Serão 435 cópias, a partir de amanhã (3), em salas de todo Brasil. É o
recorde de lançamento do cinema brasileiro - "Os Normais" chegou a 434
cópias, perdendo por uma para "Nosso Lar". O longa adaptado do best
seller de Chico Xavier chega para arrebentar. A Federação Espírita do
Brasil, que detém os direitos do livro, dá seu aval. As plateias de
espíritas, que já assistiram às pré-estreias - no Rio e em São Paulo,
entre outras praças -, reagem emocionalmente, muitos chorando. "Nosso
Lar" baterá outro recorde, o de público, de "Chico Xavier"? O longa de
Daniel Filho bateu nos 5 milhões de espectadores. Dependendo do sucesso
de "Nosso Lar", haverá nova enxurrada de filmes inspirados na doutrina
espírita, a começar por "Os Mensageiros", também ditado pelo espírito
de André Luiz, que o diretor Wagner de Assis também gostaria de verter
para a tela.
Quando ele se lançou ao projeto, parecia coisa de louco. Para tornar
real o mundo pós-mortem relatado por Chico Xavier em seu livro ditado
por André Luiz, Assis sabia que ia necessitar de efeitos, muitos
efeitos. Eles não o assustavam, mas, além de não dominar tecnologias de
ponta nessa área de produção, o cinema brasileiro tem o hábito de só
timidamente recorrer a elas. Efeitos são coisas de Hollywood, aumentam
os custos. Felizmente, o projeto interessou a uma empresa do Canadá, e
o próprio governo daquele país barateia custos ao subsidiar a produção
estrangeira. Um compositor tão prestigiado quanto Philip Glass também
ligou seu nome a "Nosso Lar", e não por dinheiro, mas por achar
intrigante esse mundo retratado por Assis em seu longa.
No comando de tudo isso, a produtora Iafa Britz arrisca a maior
cartada de sua carreira. Ex-Total Entertainment, ela se desligou da
outra empresa para desenvolver projetos próprios. Estreia com o mais
caro filme produzido no Brasil - outro recorde associado a "Nosso Lar".
Até aqui, o campeão era "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto,
que estreou no começo do ano. "Nosso Lar" foi orçado em US$ 10 milhões,
o que, convertido em reais, fica próximo dos R$ 18 milhões. Toda essa
dinheirama está na tela, e boa parte dela convertida em efeitos. Alguns
- muitos - são bons, mas Iafa Britz e Wagner de Assis reconhecem o
calcanhar de Aquiles de seu épico espírita. Quando o 'nosso lar'
aparece na tela - existem milhares de cidades espirituais como aquela,
ao redor dos planetas, não somente da Terra -, o plano de conjunto
sugere uma maquete, sobre a qual se move o aerobus. "É o plano que mais
nos incomoda, mas temos de conviver com ele", explica a produtora.
"Poderíamos até melhorá-lo, mas isso significaria aumentar, e muito, o
custo. Tornou-se inviável", acrescenta o diretor.
Afinal, isto aqui não é Hollywood. E o importante é passar a
'mensagem'. O espiritismo, reflete o presidente da Federação Espírita,
Nestor João Masotti, não é filosofia nem religião. É uma doutrina que
busca o conhecimento da verdade baseada nas leis naturais. Os mistérios
da (i)mortalidade e da reencarnação são encarados sempre por meio de
leis morais. Quem for ver "Nosso Lar", o filme, esperando uma
reprodução exata do livro, vai estranhar as liberdades. Mas elas foram
aceitas pelo próprio Masotti baseado na mais simples das evidências - o
cinema é uma mídia diferente do livro. Ele aprovou o roteiro e a
filmagem teve acompanhamento da Federação. A essência da obra de Chico
Xavier está na tela e isso é o que importa.
Masotti já havia gostado de "Chico Xavier", mesmo com a ressalva -
admitida pelo diretor Daniel Filho - de que um filme de duas horas não
poderia dar conta da integralidade de uma vida tão grande quanto a do
médium mineiro, que psicografou centenas de livros, ditados por vários
espíritos. O campeão de vendas, entre aqueles cujos direitos pertencem
à Federação, é "Nosso Lar", mas também vende muito bem "Há Dois Mil
Anos", ditado por outro espírito, o de Emmanuel. "Nosso Lar" reproduz a
experiência do médico André Luiz, que morre e vai para a região sombria
do Umbral, de onde será resgatado pelos espíritos para o Nosso Lar.
Embora a doutrina espírita não reconheça o inferno, o Umbral seria o
seu equivalente, o espaço das trevas. O Nosso Lar é a região da luz,
onde os espíritos se aprimoram e de onde retornam às Terra, para novas
encarnações. O objetivo do filme não é catequizar, mas levar o público
a compartilhar as experiências da imortalidade e do aprimoramento
espiritual.