MÉTODOS DE ENSINO DA LEITURA - ARTHUR JOVIANO
O Programa do Ensino em 1906, ao determinar Instruções específicas para aula de leitura, apresentou de que modo um novo método poderia ensinar a ler para que fossem atingidos os objetivos do ensino primário — combater o analfabetismo, ensinando um maior número de crianças a ler e a escrever. O texto do Programa de Leitura estava em consonância com o forte movimento em favor do método analítico da palavra, também conhecido como método da palavração ou método científico da palavra, o qual, “aliando o impulso affectivo e a analyse da fala, a concretização do ensino pela leitura palavrada, remetia, por sua vez, a uma concepção de ensino da língua fundada em determinadas idéias sobre criança e educação”. (MORTATTI, 2000, p.68) A criança, como centro do processo educativo, deveria ser respeitada em suas características e necessidades mediante a aplicação do novo método de ensino. Ela era referendada a todo o momento em que se defendia o novo método, estabelecendo-se relações entre as formas de ensinar e o desenvolvimento das capacidades infantis. Nessa perspectiva, estabeleceu-se, entre outras, uma relação entre a aprendizagem da leitura e da escrita com a oralidade e a ilustração, PARTINDO DO QUE A CRIANÇA JÁ CONHECIA, a palavra e o meio: “Em tal caso, a palavra escrita deverá despertar no menino grande interesse como representação da palavra falada, que é sua conhecida antiga”.(Firmino da Costa Pereira, diretor do Grupo Escolar de Lavras, 20/01/1908) Os métodos anteriores eram considerados pelos autores dos livros didáticos, que ensinavam pelo novo método, como “processos artificiais, mecânicos, sem naturalidade” e os analíticos como sendo aqueles “que a psicologia infantil está indicando como mais úteis e consentâneos ao desenvolvimento intelectual da criança”.(JOVIANO, 1922, p. I) Arthur Joviano se baseou em experiências científicas, principalmente dos psicólogos, o que no início do século dava credibilidade à informação, a fim de explicar que a aprendizagem da leitura e da escrita era ideal no primeiro ano da idade escolar, considerando que essas aprendizagens se prestavam vantajosamente nessa idade, na qual “mais intensa se manifestam as tendências para o brinquedo e para a coleção”. (Idem, p.IV)
Segundo o diretor do Grupo Escolar de Lavras, com o método da palavração se obtinha “admiráveis resultados para os alunos mais desenvolvidos” que, “em pouco mais de um semestre liam corretamente e entendiam qualquer trecho da Cartilha de Hilário [silabário], e com grande facilidade entraram a ler A Primeira Leitura de Joviano”. (PEREIRA, 20/01/1908) Compartilhando da mesma afirmação sobre a eficácia do método analítico, tanto o Programa do Ensino Primário (1906) quanto os prefácios dos livros adotados apresentavam a intenção de ajudar o professorado a compreender o método da palavra e se convencerem da cientificidade do mesmo, como aconteceu com o prefácio de Joviano. Esses livros adotados apresentavam as etapas da aprendizagem da leitura e da escrita de acordo com as etapas do desenvolvimento infantil e ajudavam a definir a graduação do ensino primário, prescrita para cada ano no Programa de Leitura (1906) em ordem crescente do 1º ao 4º, sendo que durante os 1º e 2º anos o alunado deveria “ter vencido todas as dificuldades mecânicas da leitura”. Nesses dois primeiros anos escolares seriam desenvolvidas a decodificação e a compreensão de textos pouco complexos, como eram aqueles existentes nos livros adotados para estas fases da graduação (...). O Programa do Ensino (1906) propunha para o primeiro semestre do 1º ano primário o ensino da leitura no quadro negro ao invés de usar as cartas do ABC, que adotava o método sintético da soletração, o qual se pretendia abolir. Com o método analítico da palavra, o alunado seria convidado a participar do processo de construção e reconstrução de palavras conhecidas por ele, para que as aquisições da leitura e da escrita fossem “produto do seu próprio esforço, cabedal preciosíssimo que ele observa, assimila e usa, tornando-se dia a dia mais familiarizado com os vocábulos novos que vai obtendo e com os elementos da sua construção” (JOVIANO, 1922, p. IV), conforme preconizava o ensino intuitivo. O termo novo, atribuído ao método analítico no Programa de Leitura, produzia a ideia de ruptura com o ensino passado e com todos os seus problemas, principalmente com o analfabetismo, contra o qual esse método serviria de arma, conforme os discursos que o valorizavam: “considerada em seu conjunto, não há dúvida, a reforma da instrução primária satisfaz uma das maiores necessidades do povo mineiro, isto é, a guerra ao analfabetismo”. (PEREIRA, 02/12/1908) O método analítico da palavra representava, então, uma gênese, uma inauguração que deveria romper com as referências metodológicas anteriores e os elogios presentes nos relatórios de diretores de grupos escolares reforçavam seu papel inovador: “As lições ou antes as noções de cousas que acompanham o progresso da leitura, trazem ao cérebro infantil um desenvolvimento gradual, que é, a meu ver, o lado mais atraente e proveitoso do processo, feição essa que o tornaria por si só muito superior aos até então adotados.” (José Rangel, diretor do Grupos Escolar de Juiz de Fora,14/02/1907)Contudo, a divulgação desse método no Brasil antecedeu à implementação dos grupos escolares em Minas (1906). A publicação e adoção do livro "Primeiras lições de coisas", de Norman Allisson Calkins, traduzido por Rui Barbosa em 1881, foram um forte contributo para a exposição do método no ensino brasileiro. Em defesa do método intuitivo, Calkins já afirmava que “o meio natural de ensinar as crianças uma língua é começar pelas unidades da linguagem, que são as palavras. A linguagem depende do pensamento; as palavras são símbolos de ideias”. (CALKINS, 1886, p.414)
Mesmo que desde sua publicação no Brasil o livro de Calkins fosse utilizado como manual de muitos professores e professoras, a implantação desse método não foi uma tarefa fácil: “Sem um livro, pois que SÓ MUITO MAIS TARDE APARECEU O EXCELENTE TRABALHO DO PROFESSOR ARTHUR JOVIANO, ONDE SE ENCONTRASSEM COMPENDIADAS, MEDIANTE SERIAÇÃO GRADATIVA AS LIÇÕES SISTEMATIZADAS, lutou o professorado com reais dificuldades para pôr em prática o processo de palavração. Esse processo requer do professor muito esforço e dedicação, inteligência e intuição pedagógica.” (RANGEL, 14/02/1907) Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Márcia Frota
04/07/2011
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