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Notícia

Pureza doutrinária — Uma questão essencial


PUREZA DOUTRINARIA: UMA QUESTÃO ESSENCIAL

Devemos urgentemente aprender o que é respeito em nosso movimento doutrinário

Roberto Lúcio Vieira de Souza

 

Em todos os tempos da história da humanidade, os grupos, reunidos em torno de um ideal ou conceito, ou pessoas presas às suas verdades, utilizaram-se de algum sofisma para atacarem ou defenderem os princípios aos quais creditam a tonalidade de verdade.

Homens, verdadeiros baluartes dos ideais mais nobres, foram assassinados, vilipendiados por outros, por defenderem suas verdades ou por assumirem ensinamentos que não interessavam a muitos.

O Cristianismo, desde os seus mais remotos tempos, também foi alvo de agressões, tanto da parte de seus inimigos quanto de seus adeptos. Os primeiros tentando-lhe apagar a luz, através de ataques, diminuindo-lhe o valor ou difamando-o, buscando afastar dele todos que necessitassem de suas fontes beneméritas. Os segundos introduzindo-lhe pseudos conceitos, ideias próprias, maculando-lhe as verdades, incutindo crenças das mais absurdas em seus seguidores desavisados.

Na busca de corrigir tais distorções e inverdades, as criaturas instigaram lutas e instituíram meios e normas aberrantes e desumanas; e isso tudo em nome do Cristo, o verdadeiro mensageiro do amor, sem conseguirem, até o momento, livrar o Cristianismo dessas deformidades, estimulando, sim, a guerra, o ódio e a cisão entre os seus seguidores.

O movimento espírita não estaria imune a essa situação, como já previa o seu grande codificador, o mestre Allan Kardec.

Mais uma vez, indivíduos e grupos assumem postura em defesa de um ideal. Dessa vez, o tema central é a pureza doutrinária.

Certamente, a defesa dos nobres princípios, que fazem do Espiritismo a doutrina consoladora, os quais explicam e cumprem as promessas do Cristo (João 14 e 16), é das tarefas mais elevadas, que nós os espíritas podemos realizar.

Cabe-nos, entretanto, avaliar dois pontos importantes que não podem ser esquecidos.

O primeiro é que o Espiritismo é uma doutrina de caráter evolucionista, como nos afirma Kardec, em diversos pontos de sua obra, aberta a novos ensinamentos, devendo estar condizente não só com o processo evolutivo das ciências e da filosofia, mas, acima de tudo, com a verdade, da qual somos simples admiradores, em busca de aprendizado, mas sem direito de considerar-nos, ainda, embaixadores legítimos. Esse fato por si só exige-nos cautela, evitando repetirmos atitudes do passado, onde o dogmatismo e o “achismo” advindos das classes dominantes levaram as instituições religiosas e filosóficas a cometerem atrocidades.

Por outro lado, para tomarmos atitudes de defensores do ideal superior precisamos dar mostras de ser dignos para tal. Nesse aspecto, sabemos que o elemento imutável e primordial da Doutrina Espírita é o seu caráter religioso, ou como preferem alguns, seu aspecto moral (o que na realidade é a mesma coisa). É a doutrina de amor, justiça e misericórdia, da qual seu verdadeiro representante é o Cristo Jesus, como afirma-nos categoricamente o Espírito de Verdade, na pergunta 625, de O Livro dos Espíritos.

Ora, para assumirmos uma postura desses ideais, precisamos tornar-nos discípulos de Jesus, buscarmos a autoridade moral, condizente com o objetivo. E isso só é possível se fizermos o que ele nos ensinou: “Vós sereis verdadeiramente meus discípulos se amardes uns aos outros”. Daí deduzimos que o passaporte para tomarmos tal posição encontra-se no exercício do amor, da benevolência para com todos e da fraternidade universal.

O que assistimos, entretanto, da parte daqueles que “defendem” a pureza doutrinária (até com as melhores das intenções) é um exercício de intolerância, de falta de fraternidade, de desrespeito e, infelizmente, até de falta de educação, quando não é a ironia e a hipocrisia que enfeitam os discursos de ataque e maledicência. Atitudes que, mais do que conseguirem clarear e auxiliar, denigrem a nossa Doutrina.

Precisamos, sim, de pureza doutrinária, mas, também, da liberdade de expressão de ideias, que fomente reflexões, sem as quais continuaremos distantes da fé racionada e do exercício de tolerância, que, certamente, aprimorará em muito aos nossos espíritos.

Mas necessitamos muito mais de homens renovados, dignos, capazes de respeitarem, de compreenderem, de aprenderem e até de admoestarem, porém, “com doçura nos lábios”, como nos ensina a “prece de Cáritas”.

Devemos urgentemente aprender o que é respeito, em nosso movimento doutrinário, de forma que ele não se perca. Respeitar, do verbo respeitare, res de coisa e peitare de peito, ou seja, coisas do peito, resposta do coração, sede dos sentimentos nobres de todas as criaturas. Abandonemos o hábito de responder com o nosso sistema-digestório, utilizando o vinagre da digestão e o fel da bile, fujamos da intolerância e da maledicência, da raiva e do exercício costumaz da rusga.

Aprendamos a adoçar o mundo, exterminando de vez o hábito infeliz de querer transformar o outro pela força, sem usar a disciplina primeiro para nos renovar.

Observando o trabalho dos voluntários, que coordenamos no Hospital Espírita “André Luiz”, ficamos a pensar: são mais de cento e cinquenta companheiros, pessoas simples, na maioria senhoras, que interrompem os seus afazeres para auxiliarem, da melhor forma, àqueles que ali se acham doentes e necessitados, os quais encontram naqueles amparo e ajuda, um pequeno e real exemplo do Cristo. Na sua maioria, buscam servir na tentativa de se transformarem em verdadeiros homens de bem, sem criarem, em momento algum, barreiras para a tarefa, por querelas ou digressões filosóficas. E vejo, do outro lado, nós outros a considerar-nos intelectuais da Doutrina, assumirmos, no exercício da defesa da verdade, posturas tão distantes do ideal do Cristo e chego à conclusão: REALMENTE, A PUREZA DOUTRINÁRIA É UMA QUESTÃO ESSENCIAL, mas como dizia o poeta, através da sua personagem o Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos".

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Dr. Roberto Lúcio Vieira de Souza é médico psiquiatra espírita, presidente do Hospital Espírita André Luiz de Belo Horizonte.

Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora
25/05/2011
 


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