Depois surgiram as anotações de Lucas, no capítulo 22, versículos 24 e 26. Os discípulos discutiam sobre qual deles era o maior. E Jesus lhes dissera, simplesmente, que o maior dentre eles fosse como o menor.
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