1 – Como encarar o Terceiro Congresso Espírita Brasileiro, promovido pela Federação Espírita Brasileira, comemorando o centenário do nascimento de Francisco Cândido Xavier?
Uma justa homenagem ao maior médium psicógrafo de todos os tempos, que foi um divisor de águas no movimento espírita brasileiro e cuja produção literária será apreciada devidamente pelas gerações futuras.
2 – Há quem critique a temática do congresso, com ênfase para sua produção mediúnica, em detrimento de sua biografia.
Não vejo como poderíamos enfatizar o trabalho de alguém sem que, implicitamente, estejamos homenageando o próprio. Por outro lado, tal informação não procede. Um dos temas básicos do congresso é destacar o exemplo de vida de Chico Xavier.
3 – Há, também, quem enfatize que essas homenagens e comemorações fazem parte de um projeto de “santificação” do médium, incompatível com os princípios doutrinários.
Se levarmos esse questionamento às últimas consequências teremos que eliminar qualquer menção ou homenagem a ilustres personalidades espíritas, como Bezerra de Menezes, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Batuíra… Estão todos “canonizados” pela opinião pública, “santos” evocados frequentemente por espíritas, que lhes pedem orientação e ajuda. Essa é a abençoada “sina” dos grandes missionários.
4 – Não obstante, esses movimentos não ferem a humildade dos homenageados?
Não é o que informa a questão 320 de O Livro dos Espíritos. Pergunta Kardec: "Sensibiliza os espíritos o lembrarem-se deles os que lhes foram caros na Terra?" Resposta: "Muito mais do que podeis supor. Se são felizes, esse fato lhes aumenta a felicidade. Se são desgraçados, serve-lhes de lenitivo. É preciso cuidado para não sermos “mais realistas do que o rei”.
5 – E quanto aos suntuosos memoriais Chico Xavier que estão sendo erguidos em algumas cidades com enorme dispêndio de recursos? Chico não ficaria mais feliz se esse dinheiro todo fosse aplicado em favor dos carentes?
Quando os discípulos criticaram o gesto de uma mulher que aplicou perfume em Jesus, sob a alegação de que o dinheiro seria melhor empregado se destinado aos pobres, o Mestre respondeu que sempre haveria pobres, mas que homenagens como aquela seriam perpetuadas como exemplos de apreço. O mesmo podemos dizer em relação aos memoriais Chico Xavier, que, ao que eu saiba, não são suntuosos, nem envolvem fortunas.
6 – Chico aprovaria?
A iniciativa de homenagear alguém não depende do consentimento do homenageado. E há que se considerar a importância dos memorais que perpetuam a vida e a obra de pessoas que foram importantes para a coletividade. Vi, sensibilizado, o memorial de Martin Luther King, em Atlanta, Estados Unidos, e de Albert Einstein, em Berna, Suíça. Costuma-se dizer que o brasileiro é um povo sem memória. É verdade. Precisamos mudar isso.
7 – Teria Chico disposição para comparecer, tendo em vista que era avesso a essas iniciativas?
Na questão 324, de O Livro dos Espíritos, pergunta Kardec: "O espírito das pessoas a quem se erigem estátuas ou monumentos assistem à inauguração de umas e outros e experimentam algum prazer nisso?" Resposta: "Muitos comparecem a tais solenidades, quando podem; porém, menos os sensibiliza a homenagem que lhes prestam do que a lembrança que deles guardam os homens. Se comparecem quando podem, é evidente que não são contra tais iniciativas e ficam felizes com elas, embora, obviamente, a maior homenagem que possamos prestar a alguém que se destacou no campo do bem e da verdade será tê-lo presente em nossa memória, com a disposição de seguir seus exemplos."
8 – O problema é que essas iniciativas situam-se como investimentos, com retorno financeiro para os promotores, mediante a cobrança de ingressos. Isso não está errado?
Quem assim imagina está, lamentavelmente, incorrendo em julgamento, já que desconhece os detalhes, bem como o idealismo e a honestidade das pessoas envolvidas. Pelo que tenho observado, não há nenhuma intenção pecuniária nesses projetos. E quanto à cobrança de ingressos não conheço nenhum mecenas disposto a patrociná-los. Para serem viabilizados é preciso contar com a colaboração dos visitantes, tanto quanto um congresso como aquele que será realizado pela FEB necessita da contribuição dos participantes. E é sempre bom não confundir essas iniciativas com o trabalho rotineiro do centro espírita, realizado, invariavelmente, em regime de absoluta gratuidade, como recomendava Kardec.