O entrevistado Nuno Emanuel nasceu em Lisboa, capital de Portugal, onde vive. Seu trabalho de divulgador do movimento espírita, sobretudo pela Internet, tem sido constante e de muita utilidade. É orador, evangelizador de crianças e jovens, passista e participante de reuniões mediúnicas. Já esteve no Brasil e mantém contato com companheiros brasileiros, circunstâncias que lhe facilitam a difusão do Espiritismo por terras portuguesas.
Nuno, poderia nos fazer a sua apresentação?
Sou um espírito que pretende conhecer-se para se melhorar. Trabalhador de última hora na seara de Jesus, nasci em Lisboa, Portugal. Sou filho único de José Manuel e Ema Maria, daí a origem do nome Emanuel (Ema Manuel). A minha família tem origens humildes em Viseu, no interior centro de Portugal.
Qual a sua formação acadêmica e profissional?
Mestrado integrado em Medicina Veterinária.
Tem alguma obra publicada?
Não.
Como você conheceu o Espiritismo e desde quanto frequenta a casa espírita?
Pela dor, após algumas depressões. O Sr. Carlos Alberto, trabalhador do centro espírita e amigo do meu pai sugeriu que fossemos ao centro. Isso ocorreu em janeiro de 1999.
Poderia nos descrever a sua trajetória pelo movimento espírita?
Como disse, tomei contacto com a doutrina em 1999, mas só me integrei nos estudos e trabalhos do centro em 2001, a conselho de Rui Marta, atual presidente da União Espírita da Região de Lisboa. Um encontro nacional de Jovens Espíritas em Viseu em 2001 com Divaldo Franco foi determinante, bem como a integração ao Grupo de Jovens Francisco de Assis do CEPC a conselho de D. Helena. Transição em 2002 para o Grupo de Estudos Camilo também coordenado por Antero Ricardo e Waldenir Cruz. Participação no Grupo Medíunico Luíz Gonzaga por sugestão da D. Idalina. Início de palestras em 2004. Integrante de estudos do Projeto Medicina e Espiritismo no CEPC e na Casa do Caminho. Voluntário em ações de Assistência e promoção social com a Fraternidade Espírita Cristã e Grupo Espírita Batuíra.
A que casa espirita está vinculado presentemente e os trabalhos que nela desenvolve?
Centro Espírita Perdão e Caridade em Lisboa (CEPC), desde 1999. Não tenho cargos, tenho encargos: evangelizador do DIJ, palestrante, passista, participante de trabalho mediúnico. Site: http://www.ceperdaoecaridade.pt/
Quais as atividades doutrinárias de sua instituição espírita?
Diversos grupos de estudo e cursos: básico de Espiritismo, Evangelho, Educação da Mediunidade, Obras Básicas da Codificação; Projeto Medicina e Espiritismo (obras de André Luiz e de Manuel Philomeno de Miranda). Palestras, seminários, ações de formação, trabalhos mediúnicos, jornadas espíritas de Lisboa em maio de cada ano. Outras atividades: Aaendimento fraterno, passe magnético e água fluidificada, vibrações espirituais; trabalho assistencial a famílias carenciadas.
Como está enxergando o movimento espírita em Portugal?
Parafraseando Divaldo Franco na sede da FEP “tem fases de altos e baixos”, há 3 anos estava numa “curva descendente”. O Raul Teixeira, em 2009 ,no centro do país ,referiu que de forma geral os dirigentes que discutem mais do que exemplificam não são espíritas, são "espiritados". No nosso país, temos vários casos desses. Mas há cada vez mais centros a trabalhar melhor e a estudar mais. Tenho esperança na nova geração.
Tem noção da quantidade de casas espíritas no país?
Segundo informações do Presidente da Federação Espírita Portuguesa, Arnaldo Costeira, há 64 Centros Espíritas federados; cerca de 80 outros estão formados, mas não estão federados.
Em que outros países da Europa o Espiritismo está sendo divulgado com boa aceitação?
Espanha e Portugal são os países da Europa com mais espíritas. Graças ao trabalho pioneiro, sobretudo de Divaldo Franco e Raul Teixeira. A Associação Médico-Espírita Internacional da equipa da Dra. Marlene Nobre têm tido também um papel importante na divulgação com Jornadas de Medicina e Espiritualidade em França, Inglaterra, Holanda, Suíça, Alemanha, Bélgica, além dos EUA e Canadá (América do Norte).
Existe ainda algum preconceito em relação aos espíritas?
Sim, sobretudo há preconceitos por ignorância, porque as pessoas não sabem o que é ou não ouviram sequer falar da Doutrina Espírita. E há também pessoas preconceituosas por má-fé.
É fácil se fundar um centro espírita em Portugal?
Com relação aos trâmites burocráticos seria interessante perguntar a quem fundou um centro espírita ou pretende fazê-lo. Mas posso dizer que depois da revolução de 25 de abril de 1974 tornou-se possível. Há um problema comum a outros locais: abrem-se centros não para melhorar a qualidade do trabalho doutrinário, mas porque houve dissensões de membros de outros centros.
Sabemos e somos testemunha de que você é um dedicado divulgador espirita. Quais os trabalhos que vem desenvolvendo nessa atividade?
Faço apenas a minha obrigação e o pequeno serviço que Emmanuel sugeriu a todos os espíritas na divulgação da doutrina. Colaboro na publicação Roteiro de Luz do CEPC e pontualmente para o Jornal de Espiritismo da Associação de Divulgadores de Espirismo em Portugal e Revista Verdade e Luz da mesma editora. Sou correspondente português da revista brasileira online “O Consolador”. Gosto de estudar a doutrina e envio e-mails que acho oportuno partilhar para a lista espírita e de amigos.
Conhece o movimento espirita brasileiro?
No 1º semestre de 2009, estive no Brasil e integrei-me nos trabalhos da UnenLar em Jaboticabal, no estado de São Paulo e no Grupo Fraternidade Irmão Américo em Hortolândia, Campinas, também naquele Estado. Em fevereiro, estive na Cidade da Fraternidade em Goiás (ComeMofra), participando de várias atividades. Falo regularmente com irmãos brasileiros e acompanho o movimento via Internet, através de Tv e radios espíritas, diversos congressos, seminários e palestras.
Qual a maior dificuldade que enfrenta o Espiritismo para crescer em Portugal?
Olhando para dentro do movimento espírita português, só sendo mais unidos é que seremos mais fortes. Os dirigentes e as associações precisam estar receptivos aos ensinamentos de Bezerra de Menezes sobre união e unificação. A divulgação coletiva só se concretizará quando se remar para o mesmo lado. Que tipo de exemplo queremos ser para o exterior, se em alguns de nós prevalecem os atritos pessoais entre casas espíritas em detrimento e prejuízo da causa espírita? E seguirmos Jesus: “Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.” Observam-se e constatam-se diversos desvios doutrinários, em centros de dirigentes com responsabilidades acrescidas. A propósito dessa e outras questões, uma amiga espírita diz com humor e seriedade que seria bom que Herculano Pires reencarnasse de novo em Portugal, após a sua vida como Alexandre Herculano. Dentro de várias casas há falta de estudo das obras de Kardec e complementares. Fora do movimento, há muita ignorância e desconhecimento sobre o que é a doutrina. Em nível geral, o materialismo, o nosso orgulho e egoísmo, a resistência habitual à mudança, influência marcante da Igreja Católica na história portuguesa.
Qual é em sua opinião a importância da evangelização na casa espírita?
Fundamental, uma vacina que não pode ser adiada.
Existe essa preocupação com o trabalho de evangelização da Infância aí em Portugal?
Há vários anos que esse trabalho tem sido incentivado pela Dra. Maria Emília Barros, diretora do DIJ da FEP e do DIJ Europa, com bons resultados em diversas regiões do país. Mas há muitos dirigentes que ainda desvalorizam a evangelização e educação espíritas.
Com relação aos grupos de mocidade, como está o movimento espírita português?
A Maria Emília é a pessoa mais indicada para responder. Anualmente, há um Encontro Nacional de Jovens Espíritas com uma adesão interessante de participantes. Nos grupos de jovens, vários desmobilizam quando vão para a universidade.
Em relação aos jovens de nossas mocidades espíritas, como devem proceder seus evangelizadores para mantê-los interessados no estudo da doutrina e em sua reforma íntima?
Integrar o tríplice aspecto da doutrina, Ciência, Filosofia e Religião na abordagem de temas por eles escolhidos, dando-lhes a conhecer a perspectiva espírita em assuntos da atualidade que os preocupam.
A Doutrina Espírita completou 153 anos em 2010, por isso indagamos: ela permanece atualizada ou precisa ser reformada em algum ponto?
Quem precisa de se atualizar somos nós no estudo na codificação da doutrina e obras complementares. Dizer que a doutrina dos espíritos superiores da Falange do Espírito de Verdade está desatualizada é o mesmo que dizê-lo acerca de Jesus. A obra de Chico Xavier, por exemplo, está muito à frente do nosso tempo. A Ciência ainda não desmentiu a doutrina num único ponto, para que a seguissemos nesse ponto como Kardec aconselhou. O Espiritismo do início da codificação, em sua visão é o mesmo, melhorou ou piorou em qualidade, isto é, está sendo mais estudado, mais praticado ou não? A doutrina é sempre a mesma. O movimento espírita é que depende de nós. Posso falar em Lisboa, onde é notório a união entre os principais centros espíritas, com diversos trabalhos de cooperação. Está a ser melhor estudado. Praticado depende de cada um.
Qual a melhor maneira de divulgarmos com acerto os postulados espíritas?
Como nos advertem os bons espíritos, pelo nosso exemplo como cidadãos. Para bem divulgá-lo é preciso conhecê-lo, sobretudo pelo estudo prioritário das obras de Kardec.
Como você analisa o trabalho legado à humanidade por Allan Kardec?
Só um dia poderemos ter uma ideia da dimensão do trabalho do "bom senso encarnado", como disse Camille Flamarion.
Você poderia nos explicar por quais motivos o Espiritismo desperta tão pouco interesse para o estudo e tão grande interesse pelos fenômenos?
Depende da evolução espiritual das pessoas, mas de forma geral somos preguiçosos. O interesse pelo mediunismo também tem a ver com ser fácil assistir passivamente aos fenômenos.
Bem mais difícil é estudarmo-nos a nós mesmos e nos esforçarmos por domar as nossas más inclinações, como aconselhou Kardec. “Instruir-nos e amar-nos” como nos recomendou o Espírito de Verdade.
Nuno, estamos vendo diariamente os meios de comunicação divulgando notícias como corrupção, crimes, violência, etc. Em sua visão, o que está realmente acontecendo com o nosso planeta?
Os meios de comunicação fazem com que esses acontecimentos nos entrem pela casa adentro, situações que aconteceram sempre em maior ou menor grau. Mas nunca houve tantas pessoas a fazer o bem no anonimato. A crise econômica mundial é, sobretudo, uma crise moral. As grandes crises sempre antecederam as mudanças que são necessárias. Faz parte do processo de transição que atravessamos.
Você acredita que uma regeneração do nosso planeta esteja realmente próxima, como nos informam os espíritos superiores?
É um processo gradual que depende do livre-arbítrio individual e coletivo, mas estamos submetidos à lei divina do progresso. A Terra vai evoluir e merecer estar nela como planeta de regeneração depende de nos querermos regenerar.
O aborto continua sendo o assunto mais discutido aqui no Brasil. Como o povo português analisa essa questão?
Em Portugal, foi feito um novo referendo há 2 anos que aprovou desta vez a despenalização do aborto, sendo legalizado até às 10 semanas. Além dos casos de estupro, deficiências congênitas e perigo de vida para a mãe. As pessoas caíram nas armadilhas e falácias das estratégias de manipulação de dados, políticos e opinião pública que têm sido adotadas noutros países ditos “desenvolvidos”.
Nuno, o que você diria a quem alimente uma pretensão de fazer um aborto?
Alertá-lo dos grandes riscos que corre em termos físicos, psicológicos e espirituais.
Quais são seus projetos para o futuro?
Melhorar como ser humano e como médico veterinário. Aprender cada vez mais em diversas áreas, tendo como referência os princípios espírita-cristãos.
Nuno há alguma coisa mais que queira acrescentar?
Só agradecer a oportunidade de partilhar este pequeno testemunho e a importância e bênção de conhecer a doutrina espírita nesta vida para a minha reabilitação como espírito imortal. Só perseverando no trabalho se consegue algo.
Para encerrar, gostaríamos que deixasse registrada sua mensagem à família espírita brasileira.
Mensagem de gratidão. A vós devemos em grande parte o contato com o Consolador prometido por Jesus, com todas as implicações que pode ter na nossa vida. Pelo esforço pessoal na divulgação entre nós, com palestras, seminários e ações de formação para trabalhadores dos centros espíritas.
(Entrevista para Ismael Gobbo ao Notícias do Movimento Espírita)
17/11/2010
|
