Alguém dirá que não importa a forma de uma instituição espírita, o que conta é a qualidade dos serviços ali prestados nos dois planos da vida. De fato, dentre as funções mais importantes de um centro espírita, destacaríamos a promoção dos valores cristãos através do exercício da caridade, do socorro aos necessitados, da divulgação da Doutrina Espírita e da educação mediúnica. Portanto, as instalações físicas da instituição, e outros cuidados alusivos ao uso inteligente dos recursos, ficariam em segundo plano. Entretanto, tentarei aqui demonstrar que a preocupação com a sustentabilidade conspira em favor da redução dos custos de manutenção da instituição – algo vital para qualquer organização filantrópica ou voluntária – e do exemplo que a casa espírita deve dar num momento em que experimentamos uma crise ambiental sem precedentes na história da humanidade.
São muitas as vantagens ao alcance de quem tem a oportunidade de erguer uma nova construção para abrigar um centro espírita. Um projeto que contemple a entrada de luz natural reduz drasticamente o uso de energia para luminárias. Num país tropical, onde o sol brilha 280 dias por ano, em média, desperdiçar essa maravilhosa fonte luminosa é jogar dinheiro fora. Todas as lâmpadas devem ser fluorescentes. Embora mais caro, esse equipamento dura mais e consome bem menos energia ao longo de sua vida útil. Deve-se privilegiar a ventilação natural, de preferência conhecendo previamente a corrente dos ventos da região. Numa construção sustentável, ventiladores ou aparelhos de ar-condicionado só precisam ser ligados quando há necessidade. Em algumas instituições, as despesas com equipamentos de refrigeração são expressivas e poderiam ser melhor destinadas a outras frentes de trabalho e assistência. Todos os equipamentos elétricos e eletrônicos eventualmente adquiridos devem ter, de preferência, o selo Procel, marcando a letra “A”, de máxima eficiência energética.
A coleta de água de chuva a partir do telhado, acumulada na laje em uma cisterna, assegura a disponibilidade desse recurso para múltiplos usos. A instituição poderá continuar usando água clorada e potável para beber, cozinhar e tomar banho. Para todos os demais usos – limpeza de pisos e janelas, rega de jardim, vaso sanitário, desentupimento de ralos ou bueiros, etc. – a água da chuva poderá suprir a demanda, sem custo financeiro para a instituição. É recomendável aposentar as válvulas e usar as chamadas "caixas acopladas” nos vasos sanitários, que reduzem tremendamente a demanda por água. Há equipamentos que liberam três litros de água por descarga, o que já assegura o asseio devido, sem riscos para a higiene. Em instituições espíritas que mantêm atividades como creches, orfanatos ou asilos, onde o uso regular de chuveiros elétricos onera sensivelmente os custos mensais de manutenção, vale a pena encomendar um orçamento para a instalação de coletores solares. São mais caros que os chuveiros elétricos, mas, dependendo da escala e do tamanho da conta de luz, a instalação dos coletores poderá ser compensada em dois ou três anos de uso. Depois é só comemorar o que se deixa de pagar para a concessionária de luz e destinar esses preciosos recursos para outros fins.
Promover a coleta seletiva de lixo é algo simples, fácil e requer um planejamento prévio que identifique o local adequado onde serão armazenados provisoriamente os recicláveis até a chegada de uma cooperativa ou da própria companhia de limpeza urbana que levará, enfim, esses materiais para o lugar certo. A reciclagem promove geração de emprego e renda e, via de regra, redução dos impactos ambientais, graças ao reaproveitamento dos recursos naturais. Em relação ao copinho plástico da água fluidificada – um resíduo abundante e, ao mesmo tempo, desinteressante para boa parte dos catadores – recomendamos que cada instituição verifique a conveniência de promover o uso de canequinhas ou garrafas trazidas pelos próprios frequentadores, ou a compra de copinhos de papel. Há ainda a opção de procurar no mercado alguém interessado em reciclar o plástico dos copinhos tradicionais.
Estimular o transporte solidário (caronas) entre voluntários e frequentadores, disponibilizar um bicicletário, adquirir móveis ou peças de madeira com certificado de origem para evitar o incentivo ao desmatamento ilegal da Amazônia são medidas igualmente simples e importantes para que não sejamos agentes da destruição e sim promotores da “vida em abundância”, tal qual nos ensinou o mestre Jesus.
Tudo o que foi descrito aqui está em absoluta sintonia com a lei de conservação, uma das leis morais apresentadas em "O Livro dos Espíritos". Se o planeta é morada transitória e o nosso corpo é perecível, isso não invalida o compromisso ético que temos em relação ao uso inteligente e sustentável dos recursos que, por empréstimo, nos são oferecidos em favor de nossa evolução. Façamos bom uso deles a partir das rotinas da casa espírita.
André Trigueiro é jornalista, apresentador do Jornal das Dez e editor do programa Cidades & Soluções, na Globonews.
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Ismael Gobbo | SP | Correio Fraterno | Março-abril | 2011 | In: www.mundosustentavel.com.br | Texto repassado pela USE-Jaú
12/04/2011
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