Está entrando em circuito nacional o filme Nosso Lar, uma das mais caras e bem cuidadas obras do cinema nacional. Para o movimento espírita, um marco. Pela primeira vez, o mundo espiritual, a morada dos mortos, conforme a descrição do espírito André Luiz, em psicografia de Francisco Cândido Xavier, salta do livro homônimo para as telas.
Um mundo espiritual surpreendente, apresentado com efeitos especiais espetaculares e primorosa técnica, a nos oferecer uma visão ampla e objetiva do que nos espera quando nosso corpo, a máquina que usamos para transitar pelo mundo, entrar em pane definitiva e for destinada ao desmanche no cemitério.
Para você, leitor amigo, que não é espírita, nem está familiarizado com a temática doutrinária, aqui vão alguns esclarecimentos indispensáveis, a fim de que não julgue estar diante de delirante fantasia.
Podemos começar com a afirmativa do apóstolo Paulo, na primeira epístola aos coríntios (15:44): "Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual." Paulo faz uma distinção entre o corpo físico, que usamos no trânsito terrestre, e o corpo espiritual, que nos serve no trânsito celeste. Segundo a definição espírita, o espírito não tem forma. Podemos situá-lo como um facho de luz. Esse ser espiritual, essa luz que irradia, tem um veículo de manifestação no plano em que atua, o corpo celeste a que se refere Paulo. É por intermédio dele que o espírito liga-se ao corpo na reencarnação. E é com ele que transita no mundo espiritual, após a morte física.
Esse corpo celeste tem sido estudado ao longo dos milênios, em todas as culturas. No budismo esotérico, era chamado Kama-rupa; Kha, no Egito; Imago, no tradicionalismo grego; Khi, no tradicionalismo chinês; carne sutil da alma, por Pitágoras; corpo sutil e etéreo, por Aristóteles; Evestrum, por Paracelso; corpo fluídico, por Leibnitz; Aerossoma, pelos neoagnósticos, corpo astral por hermetistas e alquimistas... A lista iria longe. No Espiritismo, é chamado perispírito (em torno do espírito).
Um detalhe, leitor amigo: certamente você conhece ou já ouviu falar de gente que vê os mortos. Relatos a respeito existem no seio de todas as culturas e todas as religiões. Uma pergunta: como podem os videntes identificar tais espíritos, dizendo quem foram na Terra? É simples. Eles os veem em seu corpo espiritual, que guarda a mesma aparência do corpo físico, como se fosse cópia xerox.
Agora o fundamental: o perispírito é feito de matéria também, matéria numa outra faixa de vibração, matéria quinta-essenciada, mas matéria, que não vemos porque o corpo físico inibe nossas percepções espirituais. Ora, se o perispírito é feito de matéria sutil, ocupa lugar no espaço, obviamente deve movimentar-se num mundo feito de matéria, onde inescapavelmente há formas. Admitindo essa realidade, não nos é difícil imaginar um mundo espiritual semelhante ao mundo físico, com casas, cidades, veículos e muitas coisas das quais o que temos na Terra é mera cópia.
Se os físicos, esses incríveis visionários que enxergam aparentes fantasias que a ciência acaba comprovando, concebem que existem “n” universos paralelos, não é difícil imaginar o mundo espiritual como um deles. E para lá nos transferiremos quando a morte nos convocar, deixando o veículo físico para usar o veículo perispiritual, arrebatados para experiências inacessíveis ao homem comum, como revela Paulo, na segunda epístola aos coríntios (12:2-4): "Conheço um homem em Cristo, que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar."
Veja o filme, amigo leitor, maravilhosa antevisão do que o espera quando chegar sua hora. Perceba que certamente Paulo visitou, durante o sono, em seu corpo espiritual, comunidades como a de Nosso Lar, cidade habitada por espíritos conscientes da paternidade divina e compromissados com o bem. E não se assuste com a visão do chamado Umbral, um autêntico purgatório apresentado no começo do filme. Fique tranquilo, porquanto por lá só transitam aqueles que não cumprem as recomendações do Cristo, a partir do essencial: o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, como recomendava Jesus.
Richard Simonetti
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