O Cidade Conecta preparou lançamentos, periódicos, de artigos do escritor, expositor e articulista José Martins Peralva Sobrinho, ou simplesmente Martins Peralva, como era conhecido. Ele, que foi um dos grandes representantes do movimento espírita no Brasil, escreveu os seguintes livros: “Estudando a mediunidade”, “Estudando o Evangelho”, “O Pensamento de Emmanuel”, “Mediunidade e evolução”, editados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), e “Mensageiros do bem”, editado pela UEM.
Os artigos publicados fazem parte do livro “Evangelho puro, puro Evangelho – Na direção do Infinito”. Trata-se uma coletânea de textos disponibilizados nos jornais “O Luzeiro”, periódico de sua terra natal, Sergipe, “Síntese” e “Estado de Minas”, ambos de Minas Gerais, e na revista “Reformador” da FEB. Geraldo Lemos Neto, responsável pelo Vinha de Luz — Serviço Editorial, foi quem coletou o material com a família Peralva, para que a comunidade espírita tivesse a oportunidade de conhecer mais de perto Martins Peralva.
Estímulo ou acusação
Janeiro | 1960
“Vós sois o sal da terra.” — Jesus
Asseverando aos discípulos que eram eles o sal da terra, sem dúvida não desejou Jesus exaltar-lhes a vaidade, nem fazê-los olvidar a humildade própria do aprendiz sincero do Evangelho. O que o Mestre pretendeu, na verdade, foi adverti-los quanto à responsabilidade de que se achavam investidos, como legatários diretos e pessoais das sublimes lições por ele trazidas à Terra.
Nessas palavras do Senhor identificamos o mesmo sentido dado a outra afirmativa evangélica: “Àquele que mais recebeu mais será pedido”. De fato, ninguém discute, em sã consciência, quem mais recebe mais pode dar, quem mais conhece mais pode ensinar.
Não se pode medir, em termos de equivalência, a responsabilidade do selvagem que elimina, com naturalidade, o guerreiro vencido, e a do civilizado que se comporta cruelmente ante o inimigo que se rende.
Muitos ouviram falar de Jesus e de suas lições por vias indiretas, uma vez que os discursos e as curas realizadas pelo Mestre repercutiam por toda a região que teve a glória de acolher o celeste Enviado. Os equívocos daqueles que tiveram notícia do Cristo e dos seus feitos, apenas por ouvirem dizer, seriam mais facilmente compreendidos, mais facilmente tolerados. Haviam recebido menos do que os que tiveram a ventura de testemunhar, “de visu”, e “in loco”, os prodígios do Benfeitor sublime.
Com os discípulos a situação era diferente: foram chamados, aceitaram a convocação generosa, conviveram com o Mestre, com ele aprenderam e edificaram corações para o bem e a moral. Os seguidores de Jesus usufruíram a glória de acompanhá-lo, de beber-lhe diretamente dos lábios imáculos aquele mundo de elevadas noções que formam o código da vida. Se não devemos considerá-los privilegiados, não parece impropriedade situá-los na posição de seres altamente afortunados.
Beneficiários diretos do Senhor, a responsabilidade dos discípulos teria de ser mais acentuada, mais intenso o aproveitamento das lições pessoalmente ministradas pelo Amigo divino. O Mestre compreendia a situação, daí ter-lhes dito: “Vós sois o sal da terra”, salientando, exclusivamente, a exemplificação e a perseverança que lhes deveriam assinalar, para sempre, a conduta apostólica.
Os apóstolos e os discípulos seriam um marco na história e no desenvolvimento do Cristianismo. E bastante árdua a sua missão: preservar o patrimônio legado pelo Senhor, tal como o sal conserva a pureza, a integridade dos alimentos. Desde Pedro, o mais velho, até João Evangelista, o mais moço, todos souberam dignificar o título de “cristãos”, de continuadores do Evangelho, compenetrados de que Jesus, em retornando aos planos siderais mais elevados, lhes outorgara a missão de manter a vitalidade doutrinária, de assegurar-lhe a pureza, de garantir-lhe a expansão no tempo e no espaço.
A árvore nascente, regada por aqueles homens rudes e simples, mas sinceros e idealistas, vicejou e produziu frutos que dulcificaram milhares de corações antes angustiados. E quando eles, por sua vez, abandonaram a carruagem física, o “espírito apostólico” permaneceu no mundo controlando, fiscalizando e amparando a evolução da doutrina de amor do Mestre.
Para todos que permanecem fiéis ao pensamento, à diretriz dos homens da Casa do Caminho, nos arredores de Jerusalém — homens simples, humildes, infensos a favores, honrarias e compensações materiais —, a afirmativa de Jesus “Vós sois o sal da terra” representa estímulo, fortalecimento, esperança. Mas para os que, insensatamente, desvirtuaram e desvirtuam a beleza eterna do Evangelho, para estes as palavras do Senhor constituem admoestação e libelo perenes. Poderão elas repercutir na acústica de nossa consciência como estímulo ou acusação. Cada um de nós será juiz de si mesmo.
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