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Notícia

“Parnaso de além-túmulo”, psicografado por Chico Xavier em 1932, foi tema de dissertação de mestrado na Unicamp


 1. Por que escolheu o título A poesia transcendente de “Parnaso de além-túmulo” para a sua dissertação de mestrado? Em que ano?

 

R: A defesa ocorreu em 2001. O título do trabalho alude ao projeto de Parnaso de além-túmulo, cuja poesia se propõe a transcender os limites individuais do autor empírico, Chico Xavier.

 

2. O “Parnaso de além-túmulo” é o primeiro livro psicografado por Chico Xavier, em 1932. De que é composto esse livro?

 

É uma antologia poética psicografada que, em 1932, era composta por 60 poemas atribuídos a 14 autores. Ao longo de suas edições, o livro foi crescendo, até que, em 1955, estabilizou-se com 259 poemas atribuídos a 56 poetas brasileiros e portugueses. Entre esses, encontram-se nomes consagrados, como Fagundes Varela, Antonio Nobre, Júlio Diniz, Castro Alves, Olavo Bilac, etc.; nomes pouco conhecidos, como Cornélio Bastos, Alberico Lobo, Lucindo Filho, etc.; e mesmo poetas anônimos, como A. G., Alma Eros, Marta e “Um desconhecido”.

 

3. Em uma parte do trabalho, você identificou pontos em comum entre poemas psicografados por Chico Xavier e a obra de autores a quem são atribuídos. Quais foram os autores estudados?

 

Estudei os poemas que, no livro, foram atribuídos a cinco autores: os portugueses João de Deus, Antero de Quental e Guerra Junqueiro, e os brasileiros Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos. Como parâmetro, utilizei importantes estudos sobre esses poetas, a fim de verificar se particularidades descritas pelos críticos também fazem parte dos versos psicografados.

 

4. E o que você notou?

 

Percebi que, em grande medida, características formais e temáticas dos autores estudados também estão presentes nos versos mediúnicos. A constatação nos permite inferir: quem concebeu os poemas, além de possuir diversas habilidades poéticas, conhecia muito bem particularidades sutis daqueles autores, as quais foram apreendidas e explicitadas nos estudos críticos que utilizei na pesquisa.

 

5. Agora, conte-nos sobre a sua tese de doutorado. Qual é o título da tese e o ano de obtenção?

 

O título é O caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade. Foi defendida em junho deste ano e, como a dissertação, foi financiada pela Fapesp.

 

6. Quem foi Humberto de Campos?

 

Humberto de Campos (1886-1934), nascido no interior do Maranhão, foi um escritor de grande destaque no Brasil entre os anos 20 e 40. Autodidata, foi poeta, jornalista, cronista, contista, memorialista, crítico. Entre 1912 e 1934, morou no Rio de Janeiro, onde foi escritor por profissão; escrevia para diversos jornais do país e era um dos autores de maior sucesso naquela época. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, a partir de 1920. Em livros, sua obra tem cerca de 45 volumes, 11 deles sob o pseudônimo de Conselheiro XX. Poucas décadas após sua morte, Humberto de Campos foi caindo em esquecimento. Interessante notar que, por outro lado, o Humberto de Campos segundo Chico Xavier continua sendo lido e reeditado.

 

7. Narre-nos o caso Humberto de Campos, quando, em 1944, a sua viúva D. Catharina Vergolino de Campos e seus filhos entraram com uma ação judicial contra Chico Xavier e Federação Espírita Brasileira.

 

Quando, em 1935, Chico Xavier começou a atribuir textos a Humberto de Campos, este, como disse, era extremamente popular em todo o Brasil, ao passo que aquele era um jovem ainda pouco conhecido. Com a grande repercussão obtida por esses textos, o médium foi ganhando notoriedade também na imprensa não espírita. Essa exposição culminou em 1944, ano do “caso Humberto de Campos”, quando familiares do escritor processaram Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira. Por meio de uma ação declaratória, pediam que a Justiça decidisse se o autor dos cinco livros atribuídos ao “espírito de Humberto de Campos” – publicados pela FEB entre 1937 e 1943 – era ou não o próprio escritor maranhense, após sua morte. Se a resposta fosse sim, solicitavam direitos autorais; se fosse não, pediam punições aos responsáveis pelos livros. Para a grande imprensa, foi um prato cheio, mas, juridicamente, o pedido era absurdo. A ação, considerada sem cabimento, foi rejeitada pelo juiz. Ele argumentou: 1) ao morrer, o indivíduo deixa de ter direitos civis, e Humberto de Campos morrera em 1934; 2) os direitos autorais herdáveis se referem às obras do escritor produzidas antes de sua morte; 3) uma ação declaratória deve requerer a declaração de existência ou não de uma relação jurídica, e não a existência ou não de um fato. A família recorreu, mas, no mesmo ano, a Justiça reafirmou a impropriedade da ação. Uma consequência do processo, no entanto, foi a substituição do nome Humberto de Campos por Irmão X, em textos mediúnicos posteriores.

 

8. Algum membro da família admitiu a veracidade das mensagens do espírito Humberto de Campos?

 

A mãe do escritor tinha a convicção de que seu filho era o autor dos textos psicografados. Ela admirava Chico Xavier e se correspondia com ele. A viúva, ao contrário, não acreditava. Não encontrei informações sobre os filhos Henrique e Maria de Lourdes, mas o filho mais novo do casal, Humberto de Campos Filho, que em 1997 publicou o livro Irmão X, meu pai, acreditava que o espírito de seu pai era o autor dos textos que Chico Xavier psicografava. Campos Filho conheceu pessoalmente o médium em 1957.

 

9. Poderia nos dar um pequeno resumo da sua tese de doutorado?

 

Procurei entender o problema autoral dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X. Visto que houve tantas controvérsias com relação a esses livros, queria saber de que forma os textos mediúnicos se relacionam com a obra do escritor maranhense. Para isso, pesquisei Humberto de Campos e os referidos livros de Chico Xavier, além de muitas outras referências que se fizeram necessárias ao longo do trabalho. Entre os temas apresentados na tese, há um histórico da atribuição de autoria a Humberto de Campos e uma análise da representação do escritor após sua morte. Mostro que, em alguns textos psicografados, o autor arquitetou um notável diálogo intertextual com referências relacionadas a Humberto de Campos, entre as quais a obra do escritor e citações de autores brasileiros e estrangeiros que faziam parte do rol de leituras de Humberto de Campos.

 

10. Como ter acesso aos dois estudos?

 

Na Internet, ambos estão disponíveis na Biblioteca Digital da Unicamp:

http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000236698

http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000443434


(Nome completo: Alexandre Caroli Rocha | Naturalidade: Águas de Lindóia - SP | Formação acadêmica: Graduação em Letras; mestrado e doutorado em Teoria e História Literária – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)


Entrevista – RIE – 23/setembro/2008 | Enviado por Geraldo Lemos Neto - Vinha de Luz - Serviço Editorial
21/01/2010
 


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