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Notícia

Karl Marx e as mesas girantes



Por Antonio Abdalla Baracat Filho
Professor de Filosofia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, mestre em Filosofia pela UFMG e doutorando em Educação pela UDE


Quem sabe pode muito; quem ama pode mais.
Chico Xavier
 
Na minha juventude, como milhares de jovens da minha geração, ingressei nas fileiras da luta contra o Regime Militar de 1964. Não penso que tenha feito a melhor opção, mas a opção que fiz foi determinada pela influência do meio social em que vivia, onde a proposta escatológica do comunismo marxista seduzia. Mas nem eu nem aqueles com quem compartilhava os ideais pseudorrevolucionários tínhamos suficiente consciência crítica para perceber o engodo de uma filosofia que tomava como fundamento os anseios da humanidade por justiça, na forma de igualdade social, mas não vacilava em sacrificar a liberdade e sequer cogitava o exercício da fraternidade.

Não fui um comunista qualquer, mas um organizador da rebeldia proletária e popular, atuando como dirigente do PRC – Partido Revolucionário Comunista, em que dividia a utopia política com personagens que ainda hoje são importantes na vida pública brasileira, como a candidata à Presidência da República, Marina Silva, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, o senador do Pará, José Nery, o deputado estadual de Minas, Rogério Correia, o deputado federal de São Paulo, José Genoíno, o deputado federal do Ceará, José Nobre, e centenas de outros militantes, quase todos hoje ocupando cargos na República, já que o PRC depois se dissolveu constituindo-se em tendência marxista do PT – Partido dos Trabalhadores.

Quando digo que não fui um comunista qualquer, não é apenas no sentido da atuação prática, que me rendeu a estreita vigilância do SNI – Serviço Nacional de Informações, da Polícia Federal e dos serviços de espionagem do Exército Brasileiro e da Polícia Militar de Minas Gerais, conforme relatórios que se encontram hoje depositados no Arquivo Nacional, cujas cópias possuo e estão disponíveis para consulta na Internet. Não fui um comunista qualquer porque, diferentemente da quase totalidade dos comunistas, li as obras o fundador desta filosofia materialista, o alemão Karl Marx, assim como as do seu parceiro Friedrich Engels e também a de vários de seus seguidores e intérpretes como Kautsky, Lênin, Trotsky, Stálin, Gramsci, Luckács, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, José Chasin e outros. Não apenas li as obras desses autores, como fiz fichamentos, comentários e resenhas.

Tempos atrás estava organizando o material que ainda guardo desse período, a fim de verificar se haveria alguma coisa útil para a minha atual pesquisa visando a redação da tese de doutorado, e me deparei com uma nota de rodapé que faz parte da mais expressiva obra de Karl Marx, “O Capital”, em que o erudito filósofo alemão fez notável estudo sobre o funcionamento o modo de produção capitalista. Essa nota de rodapé já deve ter sido comentada por outras pessoas, mas como não conheço qualquer outra referência a ela, pensei que seria interessante divulgá-lo:
 
“Depois da derrota das revoluções de 1848/49 começou na Europa um período de mais obscura política reacionária. Enquanto, nesse tempo, as rodas aristocráticas e também burguesas se entusiasmaram pelo Espiritismo, especialmente por fazer a mesa andar, desenvolveu-se na China um poderoso movimento antifeudal...”. (MARX, Karl Heinrich. O capital. São Paulo: Nova Cultural, 1988. v. I. p. 70. Grifos meus.)
 
Como explicou Sir Arthur Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes) em seu livro “História do Espiritismo”, a “invasão organizada dos espíritos”, que resultou na Codificação organizada por Allan Kardec, começou pelas ostensivas demonstrações da mediunidade de efeitos físicos, em que pessoas se reuniam, a partir de meados do século XIX, em todas as partes do planeta (inclusive a bordo de navios e nos salões sociais), para ver e dialogar com pequenas mesas de vime que se movimentavam respondendo perguntas frívolas, sem que qualquer força aparente as impulsionasse.

Marx, que criticou respeitosamente Aristóteles por ter se colocado diante da equação definidora do termo de equivalência do valor entre um saco de farinha e um cavalo – que o sábio grego considerou impossível estabelecer e Marx demonstrou cabalmente ser o trabalho, ou tempo socialmente necessário para a produção de cada uma das mercadorias –, foi até os umbrais da demonstração inequívoca da imortalidade, da ação dos espíritos sobre a matéria, e solenemente virou a costas.

Lamentável, pois com seu vigor intelectual Marx poderia ter dado grande ajuda a Allan Kardec, Camille Flamarion, Gabriel Dellane, León Denis, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Dias da Cruz e todos aqueles que se dedicaram inicialmente à restauração racional da causa do Evangelho entre o homens, único projeto seguro de um plausível horizonte para a emancipação humana.  
 
Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Antonio Abdalla Baracat Filho
11/11/2011
 


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